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terça-feira, 31 de maio de 2011

Agricultura corporativa` ganha espaço no país

`Agricultura corporativa` ganha espaço no país

Não é de hoje que os mercados de terra e de produção agrícola em geral
atravessam um processo de concentração no país. Nos últimos anos, porém, esse
movimentou ganhou uma nova roupagem e agentes diferentes. Agricultores
tradicionais, incluindo os de grande porte, passaram a conviver com
concorrentes nacionais e estrangeiros fincados desde a origem em pilares
corporativos e discursos baseados em profissionalização, governança,
sustentabilidade e retorno do capital.
Alguns desses "players" não têm vínculos diretos anteriores com o campo,
enquanto outros vêm de segmentos próximos. Mas todos estão de olho ou na
valorização imobiliária em si das terras brasileiras, cujos preços estão em
níveis recordes, e na agregação de valor a essas terras com a produção de
alimentos, tendo em vista a tendência de crescimento da demanda internacional.
Não há números oficiais sobre a área agricultável total que já está nas mãos
desses grupos de empresas, algumas já de grande porte e outras em processo de
expansão. Mas, baseados nos projetos mais conhecidos, é consenso entre
especialistas que o movimento ainda crescerá muito mais, a depender das
discussões em torno do novo Código Florestal e dos limites às aquisições de
terras por estrangeiros. Marcos Fava Neves, ex-coordenador do PENSA/USP e
criador do centro de pesquisas e projetos Markestrat, por exemplo, estima que a
área desses grupos deverá ao menos dobrar de tamanho até 2020.
Levantamento do Valor mostra que cerca de 1,3 milhão de hectares já foram
ocupados por grupos com essas características com grãos, fibras e até culturas
perenes. Entre eles estão a SLC Agrícola, maior companhia agrícola do Brasil,
que pode ser incluída na lista não por ser um "novo" player, já que têm décadas
de plantio nas costas, mas pelo que agregou a seu negócio com a criação da Land
Co, uma companhia especializada na compra e na venda de terras. Na mesma linha
está a Radar, criada pela gigante sucroalcooleira Cosan.
O montante de terras sob o tutela dessas corporações poderá avançar para 1,5
milhão de hectares se forem consideradas as áreas do Grupo Vanguarda, do
empresário rural Otaviano Pivetta, que poderão ser incorporadas pela Brasil
Ecodiesel. A própria Ecodiesel foi "reinventada" e ganhou força no mercado de
terras e produção após passar ao controle do grupo do investidor espanhol
Enrique Bañuelos. Recentemente o conselho da Brasil Ecodiesel rejeitou proposta
de incorporação do Vanguarda, mas o assunto segue vivo. Em 2010, a Ecodiesel
tornou-se protagonista na "agricultura corporativa" ao assumir o controle dos
ativos do Grupo Maeda, de quem incorporou 94 mil hectares cultivados. A
companhia pode elevar essa área para 320 mil hectares se concretizar o negócio
com o Grupo Vanguarda.
Uma das maiores indústrias têxteis do país, a Coteminas surpreendeu ao anunciar
no mês passado sua aliança com grupos de expertise em produção e
comercialização de grãos. A empresa quer desbravar oportunidades no mercado de
terras no Brasil e criou a Cantagalo, na qual detém 50% de participação. A
companhia tem meta ambiciosa de sair do zero para cultivar 150 mil hectares em
terras próprias, entre grãos e fibras, em dois a três anos.
Muitas dessas empresas já detinham grandes áreas de terras antes do boom
imobiliário no campo. Por isso, diz Fava Neves, participaram de um dos melhores
momentos da valorização imobiliária rural do país. "Em 1987, um hectare custava
4 sacas de soja no oeste baiano. Em 1998, essa relação subiu para 15 sacas e
neste ano está em 400 sacas". Mas, apesar de toda a alta, o movimento vai
continuar. "Em uma escala de zero a dez, o movimento de valorização está no
nível 6", afirma.
Obviamente, diz Neves, uma região madura e disputada como Ribeirão Preto (SP),
por exemplo, está perto do nível 9 nessa escala. "Por isso, essas empresas
estão atuando em novas fronteiras como Piauí, Maranhão, Tocantins, além de área
de Mato Grosso e Bahia que ainda não perderam seu potencial imobiliário".
Assim, esse modelo corporativo tem na terra um pilar estratégico relevante.
Nesse ponto talvez esteja a principal diferença entre essa "agricultura
corporativa" em formação e as empresas agrícolas criada e conduzidas por
grandes produtores rurais. É o caso do Bom Futuro, do maior produtor de soja e
algodão do país, Eraí Maggi, que tem na produção agrícola - mais do que na
posse da terra - o foco de seu negócio. "Para a produção de alimentos, o modelo
de arrendamento é mais rentável. O de aquisição de terras só tem sentido
econômico nessas áreas onde há margens significativas para valorização
imobiliária", diz Maggi.
Independentemente das diferenças dos dois modelos, ambos tendem a deixar o
campo mais profissionalizado - o que significa, em tese, mais governança e
respeito às práticas ambientais e trabalhistas. A Insolo é uma das que reforçam
seu compromisso nessas frentes. A empresa, que partiu para esse modelo depois
que seu controle foi adquirido pela família Iochpe, chegou a encarar problemas
fundiários no Piauí, berço de seu avanço, no fim do ano passado, mas já tem
decisão favorável à sua expansão na Justiça federal.
Segundo Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura, a profissionalização do
setor faz parte de uma onda iniciada no início da década de 90. A economia
brasileira era fechada e protecionista e, entre 1990 e 1996 isso mudou
radicalmente. A abertura econômica gerou a primeira onda de exclusão.
"Estima-se que cerca de 200 mil produtores perderam tudo", lembra Rodrigues.

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