Na última quinta e sexta-feira (24 e 25), cerca de 150 profissionais ligados à cadeia produtiva do café se reuniram em Poços de Caldas, para o tradicional encontro de integração entre os Grupos Técnicos em Cafeicultura (GTEC’s Café / Syngenta). Com ênfase na evolução do setor, a reunião objetivou a construção coletiva de um diagnóstico da cafeicultura, com a apresentação dos desafios, conquistas, do contexto atual da atividade e das percepções sobre a próxima safra nas principais regiões produtoras. Esse modelo é baseado na inteligência coletiva, onde um universo de pessoas pode fornecer informações mais próximas do contexto real do que a percepção individual de cada ator.
Quando integrados, representantes do GTEC Sul de Minas, GTEC Cerrados, GTEC Matas, GTEC Centro Oeste Paulista, GTEC Cooperativas e GQquality têm a capacidade de traçar um quadro ilustrativo da cafeicultura brasileira. Pesquisadores, extensionistas consultores e profissionais ligados às cooperativas apresentaram informações sobre a situação das lavouras, o impacto das floradas, problemas climáticos e fitossanitários, expectativa de novos plantios e renovação das lavouras, percentual de podas e expectativas de investimentos, produção e comercialização para a próxima safra.
De modo geral, todas as regiões apresentam boas condições das lavouras, bom pegamento de floradas, carga pendente média e estimativa de queda de produção de 20 a 25% comparada à safra 2010. Para 2012 a previsão é de safra alta, superior a 2010. Dentre os desafios apresentados, a escassez de mão-de-obra e a baixa qualificação dos trabalhadores foram abordadas por todas as regiões.
Na avaliação dos técnicos das 13 cooperativas representadas, que atendem a cerca de 600 mil hectares de café, os novos plantios deveram ocupar 18 mil hectares, além de 2% de renovação do atual parque cafeeiro. Este grupo destacou ainda o período de veranico de 20 dias ocorridos no final de janeiro a inicio de fevereiro, que poderá influenciar no desenvolvimento do fruto para 2011. Na avaliação destes profissionais, nas cooperativas maiores a porcentagem da safra 2011/2012 que já foi negociada gira em torno de 30%, e 15% nas cooperativas menores.
Troca de informações
Na programação do encontro de integração, houve espaço para apresentações e debates. Alexandre Mendonça de Barros, da MB Agro Associados, discorreu sobre o cenário macroeconômico das commodities; o reitor da Universidade Federal de Lavras (UFLA), Antônio Nazareno Mendes, apresentou um resgate histórico da cafeicultura no Brasil; Oscar Schaps, da Hencorp Futures – USA, destacou os fundamentos atuais do mercado mundial de café e a repercussão dos preços nas bolsas. Com foco na iniciativa da NUCOFFEE, Christian Wolthers, da W. America – USA, apresentou as tendências para as origens e demandas de cafés diferenciados no mundo.
O professor da UFLA, Flávio Meira Borém, destacou as linhas de pesquisa no Brasil voltadas para o crescimento no segmento da qualidade. Alexandra Katona, da Coffee Quality Institute (USA), fez um chamado aos provadores brasileiros credenciados sobre a atuação do Instituto. No Brasil, o Gquality é formado por 40 profissionais, todos Qgraders (provadores de café credenciados pelo Coffee Quality Institute), com representatividade nas principais regiões produtoras, com o objetivo de estabelecer uma rede que incentiva a produção de café de qualidade. Este grupo visa comunicar de forma eficiente com os técnicos da produção, favorecendo aos produtores a identificação da qualidade e a aproximação entre a oferta e a demanda dos países consumidores de café.
Diagnósticos regionais
O GETEC Sul de Minas também representa a região Mogiana do Estado de São Paulo. A cafeicultura de montanha predominante no Sul de Minas, região maior produtora, traz como desafio o aumento crescente dos custos de produção, sobretudo de manejo e colheita. Para amenizar esta limitação, as pesquisas devem estar focadas em novas tecnologias de aplicação de defensivos e para aperfeiçoar a colheita. Para estas regiões, a substituição de lavouras antigas também é um desafio premente, sobretudo, para adoção de espaçamentos mais adensados ou adequados para mecanização. Para a Mogiana, a queda de safra comparada a 2010 deverá ser ao redor de 50%. Representantes destas regiões sinalizam uma tendência para grande investimento em maquinário para colheita e beneficiamento. Para eles, entre 15 a 20% da safra 2011/2012 já foi negociada. Para este ano, houve baixa renovação das lavouras e novos plantios devem ficar em torno de 3% do parque cafeeiro. Sobre os desafios para o futuro, esta região deverá driblar o alto custo de produção, a dificuldade de mão-de-obra qualificada, o cumprimento da legislação trabalhista, o levantamento real do parque cafeeiro e a convivência com nematóides que começam a preocupar os produtores.
A região de abrangência do GETEC Cerrados apresenta lavouras vigorosas e carga pendente moderada. O bicho-mineiro e a broca continuam nesta safra como grandes problemas, assim como o ataque de cercóspora e ataques de ácaros. A ocorrência de chuvas em março dificulta as pulverizações. Nesta região foram produzidas e comercializadas 27 milhões de mudas, sendo 80% para renovação e 20% para aumento da área de cultivo, o que equivale a uma área de 5500 ha. No aspecto qualitativo, que é o foco desta região demarcada com indicação de procedência (IG), além dos investimentos em infra-estrutura, existe incentivo para a melhor capacitação de pessoal para o pós-colheita. Para a comercialização, cooperativas e corretores se empenham para um acompanhamento mais próximo aos produtores, com vendas antecipadas através de CPR e fixação de preços em contratos futuros e trocas por produto. Mesmo com a cotação do café em alta, revelam que entre 5 a 10% da safra 2011/12 já foi negociada.
GTEC Matas (engloba Matas de Minas, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Norte de Minas) – Entre os desafios desta região, destacam-se a topografia acidentada, alta dependência e escassez de mão-de-obra, uso indiscriminado de insumos, falta de infraestrutura e de identificação da qualidade e necessidade de fortalecer a identidade regional. As últimas conquistas têm sido direcionadas para o maior aproveitamento de áreas mecanizáveis, criação de novas cooperativas e valorização da qualidade em concursos nacionais. Para os representantes desta região, para este ano houve a renovação aproximada de seis mil hectares. O aumento de áreas de café foi insignificante, porém, existe tendência de crescimento de 5% da área no próximo ano. Para este grupo, baixa porcentagem da próxima safra foi negociada antecipadamente.
Para o Norte de Minas, nova fronteira da cafeicultura, existe a dificuldade de expansão em função de falta de logística e forte pressão de pragas e doenças. A vantagem desta área é a possibilidade de mecanização intensiva, adoção de tecnologia, proximidade com instituições públicas de ensino, oferta de mão-de-obra e clima favorável à produção de cafés de qualidade.
Para o GETEC Centro Oeste Paulista (engloba Sorocabana, Alta Paulista e Noroeste do Estado de São Paulo) o aumento de novas áreas de café deve ser em torno de 2% do parque atual, com 5% de renovação. Cerca de 5% da próxima safra, na avaliação deste grupo, já foi negociada. A ferrugem preocupa a região de Garça, e na região sudoeste a preocupação é com a Phoma. Em todo o Centro Oeste houve queda significativa de chumbinhos. Outras preocupações são com o endividamento dos produtores, falta de crédito e de assistência técnica para pequenos agricultores. A legislação ambiental também dificulta o investimento em irrigação, o que poderia representar significativo aumento na produtividade. Para os próximos anos, a região deverá focalizar na renovação dos cafezais e na melhoria da qualidade.
Polo de Excelência do Café
http://excelenciacafe.simi.org.br/
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