Cafezinho de qualidade
Governo vai testar qualidade do produto vendido no mercado interno
O Brasil começa a levar a sério um dos seus mais tradicionais produtos de exportação e de largo consumo interno. O governo decidiu, afinal, assumir o papel que realmente lhe cabe como autoridade acima dos interesses econômicos, mas não contra eles: vai passar a testar e a classificar o café que é oferecido ao consumidor no mercado interno. Atualmente, há um controle feito pela associação que reúne e representa os industriais da torrefação e moagem, limitada aos filiados da entidade. O Ministério da Agricultura anunciou que já está treinando provadores e fiscais da qualidade do produto posto nas prateleiras dos supermercados de todo o país e já definiu parâmetros de exigências que passam a valer a partir de fevereiro do ano que vem.
Não será mais admitida a venda de café torrado e moído com mais de 1% de impureza. É um indicador de qualidade, que pode fazer muita diferença em relação à boa parte das marcas comercializadas hoje no país. Sabe-se que o controle feito pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) já encontrou e desclassificou produtos com graus de impureza de 5% a 25%. Os testes do governo vão medir também a presença de umidade no produto, que não poderá passar de 5%. Os fiscais vão pegar aleatoriamente os saquinhos postos no comércio e vão contar ou tirar pontos o estado de conservação do produto, aparência e odor, além da qualidade das informações da rotulagem, como a identificação do fabricante e prazo de validade. Essas exigências vão valer também para os cafés eventualmente importados. Os provadores vão considerar o aroma, a acidez e a finalização para apontar o gosto predominante da bebida. Os cafés vão receber pontos de zero a 10. A partir de quatro pontos, o produto será classificado como tradicional, superior e gourmet. Os que não acumularem no mínimo quatro pontos serão retirados do mercado, seus fabricantes serão notificados e, no caso de reincidência, poderão ter as indústrias fechadas pelo governo.
Maior produtor e exportador de café do mundo, o Brasil se prepara para colher uma das grandes safras da história da cafeicultura, até agora estimada em 47 milhões de sacas. Cerca de 75% da produção será de café arábica, de maior valor agregado por sua qualidade e aceitação no mercado mundial da commodity, o que deverá contribuir para consolidar a posição do Brasil no mercado do café comercializado em grão. Mas é para o consumidor brasileiro que as exigências de qualidade e a gradação definida por critérios técnicos respaldados pela autoridade governamental são mais urgentes. Basta lembrar que o brasileiro é o segundo maior consumidor mundial da bebida, depois apenas dos Estados Unidos. Este ano, o mercado interno vai movimentar R$ 7 bilhões para beber nada menos do que 19,5 milhões de sacas, um crescimento de 5% sobre o consumo do ano passado e de 47,7% em comparação com o de 2000. Mais do que justifica, portanto, a ação oficial de garantir ao consumidor da terra do café o elementar direito de saber o que está bebendo. E já vem com atraso a opção de pelo menos três níveis de qualidade, com alguma certeza de que se está pagando pelo conteúdo descrito na embalagem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário