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domingo, 4 de setembro de 2011

Os bilhões desafiadores

Os bilhões desafiadores
David Bloom
O mundo está em meio à maior reviravolta demográfica na história da humanidade. A raça humana levou, talvez, 1 milhão de anos para chegar a 1 bilhão de pessoas (perto do ano 1800). A partir de 1960, porém, passamos a adicionar outros bilhões a cada 10 ou 20 anos. A população mundial agora é de 7 bilhões de pessoas e a projeção para 2050 é de 9,3 bilhões.Em outras palavras, entre hoje e 2050, o mundo deverá adicionar um número de pessoas igual à população total que havia no mundo em 1950. Ou pensando de outra forma, é o equivalente a agregar outra China e outra Índia. Alimentar, vestir, dar moradia e abastecer essa adição líquida maciça à população mundial é um dos principais desafios que a humanidade terá de enfrentar.Se nos guiarmos pelo progresso material médio ao longo dos últimos séculos, podemos ter a impressão de que a necessidade voltará a atuar como "mãe da invenção" e que superaremos o desafio populacional, assim como superamos desafios anteriores, por meio de inovações institucionais e tecnológicas.Embora as questões com as quais os países emergentes se deparam sejam diferentes das enfrentadas pelos países ricos, em nosso mundo globalizado um desafio demográfico em qualquer lugar representa um desafio demográfico para todos os lugaresAs médias de longo prazo, no entanto, podem mascarar episódios de volatilidade significativa ao longo do tempo, assim como as diferenças de variação entre países. Sabemos com certeza que há um grande risco pela frente com o crescimento populacional, já que o aumento quase inteiramente se dará nos países mais frágeis econômica, política, social e ambientalmente.Deixar de absorver grandes números de pessoas em empregos produtivos poderia levar a um sem-número de catástrofes e a sofrimento em massa. A continuidade de desigualdade de renda de um país para outro poderia impedir a cooperação internacional, detendo ou até revertendo a globalização, apesar de seu potencial para melhorar o padrão de vida de todos. O rápido crescimento populacional também tende a acelerar o esgotamento dos recursos ambientais, tanto local como globalmente, e pode debilitar permanentemente as perspectivas de recuperação.Alguns países em desenvolvimento enfrentaram bem esses desafios populacionais. Por exemplo, os "tigres" do leste asiático reduziram seus índices de natalidade de forma acentuada nos anos 70 e 80 e usaram o espaço de manobra demográfico resultante disso com assombrosa vantagem para eles próprios, com políticas criteriosas de saúde e educação, administração macroeconômica sólida e meticuloso engajamento econômico regional e global.Na outra ponta, os países da África Subsaariana se saíram muito pior do ponto de vista de desenvolvimento, em grande medida por sua incapacidade de escapar do fardo esmagador do alto crescimento populacional e da dependência em relação à população jovem.Embora os países em desenvolvimento sejam os locais onde os problemas mundiais populacionais são mais ameaçadores, os países industriais mais ricos também se deparam com seus próprios problemas, bastante complicados. Da perspectiva puramente demográfica, a capacidade produtiva das economias avançadas chegou a um platô de pouco mais de duas pessoas em idade de trabalho por dependente. Esse indicador, no entanto, deverá despencar para 1,36 até 2050, o que representa uma ameaça ao considerável dividendo demográfico que esses países gozaram nas últimas décadas.Além disso, os países ricos podem esperar uma expansão maciça na proporção de pessoas idosas em suas populações, como resultado do aumento na longevidade, continuidade da baixa natalidade e da progressão do grupo da geração "baby-boom" na pirâmide populacional. Embora o desempenho econômico no contexto do envelhecimento da população seja substancialmente um território desconhecido, não é difícil entender as preocupações quanto à integridade fiscal dos sistemas de assistência médica e aposentadoria por regime de repartição e quanto à desaceleração no crescimento resultante da redução da força de trabalho.Existem muitas sugestões de políticas para resolver a sustentabilidade fiscal e escassez de mão de obra, como o aumento da idade para aposentadoria e a obrigatoriedade nas contribuições, em conjunto com a redução dos benefícios. Liberar a imigração internacional poderia ser outra resposta, embora seja improvável que traga alívio considerável, já que a oposição política e social à imigração aumentou na maioria dos países desenvolvidos.Podemos, contudo, contar com o aumento na participação das mulheres na força de trabalho (incentivada pela continuidade da baixa fertilidade); maior índice de eficiência no trabalho, uma vez que o nível dos estudos continua em alta; e crescimento na poupança, em antecipação à maior longevidade e maior extensão das aposentadorias.No fim das contas, é improvável que nossos maiores medos relacionados ao envelhecimento da população se tornem realidade. Antes de termos certeza disso, no entanto, serão necessárias muitas análises, debates, adaptações comportamentais e reformas políticas - tanto na esfera pública como privada.Embora as questões com as quais os países em desenvolvimento se deparam sejam diferentes das enfrentadas pelos países ricos, em nosso mundo globalizado um desafio demográfico em qualquer lugar representa um desafio demográfico para todos os lugares. E, embora os desafios representados pela mudança populacional sejam monumentais, é bem provável que sejam contornáveis. Seria irresponsável negligenciar esses desafios e submeter a humanidade, desnecessariamente, a grandes riscos, que já podemos prevenir de forma confiável.David Bloom é professor de Economia e Demografia na Harvard School of Public Health

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