China sai vencedora, mas futuro é incerto
11/9/2001 O DIA QUE MARCOU UMA DÉCADA
Em dez anos, país triplicou peso no PIB global, sugando a dívida emitida pelos EUA para financiar duas guerras Coesão, desigualdade e resistência de vizinhos são obstáculos à força do país, que tem 9,3% da economia mundial Entre 2001 e este ano, enquanto os EUA travavam a "guerra ao terror", a China passou de sexta a segunda maior economia do mundo. Seu peso na produção global quase triplicou, de 3,7% para 9,3%; o dos EUA caiu de 31% para 23%. Enquanto os americanos ocupavam Iraque e Afeganistão, a China sugava a dívida emitida por Washington. Produtos chineses ajudaram a manter baixa a inflação nos EUA, que cresciam até 2008 sustentados em uma bolha de crédito.Depois que a China entrou na Organização Mundial do Comércio, em 2001, seu superavit comercial com os EUA aumentou 230%, embora parte dele deva-se a vendas de empresas americanas em território chinês.Salvo uma catástrofe, em algum momento até 2030 o PIB da China ultrapassará o dos EUA, mas sua renda per capita ainda equivalerá a um quarto da americana.Os dados acima reforçam a conclusão de que a China emergiu como vencedora da década pós-11 de Setembro. Ao mesmo tempo, embasam prognósticos divergentes sobre o significado disso no resto deste século."O abraço econômico de EUA e China impede medidas radicais. A China se beneficiou da ordem criada pelos ocidentais e preza o status quo. Em curto e médio prazo, não tentará derrubar o sistema", diz Oliver Stuenkel, professor da FGV-SP. Nas projeções de longo prazo, a maioria dos analistas é mais cautelosa do que Arvind Subramanian, do Instituto Peterson de Economia Internacional: na "Foreign Affairs", previu que em duas décadas o mundo não será multipolar, mas "quase unipolar, dominado pela China".Na mesma revista, o sinólogo Andrew Nathan (Universidade Columbia), lista obstáculos à ascensão chinesa. A potência asiática devota "enormes recursos" a evitar a independência de Taiwan e a manter a coesão interna, incluindo nas províncias de Xinjiang e do Tibete, que formam quase metade do território e são habitadas por minorias étnico-religiosas. No entorno, estão países instáveis como Mianmar e Coreia do Norte. Outros -Índia, Japão, Vietnã- são beneficiados pelo crescimento econômico chinês mas não estão dispostos a conceder a Pequim a primazia militar ou política regional. "A China enfrenta obstáculos que os EUA nunca enfrentaram na própria região", afirma Stuenkel. MILITARESA China vem aumentando os gastos militares, mas eles são ainda 7,3% de um total mundial em que os EUA entram com 43%. Ficou mais dura sobre as disputas marítimas e acaba de lançar seu primeiro porta-aviões.Os EUA, porém, têm 11 navios do tipo e constroem dois. Mantêm o domínio militar na Ásia, com 100 mil soldados só no Japão e Coreia do Sul."Quanto mais a China ascender, mais seus vizinhos tenderão a contrabalançar aproximando-se dos EUA", escreve Nathan. A prudência dá o tom de um relatório recente do Banco de Desenvolvimento Asiático sobre a possibilidade de que a região represente, em 2050, mais da metade da economia mundial.Nos "múltiplos riscos" a serem gerenciados por China e outros emergentes asiáticos, o banco inclui as crescentes desigualdades internas e a transição de um modelo de crescimento movido a capital e mão de obra abundantes para outro baseado no aumento da produtividade, via avanços tecnológicos.Para a corrente majoritária nos EUA, o país deterá o avanço chinês se impedir o próprio declínio.
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