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terça-feira, 10 de maio de 2011

Enrascado, país tem de contar com EUA

Enrascado, país tem de contar com EUA

A política monetária brasileira é fixada em Brasília, certo? Nem tanto. Tente,
em vez disso, Pequim, Frankfurt e Washington. Os investidores estrangeiros
devem ficar atentos.
O Brasil está numa enrascada. Apesar dos dados, melhores que os previstos, dos
preços ao consumidor de abril, divulgados na semana passada, a inflação de 6,5%
está muito superior ao centro da meta de 4,5%. Embora as quedas sazonais dos
preços dos alimentos e dos combustíveis possam ser de alguma ajuda nos próximos
meses, o índice restrito de inflação está se mostrando obstinado.
Brasília está sensível a isso, em vista de sua história de hiperinflação. Esse
é um dos motivos para a dolorosa taxa brasileira real de juros de quase 6%. Mas
isso atrai especuladores externos. Apesar das medidas contra eles, como
impostos direcionados, a moeda brasileira, o real, se fortaleceu
sistematicamente no câmbio com o dólar. Os exportadores estão sofrendo - o
diretor das operações brasileiras da Siemens, por exemplo, adverte que podem
ser necessários controles cambiais para evitar uma "desindustrialização".
Examinando essas taxas reais, no entanto, a elevação do custo do capital
brasileiro pela adoção de controles cambiais não é aconselhável. O país já
sofre de fragilidade de investimentos em ativos fixos, o que agrava a inflação
por meio dos gargalos de logística devidos à precariedade da infraestrutura.
Se o Brasil continuar comprometido com a política equivocada de mirar tanto a
inflação quanto a taxa de câmbio, precisará contar com os outros países para
sair dessa enrascada. O recuo do apetite pelo risco verificado na semana
passada foi útil em várias frentes. Ele não apenas sustou, provavelmente,
alguns fluxos de dinheiro de curtíssimo prazo, conhecido como "hot money", como
também fortaleceu o dólar e baixou os preços das commodities.
Futuramente, qualquer crise de renegociação da Grécia também deverá pressionar
o real, uma vez que os investidores compraram dólares. Em última instância, no
entanto, o Brasil precisa de uma política monetária mais restritiva da parte
dos Estados Unidos. Um dólar mais valorizado diminuiria os inflacionários
preços das commodities e, ao valorizar o yuan vinculado ao dólar, tornaria as
importações de seu maior parceiro comercial, a China, menos competitivas.
Trata-se de uma aposta de risco. Na ausência dessa conjugação de fatores, os
exportadores brasileiros deveriam se preparar para novos problemas, e os
investidores, para taxas de juros mais altas.

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