`O investidor acha que fizemos um mau negócio`, diz Barbassa
A Petrobras atingiu seu maior valor de mercado no dia 21 de maio de 2008, quando chegou a R$ 510,4 bilhões. Em setembro de 2010, época da capitalização seguida da "cessão onerosa" de barris pelo acionista controlador, o governo, o valor foi a R$ 362,8 bilhões. Ontem, estava em R$ 325,6 bilhões. Neste ano, a empresa perdeu R$ 55 bilhões.Para especialistas ouvidos pelo Valor, a destruição de valor só deve ser revertida quando aumentar a confiança do mercado na empresa. Parte dessa retomada depende da qualidade dos investimentos que a companhia planeja executar, alguns já em marcha.Almir Barbassa, diretor financeiro da estatal, acha que a perda de valor das ações é resultado de um conjunto de fatores que passa pela capitalização com barris de petróleo (cujo preço foi considerado elevado na época), aumento da percepção de interferência do governo na companhia e a impossibilidade, momentânea, de ampliar a comunicação com o mercado."A capitalização não foi bem entendida e ainda não foi digerida. O investidor acha que fizemos mau negócio", admite. O executivo também menciona um ponto nevrálgico: o controle da companhia pelo governo, que aumentou sua fatia de 39,8% para 48,3% do capital social após a capitalização com 5 bilhões de barris do pré-sal."Os investidores julgam que houve falta de governança e que pagamos caro pelos barris [da cessão onerosa] porque o governo era o vendedor. Veem problema no preço acertado. Mas estamos convencidos de que fizemos um ótimo negócio", diz.Uma das reclamações dos investidores na capitalização dizia respeito ao preço de cada barril negociado entre a Petrobras e a Agência Nacional do Petróleo (ANP) e Ministérios da Fazenda, Minas e Energia e Casa Civil. O valor fixado no contrato de cessão onerosa foi de US$ 42,5 bilhões (R$ 74,8 bilhões). A revisão do preço está prevista para 2014 no contrato com a União e esses barris, cuja aquisição serviu para aumentar o valor patrimonial da empresa, podem estar até mais caros quando forem recalculados. Nesse caso, a Petrobras ainda terá que pagar a diferença para o governo.Barbassa lembra que o preço dos 5 bilhões de barris negociados no ano passado é "quase provisório", mas acha que o mercado não está percebendo as possibilidades de a Petrobras adicionar valor ao negócio. Ele destaca duas coisas que, a seu ver, estão sendo deixadas de lado nas avaliações (negativas) feitas pelo mercado depois da capitalização. A primeira delas é o fato de a companhia ficar exposta ao preço do petróleo (que tende a subir) com grande volume de reservas adicionadas; a segunda são efeitos benéficos das sinergias e da evolução tecnológica que serão colocadas em práticas na fase de exploração do pré-sal. Também não ajuda o fato de a companhia estar tendo dificuldades óbvias para ter aprovado seu novo plano de negócios. E isso se soma às críticas quanto ao aumento dos investimentos em refino construindo quatro novas refinarias de grande porte e ao aumento dos investimentos em produção de etanol. São projetos que vêm aumentando a percepção de risco político da companhia e que colocam a estatal diante do velho dilema: tudo que é bom para a Petrobras é bom para o Brasil? E vice-versa? Se de um lado é benéfico para o país aumentar a capacidade de refino para evitar déficits bilionários na balança comercial, o mesmo pode ser dito com relação à Petrobras? Por que ela não pode aumentar primeiro a produção de petróleo para então, fortalecida e com caixa, investir em refino mais à frente? Para Barbassa, esse dilema não existe e os temores são infundados. "Se o governo tivesse intenção de fazer coisas ruins para o acionista não colocaria US$ 42,2 bilhões na capitalização. Nem iria fazer algo para perder arrecadação e dividendos com prejuízos para a economia", pondera, ressaltando que ao vender petróleo bruto e importar derivados a companhia perde margem de US$ 8 por barril.O diretor também contesta as suspeitas de controle, pelo governo, do preço dos derivados com o objetivo de conter a inflação. E repete que a companhia pratica uma política que garante, no médio prazo, preços iguais aos do mercado americano. "Um aumento nos preços seria insignificante em termos de variação de caixa. Claro que não estamos falando de se segurar [os preços] por anos, aí se poderia alegar controle de preços. Mas o que temos feito é trabalhar com a média." Barbassa acha que grande parte das dúvidas poderá ser sanada depois que o novo plano de negócios for divulgado. Ele não entra em detalhes sobre o plano, que tem 580 projetos orçados em mais de US$ 25 milhões cada um. Diz apenas que os investimentos estão sendo analisados para serem consistentes, garantirem a saúde financeira da companhia, preservarem os "ratings" e a capacidade de alavancagem, sem colocar a empresa em risco e sem a necessidade de novas emissões. O executivo respondeu a uma comparação feita na semana passada por Frederic Fromm, gestor especializado em recursos naturais da Franklin Equity Group, braço da Franklin Templeton, para quem empresas sem controle governamental pagam dividendos especiais para os investidores ou recompram ações. "Com a carteira de projetos que a Petrobras tem, que é única no mundo, alguém ainda fala em recompra de ações? Quem está fazendo isso não deve ter projetos. A ação da Petrobras tem um grande potencial. Comprar Petrobras hoje é a forma mais barata do mundo de se adquirir petróleo", rebate.
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