Exportar é possível, mesmo com real forte
Do ramo automobilístico à produção de cachaça, passando por roupas e calçados, empresas ampliam vendas ao exterior A despeito das dificuldades que o dólar baixo impõe aos exportadores, há um grupo de empresas que tem conseguido ampliar suas vendas ao exterior. Redução de margens, mudanças na estrutura produtiva, entrada em novos mercados, aposta em produtos de maior valor agregado e a importação de matérias-primas são algumas das receitas para amenizar a influência negativa da moeda americana.No Grupo PSA Peugeot Citroën, as vendas de veículos cresceram 31% nos cinco primeiros meses de 2011, para 10.300 unidades, frente a igual período de 2010, enquanto as exportações de motores subiram 14,7% , para 32.110, na mesma base de comparação. O diretor financeiro para a América Latina da empresa, Philippe de Rovira, aponta que o lançamento de novos modelos e o forte crescimento do mercado argentino - que responde por 80% das exportações - são os principais fatores que explicam a expansão no mercado externo. Além disso, lembra ele, há uma preocupação constante de melhoria da eficiência industrial.- É verdade que a taxa de câmbio faz com que exportar com rentabilidade seja mais difícil, mas o lançamento de novos produtos tem ajudado.Margens de lucro reduzidas ou quase nulasA fabricante cearense de cachaça Ypióca tem investido para levar seus produtos, principalmente os da linha premium, para novos países e com isso conseguiu aumentar em 8% o faturamento com exportação nos primeiros quatro meses de 2011, frente a igual período do ano passado. Outra alternativa foi o lançamento de novas linhas, além de investimento em divulgação da marca e participação em feiras. Apesar das margens reduzidas, a companhia mantém seu investimento no mercado externo por seu papel estratégico.- Contratamos um gerente na Europa, nosso principal mercado, trabalhando de perto com os clientes. Além disso, há um embaixador da marca, cuja função é promover a Ypióca. Temos conquistado quatro novos mercados a cada ano também focado na linha de maior valor, como a superpremium e de cachaças com sabor - diz a diretora de Exportação Heloísa Telles.Também é a aposta estratégica que motiva a atuação no exterior do Grupo Selmi - fabricante das massas e biscoitos Renata, da marca Galo e de outros produtos. E isso significa até manter operações com margens de lucro praticamente nulas.- Com o dólar desfavorável, temos dificuldades de custos. Não estamos ganhando dinheiro (com exportação), mas as vendas ajudam a diluir custos - diz o presidente Ricardo Selmi.A empresa acaba de iniciar exportações para os Estados Unidos, ampliando para 14 o número de países para os quais vende. As exportações têm acompanhado o crescimento de 20% do mercado interno, o que permite a manutenção da fatia de 3% que têm no faturamento.A estilista Alessa Migani, da grife Alessa, duplicou o faturamento com exportação no verão de 2011, frente ao anterior. Ela passou a participar de duas feiras internacionais - em vez de uma - e reduziu a margem de lucro para manter o preço:- Quero que o cliente se sinta confortável e tenha certeza do preço final, por isso preferi diminuir um pouco a margem.Aumento da produtividade para manter competitividadeJá a fabricante de motores elétricos Weg procurou importar matérias-primas e aumentar a produtividade nas unidades brasileiras para permanecer competitiva. Ainda assim, teve de sacrificar margens para manter o crescimento das exportações. No primeiro trimestre do ano, a empresa faturou R$480 milhões no exterior, um crescimento de 45% em relação ao mesmo período de 2010. Dois terços desse aumento de vendas se devem a exportações a partir do Brasil.- Graças à maior produtividade não perdemos tanta margem, mas mesmo assim tivemos de fazer algum sacrifício - diz o presidente Harry Schmelzer Jr.A Piccadilly, de calçados femininos, investiu na marca para manter as vendas em alta no exterior. O trabalho se dá a partir dos representantes comerciais nos países para os quais exporta, que cuidam para que os preços não fiquem nem tão acima do valor de mercado, nem tão baixos a ponto de influir na percepção de qualidade. Desde 2006 a empresa investe na concessão da marca para lojas próprias nos países para os quais vende. A fórmula rendeu um crescimento de 9% no volume e de 17% no valor exportado em 2010.- Consigo repassar para o sapato exportado a valorização do real, porque trabalho a minha marca - diz o diretor-presidente da Piccadilly, Paulo Grings.No primeiro semestre, a empresa já contabiliza um aumento de 29% no volume exportado, em comparação a igual período de 2010. O ritmo deve se manter graças à recente entrada no mercado americano, com a abertura de uma loja em Miami em abril.Na Feitiços Aromáticos, pequena empresa que produz aromatizantes, essências e sais para banhos, cortou os gastos com transporte pela metade para compensar a valorização do real. Para isso, concentrou as remessas de produtos para os clientes que atende em Portugal e Espanha. Em vez de seis envios anuais, passou a fazer três. Também ofereceu a possibilidade de parcelar pagamento. Com isso, as exportações em 2010 representaram 5% do faturamento de R$1,2 milhão. A proprietária Raquel Cruz espera que as exportações cresçam 20% este ano. Em 2012, a meta é ampliar as exportações, com o lançamento de uma nova linha, de olho no mercado americano.- A linha vai se chamar Brasil Aromáticos, para aproveitar a marca Brasil, em alta na Europa e nos EUA - diz Robério Viana, marido e sócio de Raquel.O ganho de eficiência logística também entrou no radar da fabricante de papel e celulose Fibria, que investiu numa frota de 20 navios e em produtividade no setor florestal. Os custos da empresa cresceram 1,8% no ano passado, ante uma inflação geral de 5,91%. No primeiro trimestre do ano, a Fibria faturou R$1,3 bilhão com exportações.- O corte de custos permitiu que mantivéssemos as nossas margens praticamente inalteradas - diz o diretor de Relações com Investidores, João Elek.A Marcopolo transferiu parte da produção de ônibus para o exterior como forma de não perder mercado. Isso foi crucial para a expansão de 14% nas vendas externas do primeiro trimestre, que chegaram a 2.293 ônibus. A exportação a partir do Brasil, que respondeu por 23% desse total, passou por uma simplificação da linha de montagem, diz o diretor de RI Carlos Zignani.
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