Teste dos bancos europeus falha em recuperar a confiança
Em mais uma tentativa de reconquistar a confiança e acalmar os mercados, as autoridades europeias divulgaram, na semana passada, os resultados do mais recente teste de estresse a que foram submetidos os bancos da região. A solidez dos bancos e sua capacidade de absorver perdas em caso de calote é importante indicador da saúde de um país ou uma região. Isso explica o destaque que as autoridades europeias deram ao teste. No caso dos bancos europeus, porém, o tiro pode ter saído pela culatra.Para começar, os testes aplicados pela European Banking Authority (EBA) foram considerados fracos. Os testes buscaram avaliar se os bancos examinados tinham capital suficiente para suportar uma série de eventos negativos e ainda assim manter em 5% dos ativos ponderados pelo risco o capital de nível 1 - capital de melhor qualidade, geralmente constituído apenas por ações com direito a voto, chamado de "tier one".No teste europeu, foi avaliado o impacto nos bancos de uma recessão de 0,5% na economia da zona do euro, da queda de 15% do mercado acionário e de uma perda de 20% a 25% no valor do título grego de dez anos. Os testes foram considerados superficiais, porém, porque a experiência mostra que a realidade pode ser bem pior. No auge da crise, a contração na economia da zona do euro foi dez vezes maior. Além disso, o mercado já espera uma perda de 40% a 50% nos papéis gregos. Na realidade, houve quem defendesse que o teste calculasse o impacto de um eventual calote total grego, considerado bastante provável pelo mercado de "credit default swaps" (CDS). Segundo a EBA, os bancos europeus tinham em carteira € 100 bilhões em títulos gregos, em dezembro, dos quais 67% em poder de instituições gregas, e mais € 100 bilhões em papéis da Irlanda e de Portugal. A dívida pública grega é equivalente a 142,8% do Produto Interno Bruto (PIB) do país; a da Irlanda, a 96,2%; e a de Portugal, a O mercado logo se lembrou do fiasco do teste de 2010, quando a EBA não existia, que estimou em apenas € 3,5 bilhões a necessidade de capital dos bancos europeus e aprovou todos os irlandeses, que quebraram alguns meses depois e tiveram de ser resgatados pelo governo.Apesar de considerados fracos, no entanto, os testes deste ano reprovaram 9 das 91 instituições examinadas de 21 países. Esses bancos, que ficariam com o capital de nível 1 abaixo de 5%, caso o pior cenário do teste se concretizasse, terão que reforçar o capital em € 2,5 bilhões (US$ 3,54 bilhões) até o fim do ano. Outros 16 também terão que tomar providências porque estão perigosamente perto do mínimo, com 5% a 6% após a simulação dos eventos em seus balançosOs resultados teriam sido piores não tivessem os bancos europeus elevado o capital antes dos testes. Os bancos europeus emitiram cerca de € 50 bilhões em ações e ainda retiveram igual quantia dos lucros, reforçando o capital em um total de quase € 100 bilhões. Não fosse isso, 20 bancos estariam desenquadrados, e o buraco no capital seria dez vezes maior, de € 26,8 bilhõeOs resultados de um teste de estresse podem variar terrivelmente conforme as hipóteses assumidas e esse é outro motivo para os mercados relativizarem a sinalização de tranquilidade dada pela EBA. Teste feito em março nos bancos europeus pela Standard & Poor's (S&P), pressupondo uma "recessão econômica severa" e "acentuado aumento no yield" dos títulos da zona do euro, concluiu que os bancos europeus precisavam de reforço de capital de nada menos do que € 250 bilhões.Outro motivo que enfraqueceu o impacto dos testes foi a reação de alguns países. Dos nove bancos reprovados, cinco são espanhóis, de pequeno porte, dois são gregos, um é austríaco e um é alemão. Teoricamente, os resultados do teste de estresse devem levar os reguladores de cada país a obrigar a instituição reprovada a se capitalizar com a emissão de ações, retenção de lucros e dividendos, venda de ativos e a reduzir a alavancagem. As autoridades da Espanha, porém, afirmaram que os bancos espanhóis reprovados não precisarão aumentar o capital porque têm outros instrumentos para absorver as perdas. E o banco alemão reprovado nem autorizou a divulgação de seus dados, alegando que a Alemanha aceita certos tipos de ações sem direito a voto como capital de boa qualidade. Afirmações como essas põem sob suspeita a eficiência e a validade dos testes de estresse. Até porque o problema da zona do euro não é exatamente esse. Se a situação continuar se deteriorando, os testes de estresse ficarão obsoletos rapidamente.
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