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sábado, 8 de maio de 2010

Crise na Grécia afeta real e derruba Bolsas

Crise na Grécia afeta real e derruba Bolsas
O risco de calote grego que afeta grandes bancos europeus e a decepção com
a aparente falta de ação das autoridades europeias provocaram hoje um dia
de tensão que lembrou momentos da crise global de 2008 e espalhou temores
muito além da Europa.
O real sofreu a maior variação em 13 meses e o euro atingiu a pior cotação
em oito anos. O dólar mostrou algumas das variações mais bruscas do dia:
oscilou entre R$ 1,79 e R$ 1,89 no momento de maior estresse. No final do
dia, foi trocado por R$ 1,849, salto de 2,83%, o maior desde março de 2009.
A Bovespa afundou 6,4% em seu pior momento, mas também se recuperou perto
do fechamento: o índice Ibovespa cedeu 2,31%, praticamente anulando os
ganhos acumulados desde o início de fevereiro.
A derrocada foi generalizada: a Bolsa de Nova York deu um longo mergulho
de 9% no meio do dia, assustando investidores em todo o mundo. Encerrou o
dia com perdas mais modestas, de 3,20%.
Mais tarde, agências internacionais relataram que uma possível falha
técnica em uma ordem de mercado pode ter afetado o pregão americano -por
conta dela, a Bolsa eletrônica Nasdaq informou que cancelará as ordens
executadas entre 14h40 e 15h (hora local).
Na Europa e na Ásia, as Bolsas caíram entre 0,9% e 3%.
Há meses, a Grécia se tornou "a bola da vez" de especuladores, ao vir a
público a fragilidade de suas contas públicas. A União Europeia e o FMI
costuraram o maior pacote de ajuda financeira da história recente (de 110
bilhões de euros).
Europa endividada
O que os mercados sinalizaram hoje é que essa ajuda pode não ser
suficiente para salvar a economia europeia de um colapso, cujo estopim
seria a supostamente inevitável moratória grega (a dívida pública do país
é mais de duas vezes o valor do resgate bilionário).
Uma consequencia direta do não pagamento será um forte abalo sobre o
sistema financeiro europeu, que detém 80% das dívidas do país. Bancos
alemães e franceses (que respondem por 50% do montante) perderiam dinheiro
e ficariam com menos capital, uma espiral que poderia redundar em seguros
de crédito mais caros e juros mais altos.
A fragilidade grega pode contagiar os também endividados Espanha, Portugal
e Itália, provocando estrago muito maior: somente a Itália tem uma
economia seis vezes maior que a Grécia; e o que a Espanha deve aos bancos
alemães (US$ 238 bilhões) já equivale a mais do que toda a dívida grega.
"Não há sinais de que pode haver solução no curto prazo", afirma Mário
Paiva, analista da corretora BGC Liquidez.
Muitos analistas culparam o presidente do BCE (Banco Central Europeu),
Jean-Claude Trichet, pelo nervosismo que derrubou as Bolsas.
A autoridade europeia provocou uma onda de frustração ao declarar que o BC
não pretende adquirir títulos de dívida de países da zona do euro, ativos
que recheiam a carteira de muitos bancos e sofrem um processo de
depreciação, num cenário de desconfiança generalizada sobre a capacidade
dos países em saldar seus compromissos financeiros.
Analistas elogiam os fundamentos da economia brasileira, que podem ajudar
o mercado doméstico a sofrer menos numa eventual piora da crise.
"Muitos dizem que a Bovespa está um pouco "descolada da crise mundial,
mas num episódio de estresse como esse, os investidores fogem: vendem
Brasil e correm para os títulos do Tesouro americano", afirma o
superintendente da Banif Corretora, Raffi Dokuzian.

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