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quarta-feira, 12 de março de 2014

Chance de ocorrência do fenômeno El Niño cresce

Pilita Clark e Emiko Terazono | Financial Times

Cresceu a preocupação de agricultores e investidores em commodities após o terceiro alerta oficial, em uma semana, sobre a ocorrência, neste ano, do fenômeno climático El Niño, que eleva as temperaturas das águas superficiais do oceano Pacífico e pode desencadear secas em algumas partes do mundo e inundações em outras, a depender de sua intensidade.
A Agência Meteorológica da Austrália informou ontem que houve nas últimas semanas um "aquecimento substancial" nas águas do Pacífico, logo abaixo da superfície, na zona tropical, o que significa que as temperaturas na superfície do oceano deverão aumentar nos próximos meses.
Recentemente, houve a maior manifestação de ventos provenientes da direção oeste na parte mais ocidental do Pacífico desde pelo menos 2009 - a última vez em que o El Niño se desenvolveu -, conforme a agência australiana.
Seu alerta ocorre uma semana após previsões meteorológicas americanas terem revelado que há 50% de chances de o El Niño se desenvolver no verão no Hemisfério Norte [terceiro trimestre] e dias depois de a agência meteorológica do Japão reforçar previsões sobre o fenômeno.
"Certamente isso está preocupando todo mundo, de analistas de commodities a agricultores", diz Tracey Allen, do Rabobank em Londres. "Todos estão de olho porque o fenômeno poderá afetar significativamente os produtos."
Estima-se que o último El Niño de grande intensidade, em 1997-1998, provocou prejuízos de bilhões de dólares apenas à agricultura dos Estados Unidos. Qualquer dano às safras pode encarecer os alimentos e prejudicar os países mais pobres, alguns dos quais já sentem os efeitos dos preços de importação mais elevados em razão da volatilidade das moedas dos mercados emergentes.
Analistas afirmam que algumas commodities já estão carregando em seus preços um possível impacto climático. "A possibilidade de ocorrência do El Niño já está oferecendo suporte aos preços do cacau e do óleo de palma por causa do risco climático", diz Kona Haque, analista do banco de investimentos Macquarie em Londres.
O preço do cacau, produzido principalmente na África Ocidental, com destaque para Costa do Marfim e Gana, subiu 8% desde o começo do ano e atingiu os maiores níveis desde setembro de 2011, enquanto o do óleo de palma, cultivado sobretudo em Indonésia e Malásia, já subiu mais de 9% este ano.
A África Ocidental e o Sudeste Asiático enfrentam o risco de secas provocadas pelo El Niño, assim como a Austrália e a Índia. Outras commodities em risco são trigo, açúcar, algodão e borracha.
Um aumento das temperaturas nas águas do Pacífico também afetaria a pesca no Peru, maior exportador de farinha de peixe do mundo. Os preços do produto já estão em patamares historicamente altos por causa do aumento da demanda dos segmentos de aquicultura e pecuária. Qualquer aumento se refletirá nos preços do peixe e da carne, uma vez que a farinha de peixe é usada em alimentação na multibilionária indústria da piscicultura e também na criação de suínos e aves.
Os climatologistas também estão atentos às previsões sobre o El Niño por causa da especulação de ele poderá por um fim à chamada pausa no aquecimento global, detectada após a última grande ocorrência do fenômeno, no fim dos anos 1990.
Porém, autoridades americanas dizem que ainda é impossível estimar qual será o impacto que o El Niño poderá ter este ano. "Ainda é cedo para tentar adivinhar o grau de intensidade que ele terá, assumindo que de fato o fenômeno vai desenvolver", diz Mike Haplert, do Centro de Previsões Climáticas dos EUA.
"Tivemos uma série de episódios de fracos a moderados - e até mesmo de moderados a fortes - nos últimos 15 anos e não foram registrados grandes aumentos nas temperaturas globais".



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