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sexta-feira, 1 de julho de 2011

O sol parece estar se pondo para o império bancário britânico

O sol parece estar se pondo para o império bancário britânico

Os maiores bancos do Reino Unido continuam uma notável retirada de mercados estrangeiros. Ontem o Lloyds Banking Group PLC informou que vai sair de metade dos 30 países em que atualmente opera. A medida é parte de uma tentativa do novo diretor-presidente do banco de cortar gorduras e voltar a se focar no mercado britânico."Estamos recuando", disse o diretor-presidente do Lloyds, António Horta-Osório. O banco ainda não decidiu de que países sair, disseram pessoas a par da questão.A decisão do Lloyds ocorre depois de medidas parecidas dos outros três grandes bancos britânicos: HSBC Holdings PLC, Barclays PLC e Royal Bank of Scotland Group PLC. Antes da crise financeira, as quatro instituições estavam ocupadas fincando suas bandeiras ao redor do mundo, atraídas pela oportunidade de conseguir depósitos e fazer empréstimos em economias aquecidas.Agora, eles estão voltando atrás, depois de esbarrar numa série de problemas, de créditos de recebimento duvidoso à complexidade de dominar tantos mercados. Depois de receber socorro com dinheiro público, o RBS se desfez de operações de banco de varejo e comercial em vários países nos dois últimos anos. O Barclays informou este ano que vai se retirar da Indonésia e está interessado em vender sua banca de varejo na Rússia.Executivos do HSBC disseram em maio que planejam abandonar ou encolher as operações em alguns dos 87 países nos quais o banco está atualmente. A retirada inclui os Estados Unidos, onde o banco vai sair do varejo bancário. "Não vamos tentar ser todas as coisas, para todas as pessoas, em todos os mercados", disse o diretor-presidente Stuart Gulliver em maio.Os ingleses Lloyds, HSBC, Barclays e RBS buscam, agora, focar em mercados com rápido crescimento É fato que, embora estejam abandonando alguns mercados estrangeiros, os bancos britânicos não estão batendo em retirada de todos. O Barclays e o HSBC estão interessados em crescer nos mercados de rápido crescimento da Ásia e da África. Outro banco londrino, o Standard Chartered PLC, está tão concentrado em mercados emergentes que nem tem uma operação de varejo no Reino Unido. Ao mesmo tempo, o RBS está mantendo seu banco de investimento americano e o Citizens Bank, que opera na costa leste dos EUA.Mas não é coincidência que os quatro maiores bancos britânicos estejam recuando seletivamente, especialmente na banca de varejo.Numa era de menor rentabilidade e maior regulamentação, os bancos estão sob pressões cada vez maiores dos acionistas para cortar custos e se livrar de negócios que não gerem retornos impressionantes. Os executivos respondem abandonando locais nos quais não tenham forte presença e que não combinem bem com suas estratégias gerais."É um recuo para os mercados principais", diz Nathan Archer, analista de bancos da Nomura International. "A iniciativa de concentrar geografias tem tudo a ver com corte de custos."Uma tendência parecida pode ser vista por toda a Europa. Vários bancos que haviam embarcado em aventuras internacionais nos anos de boom estão agora vendendo ou fechando operações. Por exemplo, o ING Group NV vendeu recentemente seu banco on-line nos EUA à Capital One Financial Corp., enquanto o Allied Irish Banks PLC vendeu sua operação polonesa ao banco espanhol Santander SA.No Reino Unido, as mudanças também refletem as chegadas no último ano de novos presidentes no Lloyds, no HSBC e no Barclays. Os novos chefes embarcaram em análises estratégicas para identificar que negócios valiam a pena manter.Fazendo uma retrospectiva, a impressão é de que parte da agressiva expansão do passado foi apressada e sem sentido estratégico, segundo executivos de bancos e analistas.O Barclays demitiu no fim de 2009 o diretor de banca de varejo por causa da preocupação de que seus esforços de expansão internacional - com o estabelecimento de bases em países como Indonésia, India e Paquistão - foram agressivos demais, segundo pessoas a par da questão.No HSBC, os executivos buscam se desfazer de operações de varejo em lugares que não são centros financeiros nem estejam em rápido crescimento. Além dos EUA, onde o HSBC espera se desfazer de cerca de 200 agências no Estado de Nova York, o banco anunciou planos de sair do varejo na Rússia. Os executivos do banco também estão reavaliando suas operações em países como Chile, Peru, Colômbia, Omã e Paquistão.Quando assumiu o comando do Lloyds este ano, Horta-Osório disse que se surpreendeu ao descobrir que o banco operava em tantos países. Diretores do banco disseram ontem que não eram capazes de fornecer uma lista dos 30 países em que o banco opera.Em alguns desses lugares, o Lloyds tem uma "presença pequena que não nos dá uma vantagem competitiva", disse Horta-Osório. "Vamos concentrar mais os recursos no Reino Unido e em sua economia."O Lloyds continuará em mais ou menos uma dúzia de países fora do Reino Unido para oferecer serviços de gestão de patrimônio e trabalhar com empresas britânicas que têm negócios nesses lugares, disse Horta-Osório.O Lloyds já anunciou planos de sair da Irlanda, onde acumulou bilhões de libras em prejuízos com empréstimos de recebimento duvidoso. Horta-Osório não identificou que outros países o banco planeja abandonar, mas deu uma possível dica quando descreveu as operações do banco na Holanda, Espanha e Dubai como "presenças residuais".O recuo internacional do setor é basicamente na banca de varejo. Os bancos consideram que têm uma capacidade de competir cada vez menor nessa área, em parte por causa de regras nacionais cada vez mais rígidas que limitam a capacidade dos bancos de movimentar recursos. Por exemplo, usar depósitos de uma parte da operação para financiar empréstimos em outro país é algo cada vez mais proibido."Os retornos sobre o capital são mais difíceis quando você tem uma maior base de capital", diz Joseph Dickerson, analista do banco de investimento Espírito Santo em Londres. "Eles enfrentaram muita coisa [durante a crise] e precisam se concentrar nos negócios principais."

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