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terça-feira, 26 de agosto de 2014

Três especialistas respondem sobre fisiologia cafeeira quando retornarem as chuvas.
Perguntei a 3 especialistas sobre o fragilidade dos estômatos para abrir e fechar corretamente e permanecer fechado depois de grave calor  e estresse hídrico.
Penso que mesmo com o retorno das chuvas , o cafeeiro arabica  não vai ser capaz de transpirar corretamente para reidratar-se .
Pois o problema não é só a obter a água e umidade para as raízes, mas as árvores terem capacidade de utilizar esta umidade.
Isto fará com que haja um desfolhamento excessivo e muitos frutos abortarem.

Meus agradecimentos aos Prof. Rena , Prof. Donizeti e Eng. Flavio Gassen , por imediatamente dividirem  os seus  conhecimentos com a comunidade cafeeira.


Prof. Alemar Braga Rena
Os resultados a seguir foram obtidos com mudas de 10 meses de idade, em sacolinhas com 800 ml de solo, mantidas durante o período experimental sob condições controladas de temperatura (25 C) e irradiância baixa (ca 500 micro-einsteins, por metro quadrado, por segundo, ou seja, aproximadamente 25% da luz solar máxima obtida nas condições de campo), mas o suficiente parar saturar a demanda fotossintética por luz, nas condições experimentais. Foram comparadas as reações de grupos de plantas permanentemente irrigados (controle) e grupos aos quais foi suspensa a irrigação, até que os potenciais hídricos foliares desejados eram alcançados.
Nestas condições ambientais, os seguintes resultados foram obtidos (Osmar Rodrigues e Alemar B. Rena, 1988):
Quando as folhas de Catuaí alcançaram déficits hídricos fortíssimos de -3,5 Mpa em cerca de 10 dias, a turgescência das folhas e a maquinaria fotossintética recuperaram-se em 24 h após o retorno da irrigação, mas o funcionamento dos estômatos, ou seja, a resistência estomática, somente se recuperou completamente nas próximas 72 h. Portanto, tudo voltou ao normal em 3 dias nas condições deste estudo. Mas algumas folhas sofreram a abscisão, ou seja, caíram.
No Mundo Novo, porém, a turgescência recuperou-se em 24 h, mas não a fotossíntese e a abertura estomática, que ficaram permanentemente prejudicadas, digamos, retornaram a apenas uns 20% da eficiência dos controles em duas semanas, mas nunca plenamente, até a queda das folhas. Há ainda que considerar que o Muno Novo  perde muitíssimo mais folhas do que o Catuaí, podendo ficar envaretado.
Entretanto, nas condições de campo a que foram submetidos os cafeeiros em 2014, de altíssimas irradiâncias e temperaturas, as folhas que permaneceram nas plantas jamais retornarão ao que eram após a recuperação da turgescência, que será rápida com a chuva (2 a 3 dias), possivelmente em todos os cultivares de café disponíveis no Brasil.
Se se considerar a morte de raízes pelo déficit hídrico e os danos mecânicos ao sistema radicular pelo descolamento do solo, o quadro pode ser muito mais sério para os cafeeiros desidratados de 2014. Enfim, como eu já afirmei muitas vezes, as plantas poderão não ser mais as mesmas por um bom tempo, digamos meses ou anos, podendo respingar em 2016.

Professor Jose Donizeti Alves
Os estômatos possuem movimento de abertura e fechamento em respostas ao ambiente. Basicamente luz, água, temperatura, CO2 e o hormônio (ABA) regulam esse processo.
Estômatos abertos permite a planta se reidratar, abaixar a temperatura foliar e ao mesmo tempo, absorver CO2 que será transformado em carboidrato pela fotossíntese.
Para que o processo de abertura e fechamento estomático ocorra normalmente é preciso que as células-guardas (células estomáticas) tenham a membrana plasmática intacta e,portanto, funcional.
Seca e alta temperatura por longo período de tempo promove a ruptura da membrana plasmática e a células-guardas se desestruturam e perdem a capacidade de se movimentar.
Com isso os estômatos podem permanecer fechados ou abertos indefinidamente. Se fechados tem-se: murcha das folhas, aumento da temperatura foliar, paralisação da fotossíntese e de todo processo metabólico como um todo que, ao se permanecer nessas condições por muito tempo (poucos dias), culminará com a queda das folhas.
Se permanecerem abertos, a folha irá se desidratar rapidamente, a temperatura foliar ira aumentar drasticamente paralisando todo o processo metabólico e queda de folhas.
Em nossa opinião, o fenômeno de desestruturação da membrana plasmática das células-guardas já esta acontecendo devido a seca e alta temperatura prolongada.

Eng. Flavio Glassen
Os danos citados referentes ao sistema radicular somente representam a parte inicial do sistema hídrico nos vegetais. O stress contínuo das plantas promove a má formação do sistema vascular e sua porção final que são os estômatos e hidatódios. Os pesquisadores Rena e Donizeti abordam muito bem este assunto. Tenho como hábito sempre trazer comigo um clorofilômetro manual (por absorbância) que apresenta o índice verde das folhas, tornando-se útil quando temos a referência numérica de uma folha saudável que varia conforme a genética. As folhas que estão em processo de abcisão por déficit hídrico apresentam redução uniforme no índice verde (diferente dos sintomas nutricionais), partindo da sua posição proximal e direcionando-se à distal (extremidade dos ramos). No momento que as folhas apresentam redução no índice verde por déficit hídrico, os estômatos já estavam comprometidos.  É possível criar um algoritmo para estimar o tempo necessário para que ocorra a abcisão de uma folha (queda), considerando o teor de umidade do solo atual, prognóstico da alteração desta umidade nos próximos dias e a diferença do Índice Verde das folhas atuais relativas ao índice referência. Uma vez deflagrado, o processo de abcisão é irreversível.  A agricultura é um grande canteiro de obras a realizar e este indicador é mais um a ser elaborado.  
Com certeza absoluta, a somatória temporal com déficit hídrico desde janeiro comprometeu a produção de fotoassimilados e o acúmulo de reservas que é significativamente inferior aos anos anteriores. Não há como compensar este tempo perdido com precipitação acima do normal à frente. Se isto ocorrer, cada ponto acima de 80% da capacidade de campo do solo (é necessário ajustar conforme origem do solo), será prejudicial. Por outro lado, não há evidência de precipitação acima do normal para o próximo verão na região sudeste, somente para a região sul do Brasil, Argentina e Uruguai.

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