Icap vê Brasil e China como prioridades na estratégia mundial
Inflação, instabilidade no mercado brasileiro e mudanças na política monetária
nacional, nada disso assusta a maior corretora do mundo, a britânica Icap, que
chegou ao Brasil há cerca de dois anos e meio e aposta suas fichas na
continuidade do crescimento estável do país, uma das duas prioridades da
instituição no mundo. A avaliação é de Michael Spencer, presidente mundial da
corretora e que visita o país pela primeira vez. Ele falou com exclusividade ao
Valor.
A operação no Brasil ainda não é lucrativa, e Spencer não revela o prazo
esperado para que o resultado comece a se inverter. No entanto, informa que o
principal foco das operações internacionais da corretora está na China e no
Brasil. "Estamos de olho nos mercados emergentes".
No entanto, ele destaca que só o Brasil terá a operação com pessoa física. No
restante do mundo, os negócios da Icap são com grandes investidores
institucionais, como fundos de pensão. A corretora é uma das maiores do mundo
em transações eletrônicas. "Quando compramos a corretora no Brasil, ela já
realizava as operações de varejo, mantivemos o negócio e estamos estudando seu
resultado", explica Spencer.
Fundada em 1986, a Icap, chegou ao Brasil em 2008 depois de adquirir a
corretora local Arkhe, por US$ 17 milhões. E decidiu se instalar no Rio de
Janeiro, na contramão de todo o mercado financeiro, que nos últimos anos,
abandonou a cidade e migrou para São Paulo. "Viemos para cá antes da notícia da
realização da Olimpíada porque já acreditávamos que o Rio seria um centro
econômico importante", afirma Spencer, que participa da Rio Investor Day.
A corretora minimiza os problemas com a inflação, que têm afastado muitos
investidores estrangeiros da bolsa brasileira. "Os motivos para a inflação no
Brasil são positivos, se é que podemos considerar inflação positiva", diz Alan
Gandelman, diretor-executivo da Icap no Brasil. Os salários estão aumentando,
as pessoas estão comprando, por isso há inflação, afirma. "Se olharmos India,
com inflação de 9%, China, com 5%, e até a Alemanha com 4%, os motivos aqui são
bem diferentes", compara.
O executivo diz que o governo está aplicando as medidas corretas para proteger
o país e que a instabilidade atual é normal e passageira. "A tendência no
Brasil é de crescimento sustentável". O único temor do executivo é de que a
memória inflacionária faça que pequenos empresários reajustem seus preços pelo
passado. "Mas não há fundamentos para que a inflação retorne a níveis elevados".
Para Gandelman, mesmo que o Brasil aumente as barreiras para os investimentos
estrangeiros especulativos no mercado financeiro brasileiro, a corretora
crescerá. "De qualquer forma, nosso negócio é tanto para compra, quanto para a
venda". afirma.
Ele diz não temer a atual redução de investidores no mercado (em abril, houve a
quarta queda consecutiva da participação das pessoas físicas, de 22,62% em
março para 21,16%). "Isto também é passageiro, devido ao atual momento de
incertezas".
Segundo Gandelman, a corretora atua em duas frentes para aumentar seu portfólio
de investidores: ganhar mercado tirando clientes da concorrência e
principalmente tentando atrair novos investidores com educação financeira. "A
bolsa é um investimento de longo prazo para todos, hoje são 600 mil
investidores, mas existem cinco milhões em potencial, segundo dados da Bovespa".
Questionado se não teme que ingerências governamentais sobre as companhias,
assim como sobre os fundos de pensões, possam atrapalhar seus negócios,
Gandelman acrescenta que sua intenção principal não é apenas fazer negócios com
a Petrobras ou a Vale, mas também com as mais variadas empresas do mercado.
"São muitas as companhias que se instalam aqui no Rio para prestar serviços
para estas grandes empresas", diz.
O executivo, no entanto, faz questão de ressaltar que tanto o escritório do Rio
quanto o de São Paulo têm a mesma importância. Ao todo, hoje, a empresa conta
com 2.600 funcionários no país. Desde que se instalou no Brasil, a Icap já
atingiu o terceiro lugar no ranking geral das corretoras da bolsa, segundo
Gandelman.
"Na BMF estamos em segundo, na Bovespa em oitavo, em home broker, em sétimo, em
bonds variando entre primeiro e segundo, e em commodities somos os primeiros",
diz. A estratégia inicial foi agressiva, uma campanha a lá Casas Bahia: você
paga quanto quiser de corretagem. "Hoje não somos nem a mais cara, nem a mais
barata, crescemos aqui porque somos a maior corretora do mundo".
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