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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

MAIOR PROCURA POR OUTROS TIPOS DE CAFÉ

MAIOR PROCURA POR OUTROS TIPOS DE CAFÉ
A primeira semana do ano de 2011 começou com uma forte queda das commodities, provocada principalmente pela valorização forte do dólar americano. Na sequência o que vimos foram declarações fortes de apoio ao Euro, com a China iniciando a rodada dizendo que continuará a investir suas reservas na moeda comum européia, seguida pelo Japão prometendo apoio na compra de títulos relacionados ao pacote de ajuda da região, e finalmente os governos da própria Europa se dizendo comprometidos em ajudar os países que estão em situação economicamente desconfortável. A retórica ajudou a recuperação do Euro que subiu 5.88% das mínimas vistas no dia 10 de janeiro, estando agora no patamar mais alto desde 23 de novembro de 2010.

Desde meu último relatório escrito em português no dia 19 de dezembro de 2010, tivemos entre os principais acontecimentos o incremento dos juros na China e no Brasil, o aumento do compulsório na China, a divulgação de índices inflacionários acima dos previstos para os Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e alguns países emergentes, e finalmente o crescimento do PIB chinês no último trimestre de 2010 maior do que esperado. Este último fato, ocorrido nesta semana, provocou uma forte queda das commodities no dia de sua divulgação (incluindo o café) em função dos investidores se mostrarem receosos com uma nova rodada de aperto da política monetária do principal consumidor de várias commodities. A China é hoje responsável por mais de 40% do consumo mundial de minério de ferro, de zinco, de aço, e de algodão. De cobre o percentual de consumo está em torno de 38%. O país também responde por 31% do consumo global de borracha, 30% do consumo de arroz, 29% de óleo de palma, 24% de soj a, 19.5% de milho e quase 10% de petróleo. Os números servem para ilustrar o porquê das oscilações que atingem os mercados quando algum dado econômico é divulgado do país asiático.

O inicio do comentário falando do macro é proposital para que eu possa expressar a minha opinião com os riscos de baixa que poderemos ter para o café. Creio que o café continuará subindo, surpreendendo muitos, a não ser que vejamos uma aversão ao risco provocada por uma nova onda de notícias negativas na Europa ou nos Estados Unidos, ou então uma forte valorização da moeda americana, assim como mudanças de políticas monetárias (contracionistas). Em outras palavras o fundamento do café é positivo, e se o macro não atrapalhar não consigo visualizar quem vai vender este mercado.

As novas altas que vimos tanto na bolsa de Nova Iorque, como na de Londres e na de São Paulo, nos dão a clara dimensão do momento que vivemos. Nem mesmo a venda de mais de 10 mil lotes dos fundos de índice, que ajustaram suas posições no contrato “C” durante 5 sessões a partir do quinto dia útil do ano, conseguiu evitar com que os preços do terminal subissem. O que impressiona, mesmo os mais altistas, é que apesar das altas os diferenciais não enfraqueceram em praticamente nenhuma origem. Até no Brasil, que supostamente colheu a maior safra de sua história, e que tem exportado volumes recordes, a bolsa local (BM&F) subiu mais do que a ICE, ou seja a arbitragem estreitou ainda mais, encerrando na última sexta-feira em US$ 14.00 por saca. Impressionante!!! Isto indica que os produtores/exportadores podem falar aos compradores internacionais de café fine-cup que caso não melhorarem suas ofertas não levarão o produto.

O cenário nos dá a entender de que a indústria ou terá que pagar os preços pedidos, ou buscará alternativas não tão caras – o que servirá para ratificar o mercado altista que vivemos. Assumindo-se que de fato o volume de café fino disponível, não apenas no Brasil mas nos outros países produtores, seja pequeno, não há o que fazer a não ser comprar outros tipos de café. Da mesma forma que os torrefadores tiveram que forçosamente usar mais café brasileiro natural nos seus blends – dada a menor produção de café lavado (ou suave) – a próxima alternativa terá que ser usar cafés good cup (sem falar de uma maior utilização de conillon/robusta). Uma coisa é certa, algum tipo de café terá que ser torrado para continuar a abastecer a demanda!!

Desta forma acredito que veremos muito provavelmente o seguinte: uma maior utilização dos cafés (em sua maioria velhos) certificados na bolsa de Nova Iorque; o estreitamente da arbitragem entre Londres e Nova Iorque – hoje o robusta negociado na LIFFE está US$ 185 por saca mais barato do que o arábica negociado na ICE; e finalmente o estreitamento dos preços entre cafés “não finos” e café finos – ou seja o preço do good cup vai ficar mais próximo do fine cup, entre outros. Por consequência o café baixo, ou o café usado para o consumo-interno no Brasil, também apreciará, isto depois de ter provocado um prejuízo danado nos balanços dos comerciantes de café no ano passado.

Isso tudo fará com que os baixistas que dizem que o preço do café é resultado de especulação, dado que não há falta do produto, tenham mais um sinal de que por mais caro que acreditem estar o preço de uma saca de café, ela poderá encarecer mais. Dirão que isto não é sustentável, pois o remédio para preços altos são preços altos (o que estimula maior produção). Isto lá é verdade, porém como o ciclo do café é mais longo, e estaremos entrando em um ciclo de produção deficitário por causa da safra menor brasileira, assim como as chuvas na Colômbia e doenças no cafezal deles atrapalharam mais uma vez o país a recuperar sua produção, o ciclo de preços altos ainda não acabou. Os baixistas também dizem que começaremos a ver uma destruição da demanda, com consumidores se negando a pagar mais pelo seu cafezinho, porém eu acho que a indústria acabará (forçosamente?) mudando o blend, o que vai servir para que os preços do torrado e moído no varejo não sofram tantas majorações.

Os que não têm cobertura de alta (hedge) devem aproveitar as volatilidades baixas do mercado de opções (andaram massacrando-as no começo do ano) para se proteger. O mesmo vale para quem tem surfado as altas sem hedge algum no físico, pois por mais que creiam – assim como eu – que os preços continuarão a subir, comprar um seguro ajuda a não ficar arrependido caso o cenário macro deteriore.

Tenham todos um excelente 2011.
Rodrigo Costa*

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