Muito pessimismo para pouca novidade
Junho começa de cara fechada nos mercados globais. Nada de muito novo foi
apresentado na quarta-feira, mas os indicadores financeiros pioram.
Os temas são os mesmos: menor crescimento da China, dados ruins nos Estados
Unidos e desconfiança com a capacidade de financiamento da Grécia e outros
pares europeus.
Acontece que ao contrário da terça-feira, quando o ambiente foi exatamente o
mesmo, no pregão de ontem esse quadro ditou o rumo dos mercados, ou serviu como
melhor explicação.
As bolsas americanas afundaram mais de 2%, e o petróleo também perdeu mais de
2%, mas ainda defendeu a linha dos US$ 100. No câmbio, o dólar ganhou valor,
mais por aversão ao risco do que porque qualquer outra coisa, enquanto o euro
devolveu parte dos ganhos recentes.
Para alguns operadores, tal comportamento do mercado tem cara de ajuste pós bom
humor de fim de mês. Todo fim de período, quem trabalha com cotas de fechamento
se mobilizada para melhorar o valor delas, afinal de contas sua remuneração
depende disso.
Nova Ptax deve impedir distorção do câmbio no fim de mês
O fato é que os dados sobre a atividade nos Estados Unidos e outros países vão
continuar apontando para baixo. E a crise de endividamento na Europa não tem
solução fácil.
Dentro de um ambiente de tamanha incerteza, os volumes negociados caem e a
volatilidade sobe, criando um cenário perfeito para aumento da oscilação de
humor entre pânico e euforia se não dentro do mesmo pregão em intervalos de
poucos dias.
Servindo de ilustração à falta de esperança de ontem, a taxa de retorno dos
títulos de 10 anos do Tesouro dos Estados Unidos caiu abaixo de 3%, menor
leitura desde dezembro do ano passado.
Essa queda nas taxas americanas, que denotam menor otimismo e crescimento da
atividade, teve alguma influência na curva local, que voltou a perder prêmio de
risco.
A percepção nas mesas é de que o cenário traçado pelo Banco Central (BC) ganha
força. Além da redução da inflação em ambiente doméstico, a menor atividade nos
EUA, Europa e China tira ímpeto de alta das commodities, item que respondeu por
boa parte da inflação recente. Fica a dúvida quanto à resistência da inflação
de serviços no mercado local.
Olhando os contratos de juros de curto prazo, a curva seguiu sem grande
alteração. As duas altas de 0,25 ponto percentual na Selic continuam no preço,
mas também há apostas de apenas mais um aperto.
Tal discussão deve continuar ganhando corpo conforme nos aproximarmos da
reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), agendada para a próxima
semana.
Mudando o foco para o câmbio local, findo o período de formação da Ptax (média
das cotações ponderada pelo volume), que contou com clara vitória do vendidos,
o mês começou com ares de ajuste técnico.
E esse movimento comprador ganhou força conforme cresceu a aversão ao risco no
ambiente externo. Uma boa medida do "medo do mercado" é o VIX, que mede a
volatilidade das opções no mercado americano, e disparou 18,45%, para 18,30
pontos.
Por aqui, o dólar comercial subiu 1,01%, e fechou a R$ 1,596 na venda.
Já no mercado futuro, o contrato para junho subia 0,78%, a R$ 1,604, antes do
ajuste final.
Nas mesas, a percepção é de que o dólar pode entrar em canal de alta, mirando o
R$ 1,63/R$ 1,64 testado no mês passado, para voltar a devolver toda a alta no
fim do mês.
Tal avaliação ganhará respaldo conforme o posicionamento dos agentes no mercado
futuro. Se a posição vendida dos estrangeiros seguir próxima dos US$ 18 bilhões
atuais, certamente a misteriosa pressão de baixa de fim de mês será vista agora
em junho.
Vale lembrar que este será o último mês no qual a Ptax será calculada como uma
média ponderada. Não é segredo para ninguém no mercado que todo o fim de mês os
agentes se articulam para manipular a formação dessa taxa da forma que lhes
convêm.
Por isso mesmo, o cálculo da Ptax será alterado em julho. A taxa será uma média
aritmética de quatro consultas feitas pelo BC entre 10 horas e 13 horas.
Dessa forma, pretende-se uma taxa mais transparente e que permitirá a
liquidação de operações mais cedo no dia. No modelo atual, a Ptax é divulgada
no fim do pregão, e, a partir de julho, sairá pouco depois das 13 horas.
Esse novo modelo também poderá gerar uma concentração de operações no período
da manhã. Outra crítica é que essa formação de taxa pode perder
representatividade, já que muitos estrangeiros só começam a operar após as 13
horas em função de fuso horário e outras questões práticas.
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