A DESCULPA QUE FALTAVA
O mercado de açúcar em NY fechou a semana com baixa de 34 dólares por tonelada, com o outubro mergulhando para 27,52 centavos de dólar por libra-peso uma queda que se alastrou para os demais meses de vencimento. Os preços médios da safra 2012/2013 caíram 13 dólares por tonelada e os da safra seguinte 2,50 dólares por tonelada. Só um detalhe: há duas semanas o mercado fechara a 29,18 centavos de dólar por libra-peso e o dólar a 1,6360 e na última sexta, 27,52 e 1,7320, respectivamente, rigorosamente iguais em reais. Preocupações no cenário econômico mundial derramam um caminhão de melancias na área comercial com incertezas de toda matiz: culpe a decepcionante entrega de açúcar branco em Londres, ou rumores não confirmados de uma possível liquidação de posição comprada em açúcar de um banco europeu, e o desencadeador principal: o número de safra do Centro Sul divulgado pela Canaplan (que não mexeu no total de cana produzida, mas alterou o mix de produção reduzindo o etanol e aumentando a disponibilidade de açúcar em 1,5 milhão de toneladas). Note que engraçado: o número de cana moída não mudou, os vasos são comunicantes. A cana não se reproduz por biogênese! Ou seja, o mercado precisava de uma boa desculpa para realizar. Pronto, encontrou! Os níveis atuais se constituem em oportunidade de compra. Alguém duvida? O vencimento das opções de outubro na última quinta foi um evento pálido. Nada ocorreu de interessante. Quem vendeu volatilidade ao longo do tempo (venda de opções pura neutralizando o risco direcional com futuros) ganhou dinheiro. O pessoal da inteligência de mercado da maioria das empresas começa a reduzir o tal superávit mundial de açúcar de que se falava tanto há algumas semanas. Algumas reduções foram de tirar o fôlego. De qualquer maneira, a queda na semana fez os consumidores industriais aproveitarem para fixar preço de matéria prima. De volta ao básico, a questão é a seguinte: é evidente que o mercado internacional de açúcar cedo ou tarde iria corrigir preços, mas uma análise mais criteriosa remete à situação de oferta limitada que teremos por parte do Brasil nos próximos anos em função da falta de investimentos e do aumento do potencial de consumo de combustível via aumento de frota.O hidratado, por exemplo, pelo modelo da Archer Consulting tem consumo projetado para crescer 65% em cinco anos sobre o nível de consumo atual. Cadê a cana pra isso? Esse aumento acima, contempla que a frota brasileira crescerá em média 4% nos próximos 5 anos. Se reduzirmos o crescimento para 2% apenas, nosso consumo de hidratado chegaria a 30 bilhões de litros em 2015. Tem muito chão até 2015 e muita coisa pode acontecer. Com a temerosa ressurreição do intervencionismo estatal brasileiro, corremos o risco de ver o setor no longo prazo voltando ao açúcar e usando etanol (anidro) apenas como mistura. Um trader que transita pela região da Paulista observa que hoje está “mais competitivo expandir beterraba na Rússia a cana no Brasil” e que “a inflação de custos no Brasil viabiliza outros produtores”. Aliás, o economista Jose Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, tem batido insistentemente nessa tecla em recentes artigos. Por outro lado, o racional é que novos investimentos aqui ou lá fora, ocorrerão desde que o mercado internacional de açúcar esteja remunerando acima dos 20 centavos de dólar por libra-peso. É nessa vizinhança de preços que mora o conforto. Alguém aí tem coragem de ficar vendido 2012/2013 ou mesmo 2013/2014 abaixo desse nível? Nem por brincadeira. Vender puts (opções de venda) próximas do preço de custo ao longo dessa curva pode ser uma boa estratégia para os consumidores industriais de açúcar. Apenas para checar os números: o modelo da Archer Consulting estima que as fixações de açúcar para a safra 2011/2012 ficaram na média em 24,26 centavos de dólar por libra-peso. O volume fixado da safra é estimado em 94%. Nos últimos 12 meses o acumulado de exportação de açúcar do Brasil (setembro/2010 até agosto/2011) é de 27,15 milhões de toneladas que renderam US$ 14,48 bilhões (preço médio de 23,26 centavos de dólar por libra-peso). No mesmo período, exportamos 1,847 bilhão de litros de etanol arrecadando US$ 1,169 bilhão (US$ 0,639 por litro). Segundo um trader de etanol, o Brasil está apenas fazendo um swap, importando anidro, especificação Brasil e exportando hidratado e industrial 1,4 bilhão de litros. Correção: no comentário da semana passada, dissemos que o retorno do hidratado era de “apenas 1,82% sobre o custo de produção, sem considerar o custo financeiro”. Erramos. O correto seria “considerando o custo financeiro”. A margem sem custo financeiro está acima de 15%. A Top Hint Soluções, parceira da Archer Consulting para softwares avançados de gestão de risco, está disponibilizando gratuitamente para os leitores deste relatório um aplicativo para o cálculo de prêmio de opções e das gregas, muito fácil de usar. Para acessá-lo basta clicar no seguinte link: http://www.tophint.com.br/tophintarcher/ths_bs_calc.html O Fundo administrado pela Archer Consulting, que esperamos disponibilizar para mais investidores num futuro próximo, com a expiração das opções de outubro, atingiu uma rentabilidade líquida para o investidor de 119,0772% ao ano em pouco menos de seis meses de existência. Bons negócios e um excelente final de semana para todos. Arnaldo Luiz Corrêa
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