O mundo dos "hedge funds" e a obtenção de alfa e beta
Os "hedge funds" se difundiram nos Estados Unidos no início dos anos 90, como
alternativa à indústria de fundos passivos ("mutual funds") e com a proposta de
gerar "alfa" por meio, principalmente, de estratégias macro e de operações de
arbitragem.
A flexibilidade para assumir posições vendidas ("short"), ao contrário dos
fundos passivos, foi o que possibilitou a implementação dessas estratégias.
O conceito de "alfa" em fundos é semelhante ao do mercado acionário. Enquanto
no mercado de ações o "alfa" é o retorno do ativo não relacionado ao retorno do
mercado (ao contrário do "beta", que representa a medida de risco sistêmico),
nos fundos o "alfa" é o valor agregado ao retorno pelo gestor, ou seja, é a
medida da habilidade ("skill") do gestor.
Os "hedge funds" são geralmente caracterizados como veículos de investimento
que não são particularmente correlacionados com o mercado de títulos ou de
ações, visto que, teoricamente, um grande percentual de seus retornos são
obtidos por meio da geração de "alfa".
Artigo recentemente publicado no Financial Analysts Journal ("The ABCs of Hedge
Funds: Alphas, Betas, and Costs", Roger G. Innotson, Peng Chen, CFA, and Kevin
X. Zhu) analisou a performance de 6.169 "hedge funds" entre os anos de 1995 e
2009 e concluiu que em todos os anos, exceto 1998, houve geração positiva de
"alfa".
Mesmo durante a crise de 2008, os gestores produziram "alfa", embora neste ano
o agregado dos "hedge funds" tenha gerado retornos negativos (2008 e 1998 foram
os únicos anos com retornos negativos na amostra).
Vale a pena ressaltar que, na construção do banco de dados, os autores tomaram
o cuidado de eliminar problemas muito comuns nesse tipo de análise e que
criariam um viés ("bias") altista para a avaliação da performance dos fundos,
que são: o "survivorship bias" (quando a amostra só contém os fundos que
tiveram sucesso no período e não os fundos que foram encerrados provavelmente
por má performance) e o "backfill bias" (quando a amostra só contém fundos com
bom histórico e que somente por isso tiveram a sua rentabilidade divulgada
ex-post pelos gestores).
O estudo também mostra o crescimento exponencial da indústria de "hedge funds",
que passou de 530 fundos e US$ 50 bilhões sob gestão, em 1990, para mais de
8.000 fundos, totalizando US$ 1,6 trilhão em 2008.
No Brasil, os fundos equivalentes aos "hedge funds", embora com uma história
bem mais recente, seriam os fundos multimercados e suas diferentes categorias:
macro, multiestratégia, long/short, quantitativo e "trading".
As categorias macro e multiestratégia têm seus retornos compostos por "alfas" e
"betas", enquanto, de uma forma geral, as categorias long/short neutro (sem
componente direcional), quantitativos (baseados na análise de padrões do
comportamento dos preços) e "trading" (que buscam obter retornos por meio de
alocações táticas de curto prazo) seriam geradoras de puro "alfa", ou seja,
dependem quase que exclusivamente da habilidade do gestor.
Devido à sua pouca dependência do "beta" na obtenção de retornos positivos,
esses fundos têm papel fundamental na diversificação dos portfólios.
A classe de fundos long/short já é madura e bastante explorada pela indústria
de alocação de recursos, assim como a participação dos fundos quantitativos nos
portfólios teve um crescimento relevante nos últimos três anos. No entanto, a
categoria "trading", que é uma classe com participação importante no mercado
americano de "hedge funds", é pouco explorada no Brasil, com uma oferta pequena
desses fundos por parte dos gestores (representando somente 0,38% do patrimônio
líquido da indústria de multimercados, segundo dados da Anbima divulgados em
maio).
Vivemos um momento de grandes incertezas globais (endividamento dos países
desenvolvidos, alta da inflação nos países emergentes e crise econômica dos
países periféricos da zona do euro) e que, provavelmente, não serão
equacionadas no curto prazo.
Sendo assim, acredito que a classe de fundos multimercado "trading" terá um
papel importante na indústria de fundos nos próximos anos, pela sua natural
descorrelação com as demais classes de ativos e pela sua também natural
adequação a ambientes de mercado sem tendência, como atualmente.
Adriano Fontes é sócio da Oren Investimentos
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