Mecanização é viável para 68% da áreas no Sul de MG
Valor Econômico
Estudo da Universidade Federal de Lavras (UFLA) mostra que produzir café no Sul de Minas pode ser mais lucrativo do que é atualmente. Diferentemente do que se imaginava, a região conhecida por sua topografia montanhosa, de clima ameno e chuvoso, tem alto potencial para ampliar a mecanização da colheita das lavouras, reduzindo assim o peso do item mais caro no custo de produção do café.
Segundo o professor do Departamento de Engenharia da UFLA, Fabio Moreira da Silva, responsável pelo estudo, 68% das áreas de café do Sul de Minas têm condições de receber as colheitadeiras para mecanizar a retirada do café das árvores. O professor observa que, atualmente, a região, responsável por 25% da produção nacional e por quase 10% da oferta mundial de café, tem menos da metade da sua área mecanizada.
O levantamento da UFLA indica que a redução no custo da colheita pode oscilar entre 26,8% e 61,7%, dependendo do sistema adotado em cada fazenda. Em propriedades que usam a colheita manual, o custo do sistema costuma variar entre R$ 2.350 e R$ 2.400 por hectare. Para quem usa a derriça semimecanizada, o hectare de café colhido custa entre R$ 1.230 e R$ 1.288, segundo a UFLA. Quando a colheitadeira é introduzida, porém, o custo para retirada dos frutos da planta fica entre R$ 900,60 e R$ 1.015,15 por hectare.
"Houve um tempo que a mecanização era malvista devido à experiência negativa de meados da década de 80. Naquele período, as lavouras não estavam preparadas, com plantas muito altas e pouca experiência", afirma Silva. Ele lembra, contudo, que uma nova tentativa ocorreu em 2008 com a falta de mão de obra nos cafezais, mas que foi limitada pela crise financeira mundial.
Diferentemente do que pregam os colombianos, mecanizar a colheita não piora a qualidade do café. No caso brasileiro pode até melhorar. A derriça - sistema mais utilizado para colher café no Brasil - mistura os grãos verdes e maduros, o que reduz a qualidade do produto. "Hoje é possível fazer regulagens para realizar com máquinas praticamente o que os colombianos fazem com a mão, seletivamente", diz Vanusia Nogueira, superintendente do Centro de Excelência de Café do Sul de Minas.
O uso de uma colheitadeira é capaz de substituir a mão de obra humana, reduzir custos e tornar a produção mais eficiente. A máquina, contudo, tem seu custo e ele não é pequeno. O preço de cada colheitadeira de café oscila entre R$ 450 mil e R$ 500 mil, valor alto para uma atividade onde predominam agricultores familiares, em propriedades de pequeno porte. "Hoje, só não coloca máquina para colher quem não tem condição de comprar", afirma Carlos Paulino, presidente da Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé), maior cooperativa de café do mundo.
Há, contudo, outros fatores que limitam a adoção mais intensa de máquinas na colheita. O fato de a inclinação dos terrenos em algumas áreas gerar perdas de até 14% talvez seja o principal deles. "Esse é um índice muito alto, principalmente quando comparado aos das lavouras de soja e milho, onde as perdas médias são de 3% e 5%, respectivamente. Em algumas experiências, no entanto, fazendo ajustes nas máquinas, já conseguimos reduzir as perdas nos cafezais para 7%", afirma Silva, da UFLA
Outro gargalo à mecanização é a necessidade de fazer ajustes nos cafezais, como o plantio dos pés em linhas retas e não em curvas, como era feito em lavouras mais antigas. Além disso, a infraestrutura das fazendas precisa estar adequada, uma vez que as máquinas são mais rápidas e eficientes. "Existem alguns paradigmas a serem quebrados", afirma Vanusia.
Apesar de o Sul de Minas estar atrasado, outras regiões já fazem uso das colheitadeiras. Estimativas da P&A, consultoria especializada em café, mostram que 18% da colheita no país já é feita com o uso dessas máquinas, especialmente no oeste da Bahia e no cerrado mineiro. A maior parte da colheita, porém, é feita por meio da derriça, seja ela mecânica (15%) ou manual (61%). Os 6% restantes são de colheita manual.
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