Seminário do Guarujá – maio de 2010
Realizado nos dias 18 e 19 de maio, no Guarujá/SP, o Seminário Internacional de Café de Santos reuniu especialistas e líderes do setor para retomar conceitos e propor novas estratégias e caminhos para aprimorar técnicas de produção sustentável e de comercialização de café; avaliar as mudanças no comportamento do mercado consumidor, nas mais diferentes regiões do mundo, na expectativa permanente de ampliar as exportações do café brasileiro.
Michael Timm abriu o evento e fez questão de esclarecer que o agronegócio se tornou mais eficiente nos últimos anos. De 2000 até hoje o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou de US$ 645 bilhões para US$ 1,57 trilhão em 2009 - um aumento de 143%. A produção de café aumentou menos de 25%, frente a 51% do total da agricultura.
Para que o Brasil possa continuar competindo e crescendo, ainda tem alguns obstáculos que precisam ser superados, tais como: investimentos em infraestrutura - "sem boas estradas, ferrovias aeroportos e portos não vamos conseguir manter a competitividade dos produtos brasileiros; reforma tributária - temos um sistema tributário muito complexo, com mais de 30 impostos e taxas, e que tributa o consumo de maneira exagerada; educação e saúde - setores em que os indicadores ainda deixam muito a desejar", comentou Timm.
Manoel Bertone afirmou que o Brasil encontra-se naturalmente sustentável em relação aos demais países produtores de café. "Sustentável porque o Brasil tem a melhor legislação trabalhista e a mais severa legislação ambiental do mundo. Apesar de todas as dificuldades as safras estão crescendo". Bertone acrescentou que os médios produtores são os que estão sentindo mais dificuldade para se manter no mercado. "Os pequenos e grandes recebem amparo financeiro". No Brasil, 80% dos produtores são considerados pequenos.
O Brasil tem grandes oportunidades. Cada vez mais se buscam cafés brasileiros e os demais países dependem desse café. Bertone pede aos vendedores que se esforcem em vender os cafés brasileiros, pois o mundo quer o Brasil.
O Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo. Estimativas apontam uma produção de 47 a 55 milhões de sacas de 60 quilos de café beneficiado, para 2010/11. Guilherme Braga (diretor geral do Cecafé), Celso Luis Vegro (Eng. Agrônomo e pesquisador do IEA) e Sylvia Saes (professora da FEA/USP), discutiram a produção brasileira da safra 2010/11.
Guilherme Braga comentou que o volume de produção é essencial para tomada de decisão dos agentes do setor, porém "as previsões de safras são consideradas carentes e com viés corporativo". Ele afirma que as divergências de opiniões em relação aos números das safras brasileiras não são recentes.
Hoje, os estados de São Paulo e Paraná utilizam métodos objetivos para levantamentos e previsões de safras, ou seja, realizam visitas em propriedades do estado e as monitoram. Já nos demais estados, as previsões utilizam metodologias subjetivas por meio de entrevistas com diversos órgãos dos estados, construindo-se assim um resultado que pode não ser real.
Dados do IBGE demostram que de 1996 a 2006 houve redução de 6,9% na área colhida e crescimento de produção de 26%, o que demonstra o aumento da produtividades dos cafezais brasileiros, motivado principalmente pelos investimentos em tecnologia.
Sylvia Saes comentou que mais da metade dos entrevistados no levantamento do IBGE trabalham com apenas um comprador, sendo que 11% do total afirmaram que já têm relacionamento com o comprador há mais de 30 anos. Sylvia explica que quanto maior o tempo de relacionamento entre comprador e vendedor, menor é o requisito preço pois o que passa a valer mais é a confiança.
Em relação as divergências entre as fontes que realizam os levantamentos estatísticos brasileiros, alguns dados como área plantada e colhida colhida coincidem entre as fontes Conab e IBGE, porém os números de produtividade não. IBGE aponta produtividade de 20 sacas/ha enquanto Conab aponta 22,14 sacas/ha.
Braga comentou que a cafeicultura brasileira tem que ser avaliada dentro das características comuns entre as diferentes regiões. Diante disso, a cafeicultura de montanha representa 29% do total, tendo uma característica de produção familiar que pode ser vocacionada para cafés especiais. Já o cerrado mineiro representa 33% do total, sendo o "filé mignon" da cafeicultura, com áreas maiores de produção, mecanizadas e com tendência de aumentar a produção de café via úmida. A região nordeste do Brasil também tem possibilidade de aumento de produção de cafés despolpados, além de contar com a vantagem de possuir mão-de-obra mais barata.
Celso diz que a mão-de-obra tem baixa participação (6%) no custo de produção em sistemas altamente mecanizáveis. Sendo assim, "a produção nas áreas que se paga mais por mão-de-obra passa a ser insustentável", comenta.
Para o conilon, Guilherme Braga relatou que há grande capacidade de crescimento na produção, uma vez que a produção não atende a demanda.
Em relação a custo de produção, Celso Vegro afirmou que o custo de produção mensura o talento empresarial e permite determinar a proporção de produto a ser produzido. "O custo de produção não é formador de preço, ele é a soma de despesas + depreciações + seguro + outros custos que o produtor não vê sair do bolso".
Ele afirma que devido a fatores isolados que devem ser levados em conta para os cálculos de custo, os números divulgados são estimativas de custo. Nem sempre se sabe o real valor dos materiais, serviços e depreciações.
Em 2010/11 os custos deverão se manter elevados, uma vez que a colheita exigirá maior parcelamento na colheita divido à desuniformidade de maturação. "Muitos produtores serão pegos desprevenidos. Se as cotações não reagirem, ficamos receosos de que o Brasil não responda pela demanda mundial por café", finaliza Vegro.
José Roberto Correia Serra, diretor presidente da Companhia Docas do Estado de São Paulo - CODESP, abordou a questão dos desafios de transporte e logística no Brasil.
O porto de Santos é o maior exportador de café não torrado em grãos, torrado e solúvel. O café representa 8% das importações/exportações do total movimentado no porto. "O porto de Santos tem que aumentar sua estrutura para atender a demanda. Para os próximos 15 anos temos projetos que irão identificar áreas prioritárias para melhorar o processo logístico. Vamos prover infraestrutura para suprir a demanda", comentou Correia.
Para responder a pergunta: "Ouro Negro" compete com "Ouro Verde"?, José Luiz Marcusso, gerente geral da Petrobrás apresentou os investimentos e crescimentos da produção de petróleo no Brasil, concluindo que esse produto não deve competir com o café, uma vez que no Brasil há demanda e oportunidades para as duas commodities.
Fernando Honorato Barbosa, coordenador do Departamento Econômico do Bradesco, concorda que não existe competição entre petróleo e outras commodities no Brasil.
Fernando Barbosa apresentou a situação do crescimento mundial e as perspectivas para os próximos anos em relação ao mercado de café, se mostrando otimista. Ele acredita que os países emergentes tem grande capacidade de crescimento e irão puxar a economia mundial.
"Os países emergentes estão aumentando seu market-share e o Brasil tem vantagens em relação aos produtos que serão demandados como açúcar, café, leite e carne."
Barbosa afirma que o Brasil não tem problema de demanda mas precisa investir no mercado doméstico. "O grande desafio do próximo presidente é tentar lidar com a reforma tributária, diminuindo o tamanho de gastos correntes. O Brasil está fardado a crescer, na década, mas dependendo do ritmo dos gastos públicos essa alta pode ser prejudicada", analisa ele.
Neil Rosser, diretor geral da NKG Statistical Unit Ltda., apresentou dados sobre o consumo e demanda mundial de café e apontou também a questão dos baixos estoques de café no mundo. Ele analisa que a velocidade de queda nos estoques parece estar acelerando e apesar disso os preços não estão bons.
Rosser explica que a Colômbia está um desastre pois tiveram quebras de safra e não estão conseguindo recuperação, o que não deve melhorar até 2011. Ele comenta também as dificuldades e quedas de exportações de países da América Central e Peru. De forma contrária, a Indonésia tem trabalhado com aumento de produção e aumento de consumo, porém tem problema com produtividade baixa.
Como outros especialistas já apontaram, o consumo mundial está crescendo e a longo prazo vai precisar de mais café. Diante disso, Rosser destaca que o Brasil é um fornecedor que responde a demanda mundial de café e o mundo está desesperado para que continue fazendo isso.
No segundo dia de evento, Luiz Cláudio Caffagni, gerente de serviços em commodities da BM&FBovespa, falou sobre o mercado futuro e de opções de café, destacando que a participação das opções vem crescendo muito na BM&FBovespa. "Os contratos de opções são muito eficientes para o produtor rural".
As negociações de café na BM&FBovespa são realizadas por pessoas jurídicas (exportadoras, indústria, etc.) na proporção de 57%, sendo que apenas 7,3% é representada por pessoas físicas, mas com capacidade de aumentar essa participação.
Luiz Cláudio destaca que nos últimos anos a volatilidade do diferencial de preços do café brasileiro está descolando dos preços de NY. Ele analisa que quanto maior a volatilidade do diferencial, mais os exportadores precisam se proteger contra essas variações e para isso devem utilizar o mercado futuro.
A entrega de cafés brasileiros na Bolsa de NY vem sendo muito comentada e discutida nos últimos dias e o evento não deixou de discutir isso. Rodrigo Corrêa da Costa, vice-presidente de vendas institucionais da Newedge USA, relatou a situação dos estoques de cafés certificados em NY, apontando seu baixo nível e a grande quantidade de produto com idade média não desejável e de origem não desejável. "Cafés do contrato C não são cafés que todos querem e precisam", afirma ele.
Em Nova York, o café velho que não consegue comprador pode ser retirado da bolsa e enviado novamente para análise. Quando o café é aprovado recebe nova data, deixando de passar por café velho. Rodrigo comenta que a bolsa de NY utiliza algumas penalidade para evitar a reentrega de café.
O vice-presidente da Newedge USA afirma que a entrega de cafés brasileiros na bolsa de NY não vai interferir nas negociações da BM&FBovespa, uma vez que outro tipo de café será negociado. "Não devemos ter medo", finaliza ele.
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