EUA dão primeiros sinais de retomada
O segundo semestre começa com uma cara melhor. Pelo menos é o que se extrai do encerramento dos negócios ontem. Além de a Grécia conseguir evitar um default no curto prazo, os Estados Unidos deram o primeiro sinal de que uma reação da atividade pode ocorrer nos próximos meses.Tal percepção sobre os Estados Unidos veio do índice de atividade em Chicago, que subiu para 61,1 pontos em junho, contrariando as previsões de baixa. Hoje, essa perspectiva pode ser reforçada dependendo do índice de atividade industrial, o ISM. E na semana que vem, foco nos dados sobre o mercado de trabalho.Cabe lembrar, também, que todo fim de mês e trimestre os gestores atuam para deixar as cotas com uma cara mais bonita. Afinal de contas, seus resultados dependem disso. Vendido força a mão e dólar tem menor preço em 3 anosNo curtíssimo prazo, no entanto, não se descarta algum movimento de correção. O ajuste de preços foi forte e concentrado em poucos dias.Esse mesmo raciocínio é válido para o dólar no mercado local. A moeda americana encerrou o mês de junho com baixa de 0,63%, a R$ 1,562. Menor cotação desde 4 de agosto de 2008. No mês, a perda foi de 1,14%. No trimestre, o dólar ficou 4,23% mais barato e no ano já afundou 6,24% (veja gráfico abaixo).No mercado futuro, o dólar para julho "morreu", a R$ 1,561, baixa de 0,44%. E o contrato para agosto, que vira referência, recuava 0,44%, a R$ 1,5725, antes do ajuste final.Entre sexta-feira e ontem, a cotação da moeda americana caiu cerca de 2,6%, deixando claro que o fim do mês foi mais um "passeio dos vendidos", que além de atuarem como sempre, defendendo sua posição, contaram com essa melhora de humor externo.No encerramento da quarta-feira, a posição vendida dos estrangeiros na BM&F tinha marcado novo recorde histórico a US$ 22,011 bilhões em dólar futuro e cupom cambial (DDI - juro em dólar). Atenção aos dados dos próximos dias, mostrando quanto dessa montanha de posição vendida foi rolada e quanto "morreu" pela Ptax. Falando nisso, hoje a Ptax estreia novo cálculo. Ao substituir a média ponderada pelo volume por uma média aritmética de quatro consultas distintas, o Banco Central (BC) pretende deixar esse mercado mais transparente e menos passível de manipulação.Mas há também uma intenção mais sutil, que é diminuir a influência do mercado de derivativos na formação dessa taxa. Sabe-se que o câmbio no Brasil é um típico caso do "rabo que balança o cachorro", ou seja, não é o mercado à vista que determina o preço futuro, mas sim o futuro que faz a cotação à vista.Isso decorre de uma série de limitações que o câmbio à vista apresenta, contra a total liberdade do mercado futuro, que não por acaso concentra grande parte do volume de negociação cambial do Brasil.Passando ao mercado de juros futuros, a forte puxada de alta no pregão de ontem deixou bastante gente machucada. O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2013 subiu 0,10 ponto, para 12,69%, maior taxa em quase dois meses.Não precisa nem falar que essa puxada pegou muita gente com o "pé trocado", ou seja, o vendido teve de correr para zerar posição.Além do fator técnico, outras explicações para a alta dos juros passam por essa melhora de humor no mundo. Toda a vez que o tom é mais otimista, a avaliação com relação a atividade econômica mundial muda para melhor, o que pode resultar e mais trabalho para o BC.Fala-se, também, em uma leitura mais apurada no Relatório de Inflação, que saiu na quarta-feira. Apenas ontem, importantes casas apresentaram sua avaliação sobre o documento e como notou um operador, "economistas alinhados com o governo vem endossando duas altas de 0,25 ponto na Selic", uma em julho, que já era consenso, e outra em agosto.A curva futura já embute probabilidade superior a 50% para esta elevação em agosto, que levaria a Selic para 12,75%. Ainda nos juros, cabe lembrar que de agora em diante o foco muda cada vez mais para 2012, e crescem as incertezas sobre o impacto do reajuste do salário mínimo sobre o consumo e sobre a capacidade do governo em entregar o superávit primário.Conforme disse um tesoureiro, a curva deve mesmo ficar mais inclinada, pois tem de colocar no preço essas duas altas de 0,25 ponto na Selic, mais um natural prêmio de risco. Como no dólar, não se descarta algum ajuste de preço no curto prazo nos juros. Algo que pode ocorrer hoje, dependendo do resultado da produção industrial de maio, que será apresentada agora pela manhã.
Eduardo Campos é repórter do Valor
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