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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

G-20 tenta obter um acordo imo sobre guerra cambial

G-20 tenta obter um acordo imo sobre guerra cambial

Às vésperas da reunião de cúpula dos presidentes do G-20, na quinta e
sexta-feira, em Seul, Coreia do Sul, todos os esforços estão sendo feitos para
evitar o fracasso do encontro. O desequilíbrio nas relações comerciais
internacionais, causado pelo deliberado enfraquecimento do dólar e da moeda
chinesa, passou a ser o principal assunto da pauta de discussões, deixando em
segundo plano outros temas como a nova regulação do sistema financeiro.
O clima esquentou quando os Estados Unidos anunciaram, na semana passada, nova
injeção de liquidez nos mercados, por meio da recompra de títulos - o chamado
afrouxamento quantitativo -, para estimular a economia. O Federal Open Market
Committee (Fomc), o comitê de política monetária do Federal Reserve (Fed,
banco central americano), aprovou mais um programa de recompra de títulos do
Tesouro em poder dos bancos, que vai jogar no mercado US$ 75 bilhões por mês,
até o fim do primeiro semestre de 2011, somando US$ 600 bilhões. A injeção
total de dólares chegará a US$ 900 bilhões com a canalização de outros
recursos também para a compra de títulos.
O governo americano já havia gasto US$ 1,75 trilhão em um programa desse tipo,
que terminou no primeiro semestre sem resultados significativos na reativação
da economia, mas com o grave efeito colateral de vazar parte desses recursos
para o exterior, em busca de melhores retornos em mercados emergentes como o
Brasil, que se saíram melhor da crise.
A inundação de dólares enfraqueceu a moeda americana e apreciou quase todas as
demais, acentuando os desequilíbrios comerciais. A exceção é a China, que tira
proveito da situação ao manter sua moeda atrelada ao dólar, e consolida sua
posição no comércio internacional.
Para os Estados Unidos, com desemprego elevado, mercado interno fraco e déficit
crônico em conta corrente, é muito interessante ganhar o mercado internacional
com uma moeda enfraquecida. O presidente Barack Obama, que acaba de sair de uma
das maiores derrotas dos democratas nas urnas, disse, nesta semana, em Nova
Déli, que "o que estimula o crescimento dos Estados Unidos ajuda a causa
global", ressuscitando a velha máxima de que o que é bom para os Estados Unidos
é bom para o mundo. Nesse caso, Obama não deixa de ter razão, segundo o
presidente do banco central de Israel, Stanley Fischer. Se os Estados Unidos
voltarem a crescer, diz Fischer, todos podem voltar a exportar para o mercado
americano.
Mas a reação contrária ao novo programa americano foi grande no resto do mundo.
Em resposta, o presidente do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner,
lançou a proposta de se limitar os déficits e superávits comerciais dos países
a 4% do Produto Interno Bruto (PIB). Quando essa barreira fosse superada, as
contas seriam ajustadas.
Criticados por vários países, os Estados Unidos recuaram. Em vez de limitar o
resultado em conta corrente, propõem agora a criação de um sistema de "alertas
prévios" que indiquem quando os países acumulam déficits ou superávits
excessivos, que devem ser corrigidos. Resta definir esses parâmetros e qual
organismo vai fiscalizar e acompanhar as correções, tarefas que muito
provavelmente ficarão a cargo do Fundo Monetário Internacional (FMI). A
Alemanha, segundo maior exportador do mundo após a China, parece já estar
envolvida nessa tarefa.
Mas o G-20 também deverá discutir as propostas de controle de capital sugeridas
pelo Brasil, que considera um direito dos mercados emergentes limitar os fluxos
que acentuam a valorização cambial.
Correndo por fora, surgiu a proposta do presidente do Banco Mundial, Robert
Zoellick, de que os países devem retomar o padrão-ouro para evitar solavancos
nas moedas. Chamado de Bretton Woods II, o projeto foi recebido com bastante
ceticismo. Segundo Zoellick, dólar, euro, iene, yuan e libra também devem ser
envolvidos. O padrão-ouro, sistema em que as moedas devem ser lastreadas em
reservas de ouro, prevaleceu até o acordo de Bretton Woods, fechado no fim da
Segunda Guerra Mundial. Pelo acordo, o câmbio das moedas era fixo em relação ao
dólar, que era conversível em ouro - o chamado padrão dólar-ouro. Os ativos de
reserva eram o ouro, o dólar e o direito especial de saque (DES), a moeda do
FMI. Mas, em 1971, os Estados Unidos romperam a conversibilidade do dólar em
relação ao ouro e o câmbio passou a flutuante.

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