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quinta-feira, 26 de maio de 2011

EUA continuam vulneráveis a novas crises, diz Barnett

EUA continuam vulneráveis a novas crises, diz Barnett

A grande flexibilidade da economia americana deve levar os Estados Unidos a se
recuperar da crise e superar a estagnação, mas o país continua vulnerável aos
mesmos problemas que levaram à enorme turbulência de 2008, adverte o professor
William Barnett, da Universidade de Kansas. Para ele, o uso de estatísticas
monetárias de má qualidade pelo Federal Reserve (Fed, o banco central
americano) levou tanto o setor privado quanto o próprio Fed a tomarem decisões
com base em informações inadequadas, o motivo decisivo, segundo ele, para a
eclosão da crise, e um problema que segue presente. "As causas reais da crise
não foram adequadamente enfrentadas", diz Barnett, que falou ao Valor por
e-mail.
"Os meus dados mostram que o crescimento das taxas de agregados monetários
antes da crise eram muito maiores do que os números do Fed indicavam. Como
resultado, a política do Fed alimentava as bolhas sem que o conselho do banco
soubesse disso", afirma Barnett, que critica o uso pelos bancos centrais da
soma simples de agregados monetários - o mais adequado, segundo ele, é utilizar
um indicador que leve em conta a evolução ponderada da taxa de crescimento
desses agregados (que vão do papel moeda em circulação e os depósitos à vista
até os títulos da dívida pública e alguns títulos privados).
Barnett era um dos principais convidados do seminário "Avanços na
macroeconomia", que ocorrerá de hoje a sábado no Rio de Janeiro, em comemoração
aos 50 anos da Escola de Pós-Graduação em Economia (EPGE) da Fundação Getúlio
Vargas (FGV). Mas, ele desistiu da viagem já que não conseguiria chegar a tempo
ao Rio, porque tornados fecharam aeroportos nos EUA. Para Barnett, a combinação
de política monetária muito frouxa e desregulação do sistema financeiro de fato
contribuiu para a eclosão da crise, como defendem muitos analistas, mas a fonte
mais profunda dos problemas é a questão do mau uso de dados monetários.
O economista observa que, nos anos que levaram a crise, "a complexidade
financeira aumentou dramaticamente como resultado de inovações como os swaps de
default de crédito (CDS, na sigla em inglês)". Nesse quadro, era fundamental
ter mais informações, e de melhor qualidade. "Mas, em vez disso, a quantidade e
a qualidade dos dados provenientes do Fed pioraram. Uma economia privada e
descentralizada não pode operar adequadamente sem que os agentes sejam bem
informados. A necessidade de informação aumentou, mas a disponibilidade e
qualidade da informação diminuiu."
Dada a capacidade de reação da economia americana a choques adversos, Barnett
diz esperar a recuperação dos EUA, que ainda mostra uma atividade econômica
hesitante. O setor privado, acredita ele, tem hoje um entendimento mais claro
dos riscos na economia. "Ninguém mais acredita nos mitos sobre como os bancos
domaram permanentemente o ciclo de negócios." Apesar disso, a economia
americana deverá continuar vulnerável aos mesmos problemas de antes,
resultantes de um setor privado informado de modo inadequado, num ambiente
econômico cada vez mais complexo, adverte o economista, que por oito anos
trabalhou na divisão de estudos especiais do Fed.
Barnett mostra ceticismo quanto à política de afrouxamento quantitativo
promovida pelo Fed, marcada pela compra maciça de títulos públicos e privados.
"O chamado afrouxamento quantitativo levou a um enorme aumento das reservas
bancárias acumuladas pelos bancos e não emprestadas. Como o Fed paga juros
sobre elas, por que os bancos deveriam assumir o risco de fazer empréstimos?",
pergunta ele, para quem é "irrelevante" se o Fed continua ou não com a segunda
rodada do afrouxamenteo quantitativo. "Com ele ou sem ele, diz Barnett, o Fed
está olhando em todas os lugares errados em busca de indicadores para definir
sua política. "Os meus dados sugerem que, uma vez que a crise financeira
começou, a política do Fed se tornou extremamente restritiva, tornando desse
modo a recessão na 'Grande Recessão'."
Barnett combate a tendência de se buscar bodes expiatórios que surgiu depois da
crise. Para ele, a questão é que as pessoas tomaram decisões com base em
informações inadequadas, de má qualidade.

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