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terça-feira, 2 de março de 2010

Turbulência financeira golpeia commodities

Turbulência financeira golpeia commodities


Valor Econômico


01/03/10

Futuros: Entre as principais agrícolas, só o algodão, em NY, fechou fevereiro com preço médio superior ao de janeiro

Fernando Lopes, de São Paulo

Os preços internacionais das principais commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no exterior não resistiram aos movimentos financeiros derivados da turbulência em países da Europa, sobretudo a Grécia, e voltaram a perder sustentação em fevereiro.

Cálculos do Valor Data baseados nas médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez) transacionados nas bolsas de Chicago e Nova York mostram que, dos oito produtos que fazem parte do levantamento, apenas o algodão apresentou valorização em relação à média de janeiro. Os demais, mesmo aqueles com fundamentos de oferta e demanda considerados "altistas", registraram variações negativas.

Com os resultados, fecharam o primeiro bimestre com ganhos em relação à média de dezembro de 2009 apenas o açúcar (6,42%) e o suco de laranja (6,02%). Na comparação com as médias de fevereiro do ano passado, sete das commodities do levantamento (açúcar, café, cacau, suco, algodão, soja e milho) ainda aparecem com cotações médias mensais mais elevadas. Só o trigo cai.

Exceção em fevereiro, o algodão, negociado em Nova York, encerrou o mês com cotação média 2,80% superior à de janeiro, segundo o Valor Data. A alta foi construída entre os dias 8 e 23, quando os investidores retomaram posições após baixas anteriores consideráveis. Também colaboraram para o salto as recentes boas compras do produto americano pela China. Apesar da valorização, o produto ainda acumula queda de 0,22% em 2010. Nos últimos doze meses, contudo, o ganho chega a 61%.

Das commodities nova-iorquinas que perderam valor, o suco de laranja foi o menos afetado, com uma queda de apenas 0,26% em relação ao mês anterior. Os problemas na oferta da fruta na Flórida e as perspectivas de redução da produção também em São Paulo - os dois Estados reúnem os dois maiores parques citrícolas do mundo, com larga vantagem para o brasileiro - continuam a oferecer sustentação às cotações, conforme declarações de traders a agências internacionais. Assim, no ano há alta de 6,14%; em 12 meses, de 96,77%.

O preço médio do açúcar, por sua vez, diminuiu 4,59% na comparação com a cotação média de janeiro. Mesmo assim o patamar de negociações continua elevado, principalmente por causa da crise da Índia, que deixou de exportar e voltou a importar em 2009 e segue a mesma trilha em 2010. A valorização acumulada na bolsa de Nova York este ano chega a 5,9%, e em 12 meses, a também expressivos 94,18%.

O café também foi tragado pelas turbulências financeiras e fechou fevereiro com preço médio 5,91% menor que o de janeiro. Mas, como o consumo mundial ainda se mostra pujante, os estoques globais estão magros e a safra da Colômbia foi prejudicada pelo clima adverso, analistas acreditam em recuperação. Mesmo com os fundamentos positivos para as cotações, o produto já apresenta desvalorização de 6,78% em relação à média de dezembro, ainda que em 12 meses os ganhos sejam de 15%.

O cacau completa a lista das principais commodities agrícolas negociadas no mercado nova-iorquino, e seu preço médio recuou 9,02% de janeiro para fevereiro, determinando a retração de 8,26% registrada neste ano, apesar dos eternos problemas políticos que sacodem a Costa do Marfim, maior produtor mundial. Em 12 meses, a valorização é de 17,71%.

Em Chicago, onde são negociadas as commodities agrícolas de maior liquidez e os fundamentos de oferta e demanda são mais "baixistas", só houve quedas de preços médios em fevereiro.

O produto que mais caiu foi o trigo, único de toda a lista que faz parte do levantamento que o Brasil importa aos borbotões. Em fevereiro, o tombo foi de 6,01% em relação à média de janeiro, o que elevou a retração em 2010 para 8,41%; em 12 meses, a confortável relação entre oferta e demanda produz uma queda de 7,96%.

No caso do milho, a baixa em relação a janeiro foi de 5,64%, o que elevou a redução da cotação média em relação a dezembro para 8,31% e reduziu a alta em 12 meses para míseros 0,73%. Não é uma boa notícia para os produtores brasileiros, que viraram o ano muito estocados e contam com as exportações, ainda não regulares, para compensar a maré adversa no mercado doméstico.

Para a soja, carro-chefe do agronegócio brasileiro, a desvalorização do preço médio de fevereiro na comparação ao de janeiro foi de 3,88%, ampliando a perda no ano para 8,91% e diminuindo a alta em 12 meses para 1,72%. Aqui, as movimentações financeiras derivadas da crise europeia e das oscilações do dólar não atuaram sozinhas. Depois da boa colheita nos Estados Unidos no segundo semestre de 2009 e do bom desenvolvimento da safra sul-americana, a oferta tornou-se confortável como o previsto e a erosão poderá inclusive continuar, conforme analistas.

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