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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

ESTIAGEM IMPULSIONA PREÇOS DO CAFÉ, AÇÚCAR E SOJA EM FEVEREIRO

A forte estiagem que castiga as regiões produtoras do
Brasil desde o final de janeiro alterou o cenário de preços das principais
commodities brasileiras. Soja, café, açúcar, milho e boi gordo estão
apresentando forte altas tanto nas bolsas internacionais, como no mercado
físico brasileiro.
    As altas mais expressivas são registradas pelo café. O panorama do
mercado mudou radicalmente. No final do ano passado, a previsão de uma grande
safra brasileira mantinha as cotações pressionadas. Mas o sentimento de que a
produção não será tão grande quanto o esperado e, principalmente, a forte
seca mudou completamente este cenário.
    Desde o início do ano, os contratos futuros com entrega em maio subiram
52% na Bolsa de Mercadorias de Nova York. Em fevereiro, quando a seca se
agravou, a cotação subiu 35%. No dia 19, a cotação atingiu o maior nível em
mais de 16 meses, batendo em 172,20 centavos de dólar por bushel.
    A falta de chuvas regulares e as altas temperaturas que atingiram o Sudeste
e o Sul do Brasil em janeiro e também no início de fevereiro vão reduzir o
potencial produtivo da cafeicultura do sul de Minas Gerais na safra 2014/15.
Segundo informações de Rodrigo Alves de Rezende, engenheiro agrônomo da
Cooperativa Agropecuária de Boa Esperança Ltda (Capebe), com sede em Boa
Esperança, no sul de Minas Gerais, as perdas totais para a produção de café
ainda não foram quantificadas, mas são irreversíveis.
   "Para a produção total do Brasil já se fala em quebra de 15 milhões de
sacas em relação ao estimado antes das adversidades climáticas. Para a nossa
região, ainda estamos avaliando os danos, que são concretos e
irreversíveis", frisou Rezende. O preço da saca de 60 quilos do café bebida
boa, tipo 6, na região, saltou de R$ 290,00 no meio de janeiro para R$ 375,00
na quarta, 18, com alta de 29%.

Soja
    Na soja, a estiagem deverá resultar em perdas no potencial produtivo das
lavouras de Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. As
previsões ainda indicam safra recorde, mas o número final deverá ficar abaixo
das projeções mais otimistas.
    Na Bolsa de Mercadorias de Chicago, os contratos com entrega em março
atingiram no dia 18 os melhores níveis em cinco meses. A posição tinha preço
próximo a US$ 13,50, acumulando uma alta de 5,5%. O desempenho é, até certo
ponto, inesperado, tendo em vista a perspectiva de safra recorde na América do
Sul.
    Mas a alta em Chicago tem mais um componente além das preocupações com
as lavouras brasileiras: a forte demanda e o aperto nos estoques dos Estados
Unidos. Desde setembro, os americanos comprometeram exportações superiores a
42 milhões de toneladas, número acima do projetado para toda a temporada
comercial 2013/14.
    "As perdas de safra se avolumaram nas últimas semanas, em função do
tempo majoritariamente seco e do forte calor dominante, envolvendo toda a
região Sul, o estado de São Paulo, e partes de Minas Gerais, Goiás e Mato
Grosso do Sul. O quadro foi satisfatório mesmo apenas no Mato Grosso, com
resultados obtidos superiores às estimativas mais conservadoras e mais
próximas de nossas estimativa", admite o analista de SAFRAS & Mercado,
Flávio França Júnior. Para ele, cresce em importância o clima nas próximas
duas a três semanas, notadamente da parte sul do Paraná para baixo, onde a
normalização das chuvas ainda pode trazer algum alívio e recuperação para
as lavouras.
    No dia 18, a saca de 60 quilos em Cascavel (PR) tinha preço de R$ 66,50.
No mesmo período do mês passado, a cotação era de R$ 64,50. Ainda que o
ganho não tenha sido tão consistente, a elevação chama a atenção por
ocorrer mesmo com o avanço da colheita, período sazonal de pressão sobre as
cotações internas.
    O comportamento do milho é semelhante. Entre o meio de janeiro e o dia 18
de fevereiro, a saca de 60 quilos no mercado Cif de Campinas subiu de R$ 27,50
para R$ 32,50. Em Cascavel (PR), o preço passou de R$ 24,00 para R$ 25,50,
segundo dados de SAFRAS & Mercado.

Açúcar
    A falta de chuvas causou uma drástica mudança de perspectiva também no
mercado internacional do açúcar. O início de ano apontava novo superávit na
relação de oferta e consumo mundial e grandes safras para Brasil e India, os
dois principais produtores e exportadores mundiais da commodity.
    Mas a situação se alterou com as perspectivas desfavoráveis para a
produção brasileira. Os contratos com vencimento em março, negociados na
Bolsa de Mercadorias de Nova York, acumulam em 2014 uma valorização de apenas
0,2%. Em fevereiro, no entanto, a cotação subiu quase 7% por conta da
estiagem, fechando a quinta, 19, a 16,85 centavos de dólar por libra-peso.
    O mercado interno ainda segue estável. Segundo o analista de SAFRAS &
Mercado, Maurício Muruci, há estimativas de perdas nos canaviais em função
das recentes irregularidades climáticas nas principais regiões produtoras
brasileiras.
    A especulada quebra de 36 milhões de toneladas de cana ainda soa prematura
no mercado, que segue em linha reta, sem demonstrar reação, para cima ou para
baixo. O açúcar cristal com até 150 Icumsa encerrou a terça-feira com
preços firmes, a R$ 50,00 a saca de 50 kg em Ribeirão Preto, São Paulo.

Boi gordo
    O quadro climático neste início de 2014 vem trazendo um fator adicional
à composição dos preços no mercado brasileiro de boi gordo. Preços recordes
em pleno período de safra são consequência de uma situação atípica neste
verão brasileiro: a forte estiagem que assola a maior parte das regiões
produtoras.
     "A estiagem atingiu as regiões de pastagem, não possibilitando o ganho
de peso do gado. A oferta agora é limitada a algum gado suplementado e do Mato
Grosso, estado que manteve boas chuvas neste verão", avalia o analista de
SAFRAS & Mercado, Paulo Molinari.
     O analista ressalva que ainda há um bom sintoma na demanda interna e na
exportação. Os frigoríficos vão sendo obrigados a subir preços na tentativa
de encontrar alguma oferta para atender os abates e também corrigiram preços
no atacado diante da diferença forte de preços entre o boi e a carne. "A
alta da carne no atacado pode contrair a demanda interna e talvez até a
exportação, fato que pode manter algumas limitações para novas fortes altas.
Por outro lado, há necessidade de melhoria das condições de chuvas para
retomar a condição das pastagens ainda a tempo de ajudar o ganho de peso do
gado", completa Molinari.
    Fevereiro vem sendo marcado por preços recordes no mercado de boi gordo,
com níveis de R$ 120/@ base São Paulo, apesar de que alguns compradores ainda
revelam sua capacidade adicional de compra a R$ 115/@ a prazo. Muitos lotes
chegando do Mato Grosso, única região neste momento com boi de bom peso para
abate. Algumas ofertas de gado suplementado em pleno período de safra também
vêm tentando abastecer os frigoríficos.

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