Páginas

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Pesquisa identifica fungo associado ao café de boa qualidade

Pesquisa identifica fungo associado ao café de boa qualidade

Uma pesquisa coordenada pela pesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), a agrônoma Sara Maria Chalfoun, verificou que um dos micro-organismos encontrados no café, ao contrário dos demais, está associado a bebidas de boa qualidade. Trata-se do fungo Cladosporium cladosporioides, que ganhou o "apelido" de "fungo do bem".
Na ocasião da descoberta, Chalfoun, em parceria com o professor Carlos José Pimenta, da Universidade Federal de Lavras (Ufla), e com o então doutorando Marcelo Cláudio Pereira, atualmente bolsista de pós-doutorado do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia do Café (INCT Café), identificou que a antibiose é um dos mecanismos de atuação do C. cladosporioides. "Ele impede o desenvolvimento de outros micro-organismos pela capacidade de parasitá-los e de produzir metabólitos tóxicos. Além disso, o "fungo do bem" não promove fermentações lática e butírica típicas de outros fungos que prejudicam a qualidade final do produto", explica.
Os pesquisadores também descobriram que em plantações de café que recebiam tratamentos fitossanitários (uso de defensivos agrícolas para combate de pragas), o C. cladosporioides sofria redução drástica ou deixava de existir, não exercendo, assim, seu papel de bioprotetor. "Com isso, sentimos a necessidade de desenvolver uma formulação contendo o fungo, visando reintroduzi-lo ou equilibrar a sua população nas áreas cafeeiras", explica Chalfoun.
O primeiro passo foi isolar o C. cladosporioides, que, segundo a pesquisadora, possui o status de GRAS (Generaly Regarded Air Safe), isto é, não causa mal nem à planta nem ao homem. Em seguida, a equipe trabalhou no desenvolvimento e teste de formulações com o agente biológico, prolongando a sua vida sob condições de armazenamento e seu estabelecimento no campo.
O desenvolvimento da fórmula poderá atender a uma grande demanda de produtores que perdem qualidade no café, com problemas graves em diferentes regiões do país. "Ele pode ser uma ferramenta única, capaz de substituir o uso de produtos químicos que têm um apelo extremamente negativo", argumenta.
A fazenda Santa Helena, em Alfenas, testou o produto em março do ano passado. Margeada pela represa de Furnas, a lavoura sofria com alto teor de umidade e, consequentemente, com a proliferação de pragas. O uso de defensivos agrícolas acabou levando à extinção do C. cladosporioides. "Depois da aplicação do produto em 50 plantas verificamos a multiplicação do fungo, já ajudando no combate dos micro-organismos prejudiciais à qualidade do café e na melhora do gosto da bebida", relata o técnico em Agropecuária da fazenda, Paulo Sérgio da Silva.
O produto ainda não está à venda. A invenção foi patenteada em 2004 e está disponível como uma tecnologia em fase de transferência. Mediante pagamento de royalties para as instituições criadoras, empresas podem adquirir o direito de exploração e comercializá-lo. "Nossa expectativa é que o produto já esteja no mercado pronto para ser utilizado na safra de café de 2011", diz.
O agente bioprotetor surge como uma alternativa de tratamento. "Não existe produto similar, com possibilidade de proteger continuamente a qualidade do café", diz. De acordo com a pesquisadora, em 1,4 mil fungicidas (produtos que destroem fungos) registrados no país, apenas 16 são biológicos - 1,1% do total de defensivos. Para ela, a tendência é a redução cada vez maior do uso de fungicidas sintéticos, o que vem ao encontro de relevantes preocupações com a saúde e com o meio ambiente.
Uma fábrica de inovações
Para a manipulação e seleção do fungo, foi instalada, em 2007, uma biofábrica no Sistema de Incubadoras da Universidade Federal de Lavras (Ufla). Sua função é gerar produtos inovadores para serem empregados na agropecuária, na indústria alimentícia e no meio ambiente. Existem outras biofábricas em Itapetininga (SP) e em Vitória da Conquista (BA) que trabalham, principalmente, com produtos derivados do fungo Metarhizium anisopliae e Beauveria bassiana.
Na de Minas Gerais, já foram identificados micro-organismos capazes de garantir a proteção de cultivos, o controle de doenças e pragas, a absorção de metais existentes no solo, a solubilização do fosfato, a produção de enzimas e até a purificação da água utilizada na agricultura. "Estamos empenhados no desenvolvimento de métodos sustentáveis de melhoria de processos e produtos, com preocupações prioritárias como a segurança alimentar e preservação do meio ambiente", ressalta Chalfoun.
Para a implantação, os pesquisadores contaram com recursos provindos do Programa de Incentivo à Inovação da Universidade Federal de Lavras (Ufla) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), além da assessoria do Instituto Inovação. Também apoiaram a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) e a Prefeitura Municipal de Lavras. Recentemente, a biofábrica recebeu aporte de recursos provenientes INCT Café e do Programa Prime - Primeira Empresa Inovadora, da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

Nenhum comentário:

Postar um comentário