Estiagem atípica vai afetar o agronegócio do Brasil neste ano
A estiagem prolongada e atípica, registrada no início deste ano, vai afetar algumas culturas agrícolas que terão quebra de safra e de produção, avaliaram nesta segunda-feira (17), em entrevista, especialistas do setor, durante as comemorações dos 117 anos da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), no Rio de Janeiro.
O presidente do Conselho Superior do Agronegócio, da Federação das Indústrias de São Paulo (Cosag-Fiesp), João Sampaio, disse que esse é o caso da cana-de-açúcar, café, laranja, que deverão apresentar quebra.
“Mesmo a soja, que está indo muito bem, ainda, no Mato Grosso, nos estados onde a estiagem foi mais forte, como Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, vai quebrar um pouco da safra”. A expectativa, segundo explicou Sampaio, é que a chuva se torne regular a partir de agora e minimize os estragos. “Se a chuva não vier, pode ter um impacto grande na segunda safra de milho, porque com dificuldade de chuva, não se planta. Certamente, vai ter impacto”.
O presidente do Cosag-Fiesp não acredita, entretanto, que o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio venha a ser afetado. O que normalmente ocorre, quando há quebra de safra, disse ele, é que os preços sobem e a receita bruta do agronegócio pode não ser impactada. Ele explicou que “embora com produção menor, se os preços forem maiores, o PIB fica do mesmo tamanho. Mas, com certeza, afeta a renda do setor, porque, produzindo menos, mesmo que o preço seja maior, você tem um impacto nos seus custos e a rentabilidade fica prejudicada”.
O presidente da Sociedade Nacional da Agricultura (SNA), Antônio Alvarenga, se mostrou mais otimista. Ele acha que a estiagem comprometeu pouco a safra de grãos. “Poderia ser um pouco melhor, mas não chegou a comprometer”. No caso de culturas como café, ele acha que essa perda é muito limitada ainda.
Alvarenga acrescentou que o PIB do agronegócio não vai sofrer grande problema, devido à estiagem. A entidade trabalha com a perspectiva de crescimento de 3,5% a 4% no PIB da agricultura brasileira este ano, superando o PIB do país, que ele estima ficar em torno de 2%. “A gente tem uma vantagem no agronegócio, porque, possivelmente, neste ano o dólar vai ficar bastante mais alto que o dólar médio do ano passado. Você vai ter um crescimento na renda dos produtores também em função do dólar. O PIB vai crescer também por isso”.
Ele destacou que com o dólar apresentando variação, para cima e para baixo, em função das pesquisas eleitorais, o agricultor tem que estar preparado para aproveitar e saber vender bem o seu produto. Lembrou que a atividade agrícola está sujeita a pragas, ao câmbio e a fatores climáticos, além da flutuação natural das commodities (produtos agrícolas e minerais com cotação internacional).
O diretor técnico da SNA, Hélio Sirimarco, destacou que a possibilidade de redução, em torno de 2 milhões de toneladas na safra de soja, ocorrerá mais em função da queda de produtividade. Mas admite que a estiagem também afetou a produção de milho da primeira safra, e que a segunda safra também deve ser menor. “Mas, por enquanto, nada sério”. Disse, porém, que se a estiagem continuar, vai afetar um pouco mais. “O Rio Grande do Sul, por exemplo, que planta por último, pode vir a ser afetado”. Segundo ele, a estiagem afetou a agricultura nacional, “mas nada dramático, por enquanto”. As culturas que estão sofrendo mais são café e laranja. “Aí, o impacto está mais forte”.
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