Ainda que tenha elevado a volatilidade dos preços das principais commodities 
agrícolas negociadas pelo Brasil no exterior, o recrudescimento da crise 
financeira na Europa, sobretudo na Grécia, não teve forças para atropelar os 
fundamentos de oferta e demanda e determinar, sozinho, uma direção comum para 
esses mercados em abril.
Levantamento do Valor Data com base nas médias mensais dos contratos de segunda 
posição de entrega (normalmente os de maior liquidez) transacionados nas bolsas 
de Chicago e Nova York mostra que quatro dos oito produtos analisados (milho, 
trigo, açúcar e suco de laranja) encerraram o mês passado com ganhos em relação 
a março, enquanto a outra metade (soja, cacau, algodão e café) registraram 
quedas na mesma comparação.
Com esses resultados, seis das oito commodities (açúcar, café, cacau, soja, 
milho e trigo) fecharam abril com preços médios inferiores aos de dezembro de 
2009, enquanto apenas duas (suco e algodão) apresentam ganhos. Em relação às 
médias praticadas em abril do ano passado, soja, milho e trigo, negociados em 
Chicago, registram baixas, ao passo que as demais, referenciadas em Nova York, 
têm altas.
Conforme Vinícius Ito, analista da Newedge em Nova York, ainda que não tenha 
determinado resultados comuns - só altas ou só baixas - para as oscilações das 
commodities agrícolas em abril, a elevação das apostas de grandes fundos de 
investimentos, principalmente especulativos, no ouro, como parte de uma 
estratégia de defesa contra a crise europeia, ajudou a oferecer alguma 
sustentação às cotações.
A grosso modo, as carteiras de commodities desses fundos são divididas, com 
maior ou menor peso, por diversos produtos, e investimentos maiores em um deles 
podem ajudar a oferecer suporte aos demais. Eventuais ganhos com uma commodity 
também têm de ser reinvestidos para o capital não ficar parado. É um perfil 
diferente dos "commercials", investidores normalmente ligados ao setor e que 
mantêm lastros nos mercados físicos. Para esses, os fundamentos de oferta e 
demanda de cada segmento têm uma influência maior do que para os especulativos.
Em Nova York, foi uma combinação "financeiro-fundamental" que provocou forte 
erosão da cotação média do açúcar em abril na comparação com março. A safra 
brasileira começou e as perspectivas para a demanda global derraparam, 
combinação que naturalmente provocaria pressões "baixistas", mas uma liquidação 
especulativa maximizou a tendência - como também havia acontecido quando os 
fundamentos eram "altistas" e as cotações atingiram máximas em três décadas - e 
o tombo foi de quase 12%.
Com menos intensidade, combinação semelhante também derrubou os preços do suco, 
cuja cotação média de abril foi mais de 8% inferior a do mês anterior. Terminou 
o período durante o qual as baixas temperaturas na Flórida - que reúne o 
segundo maior parque citrícola do mundo, atrás do de São Paulo - ameaçavam os 
pomares, o que tirou sustentação dos preços, e fundos aproveitaram para 
desarmar posições, amplificando a baixa.
No mercado nova-iorquino de cacau, a expectativa de aumento da demanda mundial 
atraiu investimentos especulativos que chegaram a impulsionar as cotações ao 
maior patamar em 12 semanas. Ao fim e ao cabo, o preço médio dos contratos de 
segunda posição em abril ficou mais que 5% superior ao do mês anterior.
O algodão, por sua vez, foi influenciado pelos efeitos positivos do aumento da 
demanda da China e encerrou o mês com pequena valorização de sua cotação média 
- mas o suficiente para transformar o produto no de maior alta em relação à 
média de abril de 2009 (65,61%). O café, que completa o time dos principais 
produtos agrícolas negociados em Nova York que fazem parte do levantamento do 
Valor Data, permaneceu praticamente estável.
Na bolsa de Chicago, o mês passado marcou o início do "weather market" 
vinculado aos efeitos climáticos sobre o desenvolvimento da nova safra 
americana (2010/11). Como costuma definir Antonio Sartori, da corretora gaúcha 
Brasoja, é um período em que se negocia chuva, não grãos. E, pelo menos por 
enquanto, não há sinais de catástrofes, o que preserva as projeções de boa 
safra no maior player agrícola do planeta, como já indicara o primeiro 
levantamento do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) sobre as intenções 
de plantio naquele país.
Sendo assim, o milho encerrou abril com cotação média quase 3% inferior à de 
março, apesar dos sinais de que a China poderá elevar as importações do produto 
americano, que emergiram já no fim do mês. A mesma China que deverá ampliar as 
exportações de soja nos próximos meses, como indicou a respeitada publicação 
alemã "Oil World", e foi decisiva para garantir a alta de 2,7% do preço médio 
do grão em Chicago. O trigo, como o café, seguiu na mesma faixa de negociações 
praticada em março.
Os cálculos do Valor Data também mostram que o primeiro quadrimestre de 2010 
foi o de maiores preços médios desde 2000 para açúcar, cacau e algodão. Nos 
casos de café e soja, foi o segundo melhor, abaixo apenas da cotação média dos 
primeiro quatro meses de 2008; o suco perdeu para 2007.
 
 
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