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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Sinal verde para a proliferação dos controles cambiais

Sinal verde para a proliferação dos controles cambiais

A proliferação das medidas de controle de capital será uma das consequências do
insucesso do G-20 em chegar a algum acordo para restaurar o equilíbrio cambial,
na reunião realizada na semana passada, na capital da Coreia do Sul. Um dos
raros pontos de consenso do G-20 foi exatamente permitir que países emergentes
adotem o controle de capital caso estejam experimentando a valorização
indesejada de suas moedas em função do fluxo extraordinário de capital externo.
Por pressão da comitiva brasileira, o documento final da cúpula de Seul incluiu
em um de seus 74 pontos o sinal verde para o controle de capitais, com a bênção
do Fundo Monetário Internacional (FMI).
A recomendação consta do ponto seis do documento de 17 páginas divulgado pela
cúpula, em que o G-20 trata de políticas monetárias e cambiais. O G-20
recomenda aos países adotar taxas de câmbio flexíveis, que reflitam os
fundamentos econômicos, e a evitar a desvalorização competitiva das moedas.
O ponto seis também autoriza países emergentes com reservas adequadas e câmbio
flexível, mas crescentemente apreciado, a recorrer a medidas macroprudenciais -
codinome para controles de capital - para se protegerem da volatilidade
excessiva do mercado causada pelos fluxos de recursos. Oficialmente, o governo
brasileiro afirma não ter nenhuma carta na manga para arrefecer o forte fluxo
de capital que vem recebendo, especialmente neste ano, e explica a apreciação
do real, com redução de competitividade das exportações e aumento das pressões
internas por medidas para evitar a desindustrialização do país. Mas,
seguramente, não se deve descartar novas medidas, principalmente levando-se em
conta a posição combativa que a comitiva brasileira assumiu em Seul.
Há cerca de um ano, em outubro de 2009, o Ministério da Fazenda reintroduziu o
Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nos investimentos estrangeiros em
renda fixa, com a alíquota de 2%, e, um mês depois, sobre as ações brasileiras
negociadas no exterior, a 1,5%. Neste ano, o IOF sobre renda fixa foi dobrado
para 4% e, pouco depois, passou a 6%. Além disso, o Banco Central (BC) vem
comprando todo o dólar excedente que entra no país.
Os dados indicam que o capital externo não se retraiu significativamente com as
medidas. O balanço do fluxo cambial de outubro mostra a entrada no país de US$
6,91 bilhões, dos quais US$ 5,14 bilhões referentes a operações financeiras - o
segundo maior volume do ano, somente superado pela marca recorde de US$ 13,7
bilhões de setembro, atingida em função dos investimentos estrangeiros atraídos
pela operação de venda de ações da Petrobras.
O arsenal de medidas que o governo brasileiro pode adotar ainda nem foi tocado
e pode incluir o aumento do IOF também para os investimentos em ações, a
ampliação das compras de dólares pelo BC, a cobrança de Imposto de Renda sobre
os rendimentos obtidos pelos investidores estrangeiros e a atuação da
autoridade monetária no mercado futuro de moedas.
O capital externo é atraído para o Brasil por causa das taxas de juros, uma das
mais elevadas do mundo, e também pelos bons resultados do país ao superar a
crise internacional. Mas também influi nesse fluxo anormal de recursos o
excesso de liquidez global, causado pelas políticas monetárias expansionistas
utilizadas pelos governos dos mercados mais desenvolvidos para tentar superar a
crise. O exemplo mais acabado dessa estratégia são os Estados Unidos, que já
injetaram US$ 1,75 trilhão com a compra de títulos em poder dos bancos e agora
preparam-se para despejar mais US$ 900 bilhões nesse tipo de operação. Parte
desses recursos buscam retorno melhor nos mercados emergentes.
Não só o Brasil mas também outros mercados emergentes tomaram medidas de
controle de capital. Depois da crise, aumentaram as medidas de controle do
capital externo, segundo o FMI. No ano passado foram tomadas pouco mais de 100
medidas de controle em comparação com 60 em 2007.
O investimento estrangeiro é normalmente positivo na medida em que complementa
a poupança doméstica e ajuda a financiar o crescimento econômico, dilui as
fontes de capital e contribui para o desenvolvimento do mercado de capitais.
Mas esse fluxo acaba tendo impacto negativo se for tão intenso a ponto de não
ser digerido adequadamente, e causa bolhas de ativos além de depreciar
artificialmente a taxa de câmbio, prejudicando a competitividade do país.

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