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terça-feira, 20 de setembro de 2011

Recuperação do dólar pode ser má notícia para Wall Street

Recuperação do dólar pode ser má notícia para Wall Street
A recuperação do dólar americano pode ser a última coisa que os investidores em ações queriam ver depois do um tórrido verão em Wall Street.Durante boa parte dos últimos 12 meses, a fragilidade do dólar foi vista pelos investidores como um fator impulsionador para as ações americanas, que muitas vezes ajudou a aumentar os lucros trimestrais de uma série de empresas americanas de atuação mundial, como a McDonald's, a Johnson & Johnson, a Coca-Cola e a PepsiCo.Mas, na ausência de qualquer sinal de um fim para a crise da dívida da zona do euro, o dólar se valorizou significativamente, chegando à alta recorde do último período de quase sete meses, em termos ponderados pelo comércio exterior. Num momento em que alguns analistas cambiais preveem novas quedas para o euro, até mesmo rumo ao US$ 1,20, em relação ao seu nível atual de US$ 1,364, as expectativas de lucros para o S&P 500 poderão deteriorar ainda mais, o que pressionará o índice referencial americano."A recuperação do dólar é uma faca de dois gumes", diz Bruce Bittles, estrategista-chefe de transações em bolsa da administradora de grandes fortunas Baird. "A força relativa do dólar está atraindo ativos do exterior, mas pode trazer problemas para os nossos mercados de exportação e alterar a equação das empresas de atuação mundial na hora de reconverter os lucros em dólares."Nos últimos anos, a desvalorização do dólar ajudou muitas exportadoras americanas, ao aumentar o acesso de seus produtos no exterior. A John Deere, por exemplo, maior fabricante mundial de tratores, é uma das empresas para as quais o valor do dólar tem muita influência sobre os resultados, no repatriamento dos lucros gerados no exterior.Antes da temporada de divulgação de resultados do terceiro trimestre, mês que vem, os analistas reduziram suas previsões de crescimento dos lucros por ação para o S&P 500 dos 16,4% do início de julho para 13,5%, segundo a FactSet.Mas a alta do dólar não será prejudicial para todos os setores. De modo geral, os períodos de fragilidade do dólar foram compensadores para os industriais e os setores americanos de matérias-primas e insumos, além de assistirem ao bom desempenho de alguns nomes nas áreas de produtos energéticos e de tecnologia, segundo o Citi. Um dólar fraco também tende a impulsionar a área de hardware e equipamentos tecnológicos. Mas, segundo o Citi, um dólar mais valorizado favorece o setor de softwares e serviços tecnológicos, além de elevar as ações das empresas da área de saúde."O dólar tem algum impacto, mas este não é, absolutamente, o fim do mundo", diz Tobias Levkovich, estrategista-chefe de ações americanas do Citi, que estima que 30% das vendas das empresas constantes do S&P 500 são realizadas fora dos Estados Unidos, 20% das quais na Europa.Ele acrescenta que há vantagens decorrentes da alta do dólar, que poderá resultar "na queda dos preços das commodities, fator que ajudará a economia e o mercado de capitais como um todo".Outras pessoas também se mostram relativamente despreocupadas com os efeitos da alta do dólar."O dólar foi, com certeza, uma vantagem para muitas das nossas empresas, mas, neste momento, não estamos preocupados demais com ele", diz Eric Schenstein, diretor da Jensen Investment Management, com uma carteira US$ 5 bilhões em ativos administrados.Embora a carteira da Jensen, composta principalmente de empresas de alto valor de mercado, tenha mais de 50% dos lucros de suas participantes gerados fora dos EUA, Schenstein diz: "As grandes empresas sabem administrar sua exposição e estão nos mercados emergentes há anos."Ele também observa que a diversificação das exposições das empresas fará com que as discrepâncias entre as moedas asiáticas e as latino-americanas em relação ao dólar possam neutralizar-se mutuamente.Outras grandes empresas americanas da indústria de transformação moldaram suas empresas deliberadamente de forma a restringir o impacto das variações cambiais. Defrontadas com o rápido crescimento nos mercados emergentes, as grandes indústrias multinacionais americanas abriram subsidiárias no mundo inteiro, nos últimos anos, para reduzir o risco representado pelas flutuações cambiais e conquistar apoio político e do mercado consumidor local para os seus produtos.Algumas empresas evitam o risco cambial realizando todos os seus negócios em dólares americanos. A fabricante de aeronaves Boeing, a maior exportadora americana, realiza vendas em âmbito internacional num mercado totalmente denominado em dólar.Mesmo assim, muitos encaram a valorização do dólar como um inquestionável fator negativo para o mercado de ações americano, que até esta altura do ano se manteve melhor do que muitas outras bolsas do mundo.Michael Kastner, diretor da Halyard Asset Management, diz: "O dólar é coisa a ser observada, e [sua alta] deverá ter um impacto, sem dúvida."Com a intensificação dos temores de um desaquecimento do crescimento mundial, os investidores em ações americanas estarão torcendo para que qualquer revés decorrente da valorização do dólar seja mínimo.

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