Dólar não tem piso, mas teto seria de R$ 1,60
Dólar comercial completou sexto pregão seguido de baixa, maior sequência de queda desde setembro do ano passado e segue em cotações não registradas em 12 anos, na casa de R$ 1,55.Nesses seis pregões, o preço caiu 3,18%, saindo de R$ 1,604 na sexta-feira 24 de junho, para R$ 1,553 ontem, com queda no dia de 0,32%. No mercado futuro, o dólar para agosto recuava 0,38%, a R$ 1,561 antes do ajuste final.A pergunta que fica é: tem espaço para cair mais? Espaço sempre existe. Pela análise técnica, o contrato futuro poderia cair a R$ 1,548 no curto prazo.No entanto, não se sabe qual a disposição dos agentes em seguir ampliando a "aposta" de valorização com o real a esse preço. "Nesse preço eu não sou vendedor", disse um tesoureiro.Estrangeiro tem aposta de US$ 23,5 bilhões no realO que parece claro é que o preço pode até não cair muito, mas também não deve subir com força. Como bem disse um operador, o estrangeiro segue com uma posição vendida (que ganha com a queda do dólar) monstruosa e não parece disposto a se desfazer disso.Segundo os dados da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o investidor não residente abriu o mês vendido em US$ 23,548 bilhões, novo recorde histórico.Outra pergunta que surge com o dólar nas mínimas desde janeiro de 1999 é: será que o governo tomará novas medidas restritivas? Por ora, nenhum sinal do Ministério da Fazenda, que sempre capitaneou as ameaças de intervenção em outros episódios de baixa. Para parte do mercado, esse silêncio do governo é reflexo da intricada conjuntura brasileira. Se o governo apertar a mão e o dólar subir com força, pode ganhar um problema no lado da inflação. Parte dos arbitradores sabe que o governo está encilhado nisso. Então tira proveito. De fato, esse binômio inflação/juros ajuda a explicar parte da valorização recente da moeda. Segundo o diretor de tesouraria do Banco Prosper, Jorge Knauer, desde a semana passada vem aumentando a percepção de que o Banco Central (BC) pode subir os juros por um período superior ao esperado. No mercado de juros futuros, a probabilidade de alta da Selic no encontro de agosto já está em 50%. Para a reunião do mês de julho, o ajuste de 0,25 ponto percentual, que traria o juro básico de 12,25% para 12,50%, já é dado como certo.Tal percepção reforça uma dinâmica bastante conhecida. Quanto maior o juro doméstico, mais interessante fica a operação de arbitragem de taxa de juros. O investidor toma dinheiro a juro baixo no mercado externo, vende os dólares no Brasil e investe em papéis brasileiros que pagam prêmio maior. Vale lembrar que também há opção de operar real sem nunca ter visto uma cédula da moeda. Basta lançar mão do NDF (non-deliverable forward, contrato a termo de moeda sem entrega física). Depois de um período de baixa atratividade em função da disparada do cupom cambial (juro em dólar) no fim de abril, esse tipo de operação voltou a chamar investidores. O BC luta contra a inflação e, entre os custos, tem de lidar com um câmbio mais apreciado. No momento atual, essa questão pode ganhar mais importância, tendo em vista que, caso os Estados Unidos engatem recuperação e a Europa não produza nenhum história de horror nos próximos dias, fica aberto o caminho para uma retomada no preço das matérias-primas. Se os preços externos sobem e o real não se aprecia, há uma "importação" de inflação. Cabe lembrar que alguns agentes apontam que boa parte da inflação de commodities que o país amargou no começo de 2011 pode ser atribuída à relativa baixa flexibilidade cambial do ano passado e começo deste. Em função das intervenções e ameaças do governo, o dólar pareceu encontrar um "piso" não oficial.Neste momento, ninguém arrisca um "piso" para a taxa de câmbio, mas muitos têm como "teto" a linha de R$ 1,60. Acima disso, a questão inflacionária poderia ganhar vulto, pois o preço considerado em alguns modelos do BC é justamente o R$ 1,60 e, ainda assim, a inflação fica acima do centro da meta de 4,5%.Outro impeditivo a uma alta muito acentuada são os exportadores. Recentemente, quando o dólar se aproximou de R$ 1,65, foi observada firme movimentação para ingresso de moeda. Claro que todo esse raciocínio é válido salvo alguma catástrofe no cenário externo. No quadro externo, quem pode estragar essa retomada das commodities é a China, que dá sinais de que segue desacelerando sua economia, reflexo de uma série de alta de juros e aumento de compulsório bancário. Em função da defasagem das ações de política monetária, o efeito máximo dessas medidas ainda estaria por vir.
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