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sábado, 11 de dezembro de 2010

A pior praga do café é o livre mercado

Foi realizada na semana passada a edição 75 do Congresso Nacional Cafeeiro, máxima instância da Federacafe (Federação Nacional dos Cafeicultores da Colômbia), instituição que aglutina os produtores do país. Segundo muitos participantes e analistas econômicos, a reunião significou um "sopro amargo" para mais de meio milhão de famílias que têm como principal fonte de receitas a venda do café.

Várias são as razões para que essas famílias produtoras estejam preocupadas. Primeiramente pelo problema do clima. O fortíssimo verão registrado no ano passado e no começo deste, seguido por uma temporada de chuvas inclemente, que afetou gravemente as zonas produtoras. A conseqüência mais grave é o crescimento vertiginoso das pragas e doenças: a broca e a ferrugem, especialmente esta última, que ataca as folhas e debilita sobremaneira as plantas, diminuindo sua capacidade produtiva.

Em Huila, por exemplo, estima-se que 80% das lavouras são susceptíveis a essa enfermidade. Porém, talvez a principal preocupação é a tendência à baixa produção. No ano passado o país teve uma diminuição de mais de 3 milhões de sacas, fechando em um volume de 7,8 milhões de saca. Para responder a seus críticos, o diretor executivo da Federacafe, Luis Genaro Muñoz, anunciou em abril que essa era uma situação transitória, já que neste ano a produção bateria em 11 milhões de sacas. A realidade é que em outubro a produção somava 6,9 milhões de sacas, sendo que, no melhor dos casos, o volume final deverá ser pouco melhor que o de 2009.

São muitas as explicações (justificáveis?) que são dadas para a dramática diminuição da produção: o verão, o inverno, o envelhecimento dos cafezais, a falta de fertilização das lavouras, a falta de controle das pragas, a não adesão de alguns produtores ao programa de renovação com variedades resistentes. A verdade é que a aplicação de uma política de liberdade absoluta de mercado para a comercialização do grão, abandonando a intervenção reguladora do Fundo Nacional do Café, como ocorria no passado — hoje a Federação paga o pior preço do mercado — conduziu ao desmantelamento progressivo da área dedicada à produção do café.

Com os pequenos e médios produtores submetidos ao comportamento selvagem do mercado, com seus preços de venda atacados pelos compradores internos e externos, se chegou a uma situação de extrema pauperização das famílias camponesas e, com seu empobrecimento, o subseqüente abandono dos cultivos. Esses não podem ser atendidos de maneira adequada, com as necessárias fertilizações e com os controles de pragas, para não se falar das indispensáveis renovações dos cafezais envelhecidos. Além disso, uma lavoura débil não pode enfrentar as mudanças climáticas.

Para terminar de agravar o panorama, a Associação dos Exportadores de Café da Colômbia — dirigida pelo tristemente célebre Jorge Enrique Botero, ex-ministro do Comércio do governo Alvaro Uribe, negociador do Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos —, entidade que defende os interesses comerciais dos monopólios internacionais, está exigindo que a Federacafe saia totalmente da atividade comercializadora, entregando a eles a exclusividade a esse clube de privilegiados. Não surpreende a tímida e malemolente resposta do ministro da Agricultura, Juan Camilo Restrepo, à pretensão da entidade exportador. Definitivamente, a pior praga do café é o livre mercado.

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