Desemprego persistente tira o ânimo dos EUA para acordos comerciais
Quase subjugada pelo furor do debate sobre o teto da dívida, uma outra disputa está em andamento no Congresso: a aprovação de três acordos de comércio bilateral EUA - com Coreia do Sul, Panamá e Colômbia -, que estão em banho-maria há quatro anos ou mais.Os horríveis dados sobre o mercado de trabalho nos EUA, que registraram um crescimento de apenas 18 mil empregos em junho, deram novo fervor a um debate feroz: acordos comerciais criam ou destroem empregos?A Câmara de Comércio dos EUA afirma que o acordo com a Coreia criará 280 mil empregos. A Casa Branca, mais modestamente, aposta em 70 mil vagas. O Instituto de Política Econômica, um think-tank de tendência esquerdista parcialmente financiado por sindicatos, diz que serão perdidos 159 mil empregos.Pesquisadores independentes e economistas acadêmicos tendem mais a prever aumentos de eficiência econômica em longo prazo, como resultado de um comércio mais livre, do que um número específico de empregos. "A maioria dos economistas sente-se muito desconfortável em assumir quaisquer dessas estimativas com algum grau de certeza", diz Doug Irwin, um dos estudiosos do mundo comercial mais importantes. Um recente relatório do apartidário Serviço de Pesquisa do Congresso também aconselha cautela: "Todos os modelos econômicos incorporam várias suposições. Invariavelmente, essas abordagens determinam, até certo ponto, os resultados que são gerados".O número da Câmara de Comércio baseia-se em tomar o aumento das exportações que a Comissão de Comércio Internacional prevê para o fluxo de negócios, e, então, usar estimativas do Departamento do Comércio de que cada US$ 181 mil de exportações geram um emprego americano.Mas críticos, como a Public Citizen, dizem que as estimativas são unilaterais. Todd Tucker, seu diretor de pesquisa, diz: "Esse exercício envolve tomar dois números produzidos por metodologias muito distintas e aplicá-los apenas às exportações, ignorando qualquer aumento nas importações. Realmente não é muito robusto".A maioria dos modelos examina apenas setores diretamente afetados da economia que conquistam novos mercados para exportações ou competem com importações. Economistas dizem que um dos principais benefícios do comércio é o aumento da eficiência e o barateamento de insumos e de bens de consumo em geral.As desconfianças em relação a grandes números remontam às afirmações grandiloquentes feitas quando do Acordo de Livre Comércio Norte Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), com o Canadá e o México, assinado pelo presidente Bill Clinton em 1993. "Bill Clinton disse que o Nafta criaria meio milhão de empregos americanos, Ross Perot [o candidato independente nas eleições presidenciais de 1992] disse que os EUA iriam perder meio milhão de empregos", diz Irwin. "A maioria dos economistas diria que, no fim das contas, não houve ganhos nem perdas."As afirmações, agora, são mais cuidadosamente calibradas: a estimativa do governo atual, de 70 mil postos de trabalho resultantes do acordo com a Coreia é bastante pequena em comparação com a tendência mensal de crescimento do emprego nos EUA - mais de 150 mil postos de trabalho.Ainda assim, pesquisas sugerem que os americanos revelam-se mais entusiasmados com o comércio em si do que os pactos comerciais. No ano passado, o Pew Research Center, uma organização independente de pesquisas de opinião pública, descobriu que a maioria dos americanos eram favoráveis a mais comércio com o Canadá, a UE, Japão, India, Brasil e México, e ficaram quase igualmente divididos quanto a mais comércio com a China. Mas apenas 35% dos americanos apoiaram acordos de comércio, o mais baixo percentual em uma pesquisa da Pew em 13 anos, e 55% opinaram que eles custam empregos aos EUA.Philip Levy, do think-tank American Enterprise Institute, diz que tais estimativas tornam-se ainda menos úteis à medida que o comércio mundial fica mais complexo, envolvendo mais do que manufaturados aos quais aplicam-se tarifas facilmente mensuráveis."O crescente foco em barreiras não tarifárias e regimes regulatórios domésticos [nos acordos de comércio] implica em que os exercícios de modelagem provavelmente ficarão menos precisos como o passar do tempo", disse Levy.
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