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sexta-feira, 8 de julho de 2011

Fim dos incentivos nos EUA ameaça rali do ouro

Fim dos incentivos nos EUA ameaça rali do ouro
O fim do programa emergencial de expansão monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) não deverá afetar, pelo menos por enquanto, o rali do ouro, que já dura dez anos. Mas o metal precioso poderá enfrentar um caminho mais difícil à medida que o dinheiro que alimentou sua escalada for secando.Os gestores de recursos vêm citando a ameaça de deflação, o crescimento mais lento, a reação do dólar e a própria sobrevalorização como algumas das causas da falta de clareza sobre o papel do ouro como "porto seguro". No passado, o valor do metal tendia a subir em períodos de crise econômica. Mas desde a recessão global o ouro vem se beneficiando de uma série de medidas de estímulo dos bancos centrais para incentivar o crescimento.O preço do ouro mais que dobrou desde o ponto mais baixo registrado em 2008, no auge da crise econômica, e apresenta uma valorização de 20% desde que o presidente do Fed, Ben Bernanke, fez um pronunciamento em agosto do ano passado que marcou o início da segunda rodada de afrouxamento quantitativo ("quantitative easing"). Mas recentemente o Fed encerrou o programa de compra de "treasuries" no valor US$ 600 bilhões, porque a injeção de recursos no sistema monetário efetivamente reduziu as taxas de juros nos Estados Unidos. "Mesmo com o fim do afrouxamento quantitativo, não há possibilidade de o Fed aumentar os juros no curto prazo, e o ouro historicamente sempre se saiu muito bem em ambientes de juros negativos", diz Bob Haber, diretor de investimentos da Haber Trilix, que administra US$ 2 bilhões em ativos e gerencia fundos hedge americanos e canadenses.Bernanke ainda não forneceu pistas sobre outro programa de afrouxamento monetário ("QE3"). O Fed não deverá apertar sua política monetária no curto prazo, mas o ouro deverá ter valorização se o banco central americano reintroduzir estímulos adicionais ao mercado para incentivar o crescimento dos empregos. "A noção de um 'QE3' é de mais liquidez, o que provavelmente não seria bom para o dólar, além de um risco de inflação maior", diz Mark Luschini, principal estrategista de investimentos da corretora de valores Janney Montgomery Scott. "Manter isso fora da mesa pelo menos por enquanto, já seria suficiente para obviamente prejudicar muito os preços do ouro", afirma. A Janney administra US$ 54 bilhões em ativos.O dólar forte prejudica a condição do ouro de moeda alternativa. A maior parte das commodities, incluindo o petróleo e o ouro, é denominada em dólar, que continua sendo a moeda de reserva global, apesar das perspectivas incertas em relação ao crescimento econômico dos Estados Unidos e das tensões políticas que estão envolvendo o aumento do limite de endividamento da maior economia do mundo.A maioria dos investidores vê o fortalecimento do dólar como um limitador dos ganhos do ouro. "Se os ativos de risco caírem e as pessoas evitarem o dólar, então o ouro vai decolar. Mas não vejo isso acontecendo", afirma Jeffrey Sherman, gerente de portfólio de commodities da DoubleLine Capital, que administra US$ 12,5 bilhões.Sherman diz que a ameaça de deflação, em parte criada pela crise da dívida na Europa, deverá empurrar os investidores para os títulos do Tesouro dos EUA e para o dólar, enfraquecendo o metal. "O ouro é de certa forma um porto seguro, mas isso somente quando você está preocupado com as pressões inflacionárias", afirma ele.O preço do metal precioso, que já registra dez anos consecutivos de ganhos, aumentou cinco vezes em relação aos US$ 250 a onça (31,1 gramas) registrados em 2001. Ajustado à inflação, o preço mais alto alcançado pelo ouro ultrapassou os US$ 2.200 a onça em 1980. O rali do ouro parece que deu uma parada no fim do segundo trimestre, mas o metal ainda assim subiu de 4% num trimestre em que o índice Reuters-Jefferies CRB de 19 commodities caiu 6%.Jason Pride, diretor de estratégias de investimento da Glenmede, uma administradora de fortunas com US$ 20 bilhões em ativos, diz que a valorização extrema do ouro está atrapalhando sua capacidade de se valorizar ou seu papel como porto seguro entre os investimentos. "Chegamos num ponto em que o valor do ouro leva os investidores a tentar proteger suas carteiras simplesmente sob o ângulo da valorização", diz Pride.O ouro deverá continuar oferecendo certa proteção contra a deflação e o risco de "defaults" soberanos devido ao seu papel único de veículos monetário global, mas sua valorização excessiva deverá retardar constantemente os preços, diz Price. "Com o ouro não tendo dividendos nem lucro, é como se fosse uma reação visual ao que você acha que será a direção do ouro em relação a qualquer coisa", diz Luschini, da Janney. "Não há realmente nada para onde você possa apontar do ponto de vista dos fundamentos, que diga que o ouro deveria valer X ou Y", afirma ele. Responder Encaminhar Convidar NetcaféBR para bater papo

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