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quarta-feira, 19 de março de 2014

FENICAFÉ: QUEBRA DE SAFRA PELA ESTIAGEM É UMA CERTEZA ABSOLUTA - CNC
Entrevista exclusiva concedida à Agência
SAFRAS pelo presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), deputado Silas
Brasileiro. Ele veio prestigiar em Araguari, no cerrado de Minas Gerais, a Feira
Nacional de Irrigação em Cafeicultura (Fenicafé), evento que termina
amanhã.
    Brasileiro falou sobre o desestímulo pelos baixos preços do café e a
estiagem que resultarão na primeira quebra de produção para um ano de safra
"cheia" no principal produtor e exportador mundial e ainda exaltou o papel do
Governo Federal na recuperação das cotações que tem sido, segundo ele,
erroneamente atribuídas tão somente à falta de chuvas e as altas temperaturas
de janeiro e fevereiro no Sudeste.


     Pergunta.
    Pouca adubação, estiagem, tudo isso vai fazer o Brasil ter sua primeira
redução de produção em um ano que seria de safra cheia.
     Resposta
    Exatamente. Essa é uma realidade. O produtor foi, de uma certa forma,
desestimulado em investir na produção da sua lavoura. Como agravamento,
tivemos essa questão da estiagem prolongada. Isso fez com que tenhamos uma
redução ou o mesmo volume colhido em relação ao ano passado e ainda temos
que deduzir qual será o efeito da seca sobre a produção nesse ano. Há muitas
informações que são divulgadas sem nenhuma base técnica e científica.
    Nós estamos realizando um levantamento através do Conselho Nacional do
Café (CNC) e em cerca de 30 dias teremos informações seguras se aqueles
frutos foram efetivamente atingidos pela estiagem, se eles conseguiram
preencher, ou se estão vazios e, com isso, dariam uma renda muito menor. (São
os frutos chochos que nós chamamos). Então, essa informação virá, mas nós
já temos a certeza absoluta que uma quebra vai acontecer.
    Pior é o reflexo na safra 2015. A ramagem do café se desenvolveu muito
pouco, os internódios ficaram muito limitados. Tudo isso afetará diretamente a
safra 2015, sendo uma consequência inevitável. Portanto, eu penso que, quando
acreditaram lá fora - os consumidores, as indústrias, o comércio em geral -
que o Brasil iria produzir em torno de 40 a 45 milhões de sacas de café
arábica e 20 a 25 milhões de sacas de robusta, esqueceram que para isso tinham
que estimular o produtor, tinham que pagar preços justos, remunerativos. Como
não pagaram, estamos vivendo agora este caos.
    A grande preocupação também é que as indústrias não fizeram estoques
para que esta faixa de transição fosse garantida tranquilamente. Não foi
formado estoque, e as reservas estão nas mãos dos países produtores. Creio
que o fornecimento de 2014, em função de uma safra menor, gerará um
equilíbrio entre oferta e demanda. Mas temos que trabalhar para que essa oferta
possa ser mantida e agente não venha a perder este trunfo no futuro.
    Então, é hora de planejar a atividade, sem plantios novos, trabalhando as
lavouras antigas, melhorando o espaçamento, colocando variedades mais
produtivas, sem esquecer que aumento de área significa aviltamento de preço no
futuro.
    E não podemos falar em desabastecimento. Temos café no Brasil suficiente
para abastecer todo o mercado. Porque isso seria estimular o outro lado, os
nossos países concorrentes seriam estimulados a plantar mais café, o que não
seria bom para nós. Temos condições de manter o nosso "market share" de 33%
a 34% e vamos avançar para 40%. Isso é o mais importante.
     Pergunta
    A média da estimativa de safra da Companhia Nacional do Abastecimento
(Conab) para o café em  2014 é de 48 milhões de sacas. Certamente haverá uma
revisão para baixo nesse número por conta da estiagem, não é mesmo?
     Resposta
    Essa revisão vai acontecer. Nós temos uma convicção que a redução já
aconteceu, apesar de não podermos a quantificar com segurança. Mas que ela
já aconteceu é uma realidade.
     Pergunta
    Os preços vão continuar reagindo no primeiro semestre? Há espaço para
eles subirem mais?
     Resposta
    Quando se fala em preços, para nós, que representamos uma entidade, é
realmente preocupante. Mas, um preço muito elevado não é bom para o produtor
nem para o consumidor. Um preço alto inibe o consumo lá na ponta, gera
inflação e estimula plantios novos. O que nós buscamos são preços
remuneradores.. Eu acho que o café deve se situar em torno de R$ 450,00 por
saca, um preço que seria realmente bom para os dois lados. Mais do que isso
não representaria uma realidade que fizesse o produtor se sentir gratificado.
    Infelizmente nós sempre temos isto: agora aconteceu esta reação dos
preços. Todos estão creditando ela ao veranico, mas esqueceram que o governo
ofereceu opções de venda para três milhões de sacas aos produtores, que
colocou R$ 5,8 bilhões na cafeicultura e ainda alongou dívidas. Então houve
uma conjunção de fatores que fizeram o preço reagir. Mas, a figura do governo
tem que ser ressaltada, e ele tem que continuar participando da política do
café no Brasil.

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