Espanha e Itália sob risco de contágio
Proteger a Espanha e a Itália - o objetivo da União Europeia em seu confuso enfrentamento da crise da dívida soberana sempre foi resguardar sua terceira e quarta maior economia dos problemas dos países menores.Mas na semana passada essa política foi posta em séria dúvida pela primeira vez em um período de 18 meses desde que os problemas da Grécia chegaram às manchetes. O rendimento sobre títulos do governo da Itália, de longe o maior mercado de bônus da Europa, atingiu o maior nível desde outubro de 2002.Por outro lado, o custo do dinheiro da Espanha flertou com a alta recorde da era do euro, que foi alcançada apenas duas semanas atrás. Ambos os países estão pagando seu maior ágio de todos os tempos em relação à Alemanha para sua tomada de empréstimos.Os mais recentes aumentos foram desencadeados quando a agência de classificação de risco americana Moody's rebaixou Portugal em quatro marcas, para o status de alto risco ("junk"), na noite de quarta-feira, em meio à persistência dos temores de um episódio de inadimplência da Grécia. As ações dos bancos despencaram, com as do italiano UniCredit registrando queda de 20% esta semana apenas e euro recuando 2% no câmbio com o dólar."[Isso] claramente mostrou que existe risco grave de contágio", diz Asoka Wöhrmann, diretor de investimentos da DWS, maior gestora de recursos da Alemanha. "Os níveis extremos dos spreads na Espanha e Itália indicam o desmoronamento dos mercados que uma inadimplência grega desencadearia." Atingiria não apenas países específicos como Espanha e Itália, mas toda a região do euro. Investidores admitem que há risco cada vez maior de Espanha e Itália serem sugadas pela crise, mas se mostram profundamente divididos ao comentar se esse risco é justificado.Até aqui, a Espanha emitiu mais da metade dos € 93,8 bilhões previstos em dívidas de médio e longo para o ano. Elena Salgado, ministra das Finanças, afirmou que a demanda por dívida espanhola foi "extraordinária" e disse que o país não teria problemas de financiamento. "Não é uma questão espanhola. É uma instabilidade, uma volatilidade que está afetando os mercados de dívida em geral ", disse. Mas Miguel Angel Fernández Ordóñez, presidente do Banco da Espanha, havia dito em maio que um diferencial entre ôs bônus alemães e espanhóis de mais de 200 pontos-base seria "inaceitável" a longo prazo, por representar um custo maior para o setor privado em recuperação. Na sexta-feira, esse spread atingiu 284 pbDidier St. Georges, do comitê de investimentos da Carmignac Gestion, maior gestora de recursos da França, diz que "a reação é exagerada, mas que os mercados começam a assumir o controle e isso pode levar a situações injustas". "Não se pode ignorar isso como gestor de fundos."O resultado é que Carmignac não detém bônus de governos da região do euro, a não ser da Alemanha. Neil Williams, economista-chefe da Hermes, administradora de fundos do Reino Unido, confia na Itália, destacando seu programa orçamentário proativo. Está mais preocupado, no entanto, com a Espanha, que ele teme estar ameaçada de qualquer forma."Se não conseguir aprovar reformas significativas, como as feitas em meados dos anos 90, as agências de risco de crédito e os vigilantes dos bônus voltarão os holofotes para a Espanha, onde o endividamento do setor privado é maior do que a economia."
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