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quarta-feira, 20 de julho de 2011

Crise do euro pode virar Lehman,

Crise do euro pode virar Lehman,
diz FMI
Se a crise da dívida soberana dos países da periferia da zona do euro migrar para suas economias mais fortes, várias regiões do mundo sentirão um impacto praticamente igual ao que experimentaram após a quebra do banco de investimentos americano Lehman Brothers, em setembro de 2008 - inclusive o Brasil. A conclusão é do Fundo Monetário Internacional, que concluiu consultas com autoridades econômicas dos países da zona do euro e, em seus relatórios, mensurou os efeitos globais caso a atual crise atinja alguns dos grandes bancos europeus, como o belga Dexia, o alemão Deutsche Bank, o francês BNP Paribas ou o holandês ING. Se um desses bancos ficar sob pressão, os bancos globais sofreriam contágio, cujos efeitos "seriam bastante importantes para Hungria, Turquia, Reino Unido, Brasil e Rússia", aponta o relatório. "Seria um evento sistêmico que impactaria os sistemas financeiros bem além da Europa".O Fundo estimou as consequências da crise da dívida soberana em seu atual estágio e na hipótese de ela desandar e estender-se às economias mais fortes da união monetária - Alemanha, França, Holanda, Bélgica e Áustria. As chances de turbulências para o Brasil e seu sistema financeiro, no pior cenário, seriam superiores a 40%, tão altas quanto após a falência do Lehman Brothers. Na época, os bancos internacionais reduziram bruscamente suas linhas de crédito e seus negócios no mundo inteiro. Os bancos brasileiros reagiram fazendo o mesmo e a economia mergulhou em rápida recessão por dois trimestres. O preço pago pelo Brasil foi pequeno em relação aos estragos causados nas economias avançadas.O staff do Fundo fez várias simulações sobre os efeitos de eventual atraso no pagamento de dívida, default ou reestruturação dos débitos com perdas forçadas para credores na Grécia, em Portugal e na Irlanda. O calote ainda não ocorreu, nem mesmo com os bancos desses países, hoje sustentados por montanhas de dinheiro do Banco Central Europeu. As linhas de liquidez para os bancos gregos, no último trimestre de 2010 atingiram US$ 130,7 bilhões, US$ 124,8 bilhões para os irlandeses, US$ 54 bilhões para os portugueses e US$ 72,7 bilhões para os espanhóis.Se a crise ficar confinada aos países aonde ela já se instalou, a possibilidade de contágio continuará pequena para o Brasil, um pouco superior a 10%, e, ainda assim, como nota o relatório, devido à "grande presença no país dos bancos espanhóis".Os técnicos do FMI fizeram dois cenários básicos para examinar o impacto sobre o crescimento econômico - o de "tremor" e o de "terremoto". No de "tremor", em que a crise pode se agravar, mas ainda assim ficar restrita a Grécia, Irlanda e Espanha, os choques no crédito bancário e na demanda doméstica equivaleriam "à metade dos experimentados durante a crise do Lehman". No cenário de "terremoto", a diferença é um contágio maior e o crédito bancário levaria uma pancada semelhante ao da bancarrota do Lehman.No primeiro caso, o PIB mundial encolheria 0,2 ponto percentual em 2011 e 0,1 ponto em 2012. No segundo, o mais severo, o crescimento europeu cairia 2,5 pontos percentuais e o PIB mundial, 1 ponto percentual na soma dos dois anos. A América Latina teria seu crescimento reduzido em 0,2 ponto no primeiro cenário e 0,5 ponto no segundo.Tanto o FMI quanto os governos europeus acham que a crise da dívida soberana pode ser confinada e que seu agravamento pode não gerar o mesmo pânico que se seguiu à quebra do Lehman. Segundo o FMI, a extensão da dívida soberana em questão e a exposição a ela são bastante inferiores às existentes em relação ao empréstimos imobiliários subprime em 2008. Além disso, o mercado já reduziu boa parte de suas posições nesses ativos sob risco, limitando o potencial de contágio.

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