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quinta-feira, 9 de junho de 2011

Commodities Agrícolas

Commodities Agrícolas

Teto em oito semanas.
Os contratos futuros do açúcar atingiram ontem seu maior
valor em oito semanas, mais uma vez impulsionados pela expectativa de escassez
do produto no Brasil, maior produtor do mundo. A agência Bloomberg informou
que, segundo a Raízen, joint venture entre Cosan e Shell, a produção no
Centro-Sul do país deverá totalizar 33 milhões de toneladas na safra atual, um
volume abaixo das expectativas. A Unica, entidade que representa as usinas,
trabalha com 34,6 milhões. "A produção no Brasil é a grande notícia do
momento", disse Jimmy Tintle, analista da Transworld Futures. No mercado
doméstico, o indicador Cepea/Esalq para a saca de 50 quilos do açúcar cristal
subiu 0,35% e alcançou R$ 53,90. No mês, há queda de 1,62%.

Produção americana.
As especulações de que o governo americano vai elevar a sua
projeção para a produção de laranja nos Estados Unidos fizeram a cotação da
commodity recuar pelo segundo dia consecutivo ontem na bolsa de Nova York. Os
contratos com entrega em setembro encerraram o dia a US$ 1,7795 por libra-peso,
recuo diário de 220 pontos. A expectativa é que a Flórida colha nesta safra 140
milhões de caixas de laranja. Se confirmado, seria um incremento de 4,7% em
relação ao ano anterior. O Estado americano é o segundo maior polo produtor de
laranjas do mundo, depois de São Paulo. Já no mercado doméstico, o indicador
Cepea/Esalq para a caixa com 40,8 quilos da laranja pêra in natura, para mesa,
ficou em R$ 12,60, com variação negativa de 2,02%.

No embalo do milho.
Puxados pelo movimento do milho, os futuros de soja também
subiram ontem na bolsa de Chicago. Os papéis com vencimento em agosto
encerraram o pregão com alta de 6,25 centavos de dólar com o bushel valendo US$
13,9425. Analistas ouvidos pela agência Dow Jones Newswires explicaram que a
expectativa de demanda maior para etanol nos EUA deram suporte ao milho. Os
produtores, dizem os especialistas, não param de comprar o grão a preços altos
para fazer o biocombustível. A produção de etanol subiu para 915 mil barris por
dia na semana passada, alta de 0,7% na comparação com a semana anterior e 9%
maior do que o realizado um ano antes. No mercado interno, a saca de 60 quilos
da oleaginosa fechou em alta de 0,76% em Primavera do Leste (MT), cotada a R$
39,80, segundo o Imea/Famato.

Demanda forte?.
Os contratos futuros do milho encerraram o pregão de ontem com
a maior alta em três semanas na bolsa de Chicago. A guinada se deu em virtude
das perspectivas de forte demanda par
a a produção americana de etanol, a serem confirmadas em relatório divulgado na
manhã de hoje pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). Os papéis para
setembro encerraram o dia a US$ 7,36 por bushel, com alta diária de 19,00
centavos de dólar. "A produção de etanol cresceu e os estoques caíram. Isso é
sinal de demanda", disse Jerrod Kitt, analista de mercado da Linn Group, em
entrevista à Bloomberg. No mercado doméstico, o indicador Esalq/BM&FBovespa
para a saca de 60 quilos do milho ficou em R$ 31,02, com alta de 0,49%. No mês,
o milho já acumula valorização de 4,09%.

Cotações da commodity caem em NY
A continuidade de um movimento de rolagem de posições resultou no quarto dia
seguido de queda dos contratos futuros de algodão com vencimentos mais próximos
ontem na bolsa de Nova York. Os papéis para entrega em julho registraram queda
de 2,4% e fecharam a US$ 1,4505 por libra-peso, ao passo que dezembro, novo
alvo das apostas dos investidores, subiu 0,2% e encerrou a sessão cotado a US$
1,3015.
Analistas destacaram que o mercado estava à espera da divulgação, na manhã de
hoje, do novo relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos
(USDA) com dados sobre oferta e demanda da commodity no país e no mundo. A
expectativa é que o órgão reduza a previsão para a produção americana por conta
de problemas climáticos.


Algodão puxa safra recorde de grãos no país
A cada mês que passa, as novas estimativas indicam que o país terá uma safra de grãos como poucas até agora. Para um crescimento de apenas 3,8% na área plantada, o volume produzido deverá subir 8,2%. Previsões de ontem da Conab indicam que o país obterá cerca de 161,5 milhões de toneladas.
Os dados do IBGE, também de ontem, apontam para um cenário semelhante, com a produção estimada em 161,2 milhões de toneladas em 2010/11. A anterior havia ficado em 149,3 milhões.
A boa evolução da safra começou com o avanço das principais culturas do país. Soja, milho e arroz, que representam 90% do total produzido, tiveram alta de 3,1% na área conjunta, mas aumento de 6,7% no volume.
O grande destaque do ano foi o algodão. Bons preços nos mercados externo e interno, os maiores em 140 anos, puxaram a área de plantio, que cresceu 66% neste ano em relação ao anterior. O resultado foi uma safra 74% maior.
A Conab prevê produções de 2,1 milhões de toneladas de algodão em pluma e de 3,2 milhões de algodão em caroço. O IBGE tem dados semelhantes aos da Conab.
Entre as três principais culturas do país, o arroz foi o que obteve a maior evolução da produção: mais 18% no ano. Soja veio a seguir, com alta de 9,2%, enquanto a colheita de milho deverá avançar apenas 1,3% em volume.
Os dados da Conab indicam que o país obteve produção recorde de 75 milhões de toneladas de soja. Já a de milho sobe de 56 milhões para apenas 56,7 milhões.
O fraco desempenho do milho foi porque os produtores apostaram mais na safrinha, reduzindo a área de plantio no verão.
A safra de trigo deverá atingir 5,4 milhões de toneladas, segundo o IBGE, volume que registra recuo de 11% em relação à produção de 2010.

O que conta
A produção de grãos do Brasil começa a se consolidar em regiões que antes eram apenas promessa. A produtividade da safra 2010/11 do Nordeste supera em 21% a de 2009/10. A do Norte cresce 8%.

Estável
O Centro-Oeste, que já obteve boa evolução nos últimos anos, mantém alta de 0,9%. A produtividade cresce 6,1% no Sul, mas cai 0,4% no Sudeste. Os dados são da Conab.

Combustíveis
A Raízen, empresa resultante da união Cosan-Shell, investiu R$ 20 milhões em um terminal de distribuição de combustíveis em Alto Taquari (MT). Localizado na fronteira de MT, GO e MS, o terminal pode armazenar 11 milhões de litros.

Escoamento
O terminal, que será inaugurado hoje, pode movimentar 1 milhão de litros por dia e terá integração rodoviária e ferroviária para facilitar a logística de escoamento de combustíveis e biocombustíveis para o Centro-Oeste.

Feijão
A área com feijão cresce 7,1% na safra 2010/11, e a produção sobe para 3,8 milhões de toneladas, 14% mais do que no ano passado. Os dados se referem às três safras acompanhadas pela Conab.

Recuperação
A soja voltou a superar US$ 14 por bushel ontem na Bolsa de Chicago, com alta de 0,54%. O milho, que liderou as altas na Bolsa, subiu 3,7%.




Brasil faz sua 1 ª colheita de algodão `verde`

O Brasil se prepara para colher a primeira safra de algodão seguindo os padrões
do "better cotton", que visam colocar no mercado fibras produzidas de acordo
com critérios de sustentabilidade. O projeto-piloto iniciado em quatro Estados
do país deverá gerar 42 mil toneladas - volume ínfimo diante da expectativa de
2 milhões de toneladas da fibra este ano. Mas é um começo.
De acordo com a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa),
responsável pela implementação do projeto no país, neste primeiro momento 10
grandes propriedades aderiram ao projeto - quatro em Mato Grosso, quatro em
Goiás e duas na Bahia - além de 37 produtores familiares em Minas Gerais,
totalizando 27 mil hectares.
"Começamos com poucos produtores, mas eles serão o fermento para outros
aderirem", explica Andréa Aragón, coordenadora de sustentabilidade da Abrapa.
Apesar de essas propriedades já terem passado pelo crivo de uma terceira parte
independente e, portanto, estarem aptas para colocar no mercado esse novo
algodão, a comercialização do BC só deverá ocorrer em 2011/12. Isso porque a
maioria da safra de algodão atual já está vendida.
Conhecido internacionalmente pela sigla BCI, de Better Cotton Initiative, a
ideia desse algodão foi concebida em 2006 pela organização não governamental de
mesmo nome que reúne entre seus membros produtores, indústria, traders e outras
ONGs. Atualmente ele é adotado no Brasil, Paquistão, Mali e India, com planos
de expansão para a China a partir do ano que vem - estratégia compreensível já
que o país é o maior produtor e consumidor mundial de algodão.
O BCI determina, por exemplo, a utilização de menos água e pesticidas no
plantio e implementa uma colheita rotativa que melhora a qualidade do solo.
Além disso, preza relações justas de trabalho e a preservação da natureza.
Parece pouco, mas em muitos países em desenvolvimento - onde está uma parte
considerável da produção global de algodão - essas recomendações passam longe
da realidade.
"Para o Brasil, atender as exigências foi fácil porque a legislação já nos
obriga a fazer tudo isso", diz Andréa, alegando que o país tem vantagem
competitiva em relação aos concorrentes.
Em 2010/11, a iniciativa global abrangeu 85 mil produtores da India, 50 mil do
Paquistão, 16 mil em Mali. A ideia é dobrar esse número para 2011/12. No
Brasil, foram apenas 10, mas tratam-se de grandes áreas. Por isso, o país é
considerado crucial para o sucesso do BCI. "Os outros países não conseguem
volume para atender a demanda", afirma Andréa.
"O Brasil certamente puxará esse movimento", diz o trader de algodão Marco
Antônio Aluísio, da Interagrícola, do grupo Ecom. Ele diz já ter recebido
telefonemas de Bangladesh e da China para encomendas, mas não pode atendê-las
já que a fibra que começa a ser colhida no Brasil está praticamente toda
contratada.
Segundo ele, a demanda tem aumentado porque os varejistas começam a exigir a
inclusão da matéria-prima na composição de seus produtos. A Adidas, por
exemplo, anunciou que até 2015 deverá usar algodão BC em 40% de sua produção.
Até 2018, a expectativa é que esse material seja usado em 100% dos produtos da
marca. Nike, Levi's e Ikea anunciaram medidas semelhantes.
Para a WWF Paquistão, parceira do projeto no país, a dificuldade de plantio do
algodão orgânico deve incentivar a migração das encomendas das empresas para o
BC. O orgânico não permite a aplicação de defensivos, e por isso é mais
suscetível a pragas.
Daniel Franciosi, produtor de algodão em Luis Eduardo Magalhães, no oeste da
Bahia, diz já ter sido sondado a respeito do BC. "Já teve algumas traders
interessadas em comprar da gente, mas eles ainda não querem pagar mais", conta.
Com 3,7 mil hectares plantados nesta safra - área de que deve repetir em
2011/12 - e uma média de 300 arrobas por hectare, ele espera receber um
diferencial pelo produto.
A questão também pode determinar o ritmo de adesão dos produtores.
Oficialmente, o programa BCI não defende o prêmio. O raciocínio é que a
sustentabilidade no campo será uma condição básica no comércio, e todos deverão
se adequar cedo ou tarde. "Daremos a garantia de compra", defende Aluísio, da
Interagrícola, sem mencionar que o mercado de algodão está altamente aquecido -
e, portanto, garantia de compra não é mais um benefício.
Nas fazendas, a situação é outra. Neste ano, as associações de produtores de
algodão estaduais se responsabilizaram pelos custos de verificação das
propriedades rurais, que chega a R$ 3 mil. Na próxima safra, os produtores
terão de pagar do próprio bolso.



Linha do BB em testes libera R$ 875 milhões

Em seus planos para ganhar espaço em todos os segmentos econômicos da cadeia do
agronegócio, o Banco do Brasil anunciou a criação de uma linha de crédito tanto
para agroindústrias fornecedoras quanto para compradoras de produtores rurais.
Em fase de teste nos últimos 60 dias, a linha "Flex Agro" já emprestou R$ 875
milhões para micro e pequenas empresas com negócios ligados ao setor rural até
agora. "Essa linha é uma forma de trazer ajuda indireta aos produtores e
fortalecer nossas operações na agroindústria. Detectamos uma demanda reprimida
muito forte", afirma o vice-presidente de Agronegócios e Micro e Pequenas
Empresas do Banco do Brasil, Osmar Dias.
Nos próximos dias, o banco projete superar R$ 1 bilhão em empréstimos nessa
modalidade. O atrativo principal da linha, além da forte disposição do banco em
alavancar esses créditos, está na taxa de juros próxima a 1% ao mês - no
mercado, essas taxas superam 2,5%. Isso é possível porque a fonte de recursos
da linha está dividida entre a poupança rural (com juros subsidiados) e os
recursos próprios do BB, emprestados a taxas livres.
A "Flex Agro" segue, segundo Osmar Dias, uma "política de Estado" de amparo a
empresas com até R$ 1 milhão de faturamento anual. Mesmo em pouco tempo de
operação, esses empréstimos já respondem por 2% da carteira total de crédito do
Banco do Brasil. Diante da boa repercussão, o vice-presidente do BB anuncia a
estratégia da instituição para esse novo nicho. "Vamos entrar com força para
elevar nossa participação nas micro e pequenas empresas e ser o principal
agente financeiro desse segmento", afirma Dias.
A agressividade do BB nessas operações justifica-se, afirma o executivo, pela
força das micro e pequenas empresas na economia, cujo peso nas variadas
atividades ligadas ao agronegócio também são relevantes. Ex-senador e duas
vezes secretário de Agricultura do Paraná, Osmar Dias defende que a decisão do
BB está lastreada na importância dessas agroindústrias.
"Queremos alavancar qualidade e quantidade da participação das micro e pequenas
na economia", diz. No total, as MPEs respondem, segundo ele, por mais de 80%
dos empregos no país, mas detêm apenas 21% do PIB nacional. "É um mercado ainda
reprimido", resume o diretor de Micro e Pequenas Empresas, Clênio Severio
Teribele.
A estratégia do BB no segmento é complementada por uma nova linha dedicada a
empresas fornecedoras de licitações públicas. A recém-criada linha "Flex
Fornecedor", ainda em fase experimental no banco, busca agregar à carteira de
clientes as micro e pequenas empresas ganhadoras de licitações com União,
Estados e municípios. Sem limites orçamentários, crédito mínimo de R$ 10 mil
por operação e prazo de pagamento atrelado ao contrato de fornecimento, a linha
pode atender, em tese, aos 16 Estados cujas folhas de pagamento são
administradas pelo BB.
"A linha otimiza os resultados porque o banco alcança esse público", afirma
Osmar Dias. Lançada na terça-feira, a "Flex Fornecedor" operava em testes em
São Paulo e Minas Gerais. "Está girando rápido, é impressionante. Em Tocantins,
por exemplo, já tivemos demanda logo no primeiro dia".




Brasil torna-se o 10º exportador de trigo

Além de segundo maior importador mundial de trigo, o Brasil passou também a
figurar na lista dos dez maiores exportadores do cereal, segundo levantamento
da Safras & Mercado. Os subsídios concedidos pelo governo brasileiro para a
comercialização do cereal e a saída da Rússia do mercado exportador em 2010
deram condição aos produtores brasileiros de acessarem o mercado externo. O
principal destino foi a África, com 69,5% do total dos embarques.
Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) compilados pela Safras
& Mercado, entre agosto de 2010 (início da safra brasileira do cereal) e maio
deste ano, o Brasil embarcou 2,4 milhões de toneladas de trigo ao exterior, um
volume recorde. Desse total, 1,17 milhão de toneladas foram embarcados com
subsídio governamental, via Prêmio para Escoamento da Produção (PEP).
Em torno de 700 mil toneladas entraram no mercado externo sem subsídio, destaca
Élcio Bento, da Safras & Mercado. "Com o mercado doméstico operando com
lentidão e preços em baixa se comparados aos do mercado internacional, o cereal
brasileiro passou a ser uma alternativa interessante aos compradores
internacionais", avaliou Bento.
Com sua forte quebra de safra, a Rússia teve que se retirar do mercado no ano
passado. Abriu, portanto, espaço aos produtores brasileiros, sobretudo os do
Rio Grande do Sul, que produzem trigo com características semelhantes às do
cereal russo, diz o analista. "No entanto, com a Rússia voltando neste ano,
pode ser mais complicado manter essa participação", avisa.
Em todo o agronegócio, a tendência é de aumento das exportações. Ontem, o
ministro da Agricultura, Wagner Rossi, anunciou embarques de US$ 81 bilhões no
período de doze meses entre maio do ano passado e abril deste ano. O desempenho
fez o ministro prever números recordes para este ano. "Como a safra continua
bem e a demanda internacional mantém-se firme este ano, esperamos superar, por
larga margem, os US$ 60 bilhões do ano passado", afirmou Rossi.




Nova rede de informações debate o campo

Para debater questões ligadas aos aspectos econômico, social e ambiental do
campo, será lançada hoje, em São Paulo, a RedeAgro, uma rede de conhecimento do
"agro" brasileiro que se propõe a disseminar informações e discutir os rumos do
setor. Coordenada pelo Instituto de Estudos de Comércio e Negociações
Internacionais (Icone), a partir de uma iniciativa de empresas e entidades
ligadas ao agronegócio, a rede pretende atuar a partir da produção de estudos,
pesquisas e artigos, "organizando e abrindo espaços para especialistas e
acadêmicos interessados nas temáticas do agro e fornecendo informação para
pesquisadores, estudantes, imprensa, sociedade civil e demais formadores de
opinião".
Conforme Andre Nassar, diretor geral do Icone, a rede terá foco técnico,
contará com a parceria do Programa de Estudos dos Negócios do sistema
Agroindustrial (PENSA/USP) e estará baseada em um site na internet com três
frentes básicas: informações/notícias, artigos assinados e "papers" técnicos de
colaboradores. "O plano é atrair um corpo forte de acadêmicos, daí a
importância da parceria com o PENSA". A rede não tem relação direta com a
iniciativa liderada pelo ex-ministro Roberto Rodrigues de criação de uma
campanha na mídia em defesa da imagem do agronegócio brasileiro. Mas são
projetos que podem ser considerados complementares.




Mais um ajuste para cima na safra recorde de grãos

Ainda há riscos climáticos para as lavouras de milho "safrinha" e de trigo, mas
os produtores brasileiros devem mesmo colher a maior safra da história neste
ciclo 2010/11, chegando a 161,5 milhões de toneladas.
A 9 projeção de safra, divulgada ontem pela Companhia Nacional de
Abastecimento (Conab), mostra um resultado 8,2% superior aos 149,3 milhões de
toneladas de 2009/10. A produção cresceu, segundo o estudo, embalada por uma
expressiva elevação de 4% na produtividade média das lavouras em todas as
regiões, sobretudo no Rio Grande do Sul, Goiás, Bahia, Maranhão e Rondônia.
A soja segue sendo a principal geradora de riqueza no campo. O grão responde
por 46,5% de toda a safra nacional, com 74,99 milhões de toneladas, quase 10%
acima da última safra. O milho fechou com 56,73 milhões de toneladas na safra
de verão, mas a safrinha deve apresentar perdas. Agora, a Conab estimou em 21,7
milhões de toneladas. Mas isso pode mudar.
Em Mato Grosso, há um recuo expressivo de 8,5% e a produtividade total no país
teve queda, até aqui, de 9%. Isso deixa em alerta as indústrias processadoras
de carne de frango e de suínos, que têm no milho o principal insumo.
"Perderemos três ou quatro milhões de toneladas", previu o diretor de Política
Agrícola da Conab, Silvio Porto. "Isso é porque temos trabalhado com
produtividades mais reais e conservadoras". Mas a expansão da produção no
Nordeste, disse ele, deve ajudar no balanço final.
A nova estimativa reacendeu a disputa de bastidores no governo pela
"paternidade" das projeções. Desde sempre, Conab e IBGE fazem todo mês uma
disputa, com dados conflitantes, para estabelecer quem tem mais influência
sobre as estatísticas. Ontem, porém, o ministro da Agricultura Wagner Rossi
deixou a política de boa vizinhança de lado e escancarou a briga, em defesa da
Conab. "Somos mais realistas e eles, mais conservadores". Rossi defendeu que o
IBGE faça um "quadro anual" para o registro estatístico nas contas nacionais. E
a Conab cuidaria da previsão a partir da realidade do campo.




Temer pede prazo à Rússia para que frigoríficos sanem problemas

O vice-presidente Michel Temer entrou na discussão sobre o embargo da Rússia a 89 frigoríficos brasileiros. Segundo o ministro Wagner Rossi (Agricultura), Temer pediu ao primeiro-ministro Vladimir Putin prorrogação do prazo para a suspensão das exportações de carne brasileira.
O prazo terminaria na semana que vem, mas o Brasil quer tempo para as indústrias poderem sanar falhas fitossanitários verificadas pelos russos.
Segundo Rossi, o governo se comprometeu a realizar uma auditoria em todas as indústrias embargadas pelos russos. Essa fiscalização deve começar na próxima semana.
O Brasil é um dos principais provedores de carne à Rússia, com 35% das importações de carne de porco e 45% da bovina. Em 2010, o Brasil exportou US$ 4,064 bilhões para a Rússia; desses, US$ 1,999 bilhão é em carne e derivados.
Segundo o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Francisco Jardim, uma missão brasileira irá à Rússia neste mês para apresentar um relatório e rebater os argumentos de Moscou.



Embargo russo foi `atropelo`, diz Rossi
Em meio à crise gerada pelo anunciado embargo russo às carnes brasileiras a
partir de 16 de junho, o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, elevou ontem o
tom da reclamação contra Moscou ao classificar a medida sanitária como
"atropelo" nas negociações bilaterais e fruto de "descompasso" na burocracia
das instituições do parceiro comercial.
Ao confirmar o envio de uma carta do vice-presidente Michel Temer ao
primeiro-ministro russo Vladimir Putin cobrando o cumprimento de um acordo
firmado em meados de maio, Rossi deixou de lado o tom diplomático usado após
reunião, na segunda-feira, com industriais exportadores de carne. "O relatório
atropelou o processo. Há um descompasso entre os órgãos lá [Rússia] e eles,
como não estão na OMC, têm regras muito próprias, algumas inaplicáveis. Não há
necessidade de fazer alguns exames [laboratoriais]", afirmou.
Em várias reuniões com Temer, os russos deixaram claro que esperavam uma
posição mais proativa do Brasil nas negociações para acesso da Rússia à
Organização Mundial do Comércio (OMC). E condicionaram a alteração no sistema
de cotas para as carnes ao auxílio brasileiro nas tratativas sobre a OMC.
Em seu desabafo em relação à conduta dos russos, que combinaram procedimentos
com Michel Temer em Moscou, mas resolveram aplicar sanções prévias contra o
Brasil, o ministro insinuou que o relatório da missão veterinária russa já
tinha sido decidido antes mesmo da chegada dos especialistas ao país.
"Houve uma circunstância peculiar. Alguns técnicos nossos informaram que o
relatório tinha um caráter pré-determinado", disse ele, ao lembrar que as
carnes significam 18% das vendas externas do agronegócio. "Agora, pedimos um
'waiver' [prazo] e espero que os russos aceitem porque vamos fazer uma
explicação detalhada lá".
O ministro Wagner Rossi anunciou o início de auditorias do Ministério da
Agricultura em todas as unidades exportadoras de carne e afirmou que tentará,
durante audiência com a presidente Dilma Rousseff, recursos adicionais para
elevar o orçamento "pequeníssimo" de atualização da rede de laboratórios
agropecuários.
Mesmo em tom mais duro com os russos, o ministro Rossi voltou a cobrar mais
ação interna no governo brasileiro e uma postura mais proativa dos
exportadores. "Nossa reunião não foi de flores, foi de trabalho. Não adianta
brigar, temos que fazer uma autocrítica. Cada um assumiu sua responsabilidade e
vamos retomar essas vendas", disse.
O ministro afirmou que o governo "não dotou os laboratórios" para atender às
exigências russas. "Mesmo que sejam absurdas", disse ele. Os russos chegaram a
apontar, em relatório, a ausência de testes para materiais radioativos nas
carnes brasileiras. Rossi disse que é "desagradável, não razoável" uma missão
estrangeira apontar "desconformidades" nos frigoríficos brasileiros. "Temos que
fazer a lição de casa e o setor produtivo, um pente fino nas instalações",
afirmou. "Não podemos usar como desculpa. Isso não nos isenta de cumprir todas
as exigências. E não adianta jogar a culpa nos outros", concluiu.



Embargo russo poderá causar sérios danos ao setor de carnes
JOSÉ VICENTE FERRAZ

No dia 2 deste mês, a Rússia anunciou embargo às exportações brasileiras de carnes provenientes de três Estados (Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso) e que atingiu 85 frigoríficos.
Com a importância que as exportações brasileiras de carnes alcançaram nos últimos anos -quando passaram a representar parcela muito considerável de toda a produção-, qualquer perturbação mais acentuada nas mesmas pode trazer sérios problemas ao setor.
É que, nesse caso, os volumes que seriam destinados ao exterior acabam sendo desviados para o mercado interno. Esse excesso de oferta acaba derrubando os preços.
É fato que os resultados das exportações -exceto para a carne bovina- ainda não podem ser considerados ruins. Entretanto, se o embargo russo for mantido por tempo considerável, infelizmente os resultados tendem a piorar.
A carne de frango é a que menos preocupa. As exportações ainda registram desempenho muito bom, mesmo que se considere que, em maio, o volume embarcado de carne "in natura", por dia útil, tenha recuado em relação ao de abril.
O embargo, inclusive para o Paraná, o Estado mais importante em termos de produção, prejudica, mas não é tão significativo, visto que as exportações para a Rússia são relativamente pequenas. No caso da carne bovina, a situação é mais complicada.
As exportações totais em volume declinaram em todos os meses de 2011 quando comparadas com os mesmos meses de 2010. Com isso, já acumulam queda de quase 20% neste ano em relação ao ano passado.
Ou seja, o desempenho já é negativo, e pode piorar, se observarmos que as condições de competitividade das exportações não devem melhorar no curto prazo e também que a Rússia é importante importador do produto brasileiro.
As exportações de carne suína, mesmo considerando a abertura do mercado chinês, que, entretanto, não se sabe ainda quanto trará de resultados concretos, geram preocupações quando o maior importador do produto (mais de 40% do total), a Rússia, cria dificuldades.
É evidente que o embargo pode ser revertido no curto prazo, o que, aliás, não é nada incomum no caso russo.
Mas já é uma das causas alegadas no mercado para a queda nos preços pagos aos produtores e, especulativa ou não, pode afetar negativamente o equilíbrio no mercado interno.
Num contexto em que fatores como câmbio, crise econômica de importadores, matérias-primas caras, entre outros, não favorecem nossas exportações, o embargo pode contribuir ainda mais para ameaçar a participação no mercado internacional duramente conquistada.

JOSÉ VICENTE FERRAZ é engenheiro-agrônomo e diretor técnico da Informa Economics FNP.




Justiça determina delimitação de área

O embate que há anos envolve madeireiros e indígenas da região de Nova Olinda
I, próxima a Santarém, no Pará, ganhou ontem novo elemento jurídico. A Justiça
Federal em Santarém determinou à Fundação Nacional do Indio (Funai) que
publique em até 30 dias o relatório de identificação e delimitação da Terra
Indígena Maró, localizada no rio Arapiuns. A região, que fica dentro de Nova
Olinda 1, tem sido palco de conflitos entre indígenas e madeireiros. Se
descumprir a ordem, a Funai fica sujeito a pagar uma multa diária.
Segundo Carolina Alves, assessora jurídica da organização de direitos humanos
Terra de Direitos, 81 famílias indígenas vivem na região. A área pretendida é
de 42 mil hectares, onde estão as aldeias de Novo Lugar, Cachoeira do Maró e
São José 3. Apesar da decisão da Justiça, Carolina acredita que a Funai deverá
recorrer da decisão, sob alegação de que o prazo é curto e de que não tem
estrutura para executar a demarcação.
A demarcação definitiva da área é aguardada desde 2004. A decisão da Justiça
foi motivada por ação movida pelo Ministério Público Federal em Santarém.
Carolina afirma que o cacique da aldeia de Novo Lugar, Dadá Borari, tem sido
alvo frequente de ameaças de morte por parte dos madeireiros. Atualmente,
Borari tem proteção policial oferecida pelo Programa Estadual de Proteção aos
Defensores de Direitos Humanos do Pará.
Em Brasília, o Congresso se movimenta para tentar barrar os atos de violência
que atingem a região. No Senado, uma comissão foi criada para investigar os
conflitos rurais. Os parlamentares deverão visitar os Estados do Pará,
Amazonas, Acre e Rondônia. Desde ontem, integrantes da Comissão de Direitos
Humanos e Minorias da Câmara realizam encontro em Belém para discutir o combate
à violência no campo. O objetivo é acompanhar as investigações dos crimes
contra ambientalistas e trabalhadores rurais.
Em Altamira, o governo federal promete uma ampla ação coordenada com empresas,
associações, sindicatos e prefeituras para aplacar riscos de conflito social.
Johaness Eck, líder do comitê gestor do plano de desenvolvimento para as áreas
atingidas por Belo Monte, diz que o governo está aberto a dialogar com todas as
etnias indígenas para debater Belo Monte.
"Nós reiteramos o compromisso de ouvir todas as partes. Há dois anos, quando
ocorreram consultas públicas em Altamira, todos os movimentos foram convidados,
mas alguns não quiseram vir. Então nós fomos até eles para conversar", diz Eck.




Preços do álcool caem e vendas se recuperam

Alta foi de 43% em maio, com 400 milhões de litros, segundo o Sindicom
Apesar do aumento em maio, vendas estão bem abaixo dos 430 mi de litros de março e dos 680 mi de fevereiro

Depois de registrarem em abril o menor volume desde outubro de 2006, as vendas de álcool voltaram a crescer no mês passado, embaladas pela queda nos preços do combustível.
Dados preliminares do Sindicato das Empresas Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom) mostram retomada das vendas nas últimas semanas, ao mesmo tempo em que a gasolina abriu espaço, e teve leve queda.
O Sindicom reúne as principais empresas do setor, entre elas BR Distribuidora, Cosan, Ipiranga e Shell. Juntas, representam 79% do mercado de combustíveis.
As vendas de álcool das associadas ao sindicato cresceram 43% em maio, chegando a 400 milhões de litros, ante 280 milhões em abril. Mas, em comparação a abril de 2010, houve queda de 60%.
Em abril deste ano, o combustível custava, em média, R$ 2,345 em todo o país. Em maio, caiu para R$ 2,117, de acordo com a ANP (Agência Nacional do Petróleo).
"As vendas de álcool chegaram ao fundo do poço em abril. A tendência de maio mostra que isso ficou para trás", afirmou o presidente do Sindicom, Alísio Vaz.
Ainda assim, as vendas estão abaixo de níveis observados em meses anteriores -em março foram vendidos 430 milhões de litros; em fevereiro, 680 milhões.
Vaz disse que ainda é cedo para prever se o álcool vai retomar os níveis de vendas anteriores. "O preço na usina se estabilizou, ainda não dá para dizer que o álcool vai voltar a todo o vapor."
Ao mesmo tempo em que a demanda por álcool caiu, as empresas do Sindicom registraram recorde histórico nas vendas de gasolina, com 2,4 bilhões de litros comercializados em abril.
Gasolina e álcool mais caros foram determinantes para o crescimento mais tímido nas vendas de todos os combustíveis no início deste ano. De janeiro a abril, houve alta de 3,1% ante igual período do ano passado, segundo a ANP (que reúne todo o mercado).
Em 2010, o mercado de combustíveis havia apresentado expansão de 9,3% no primeiro trimestre, também na comparação com o ano anterior.
Para todo o ano de 2011, o Sindicom projeta crescimento em torno de 5% para o mercado de combustíveis. No ano passado, as vendas no país subiram 8,7%.

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