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terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Sinal de maior estímulo à demanda por café arábica

  O diferencial entre os preços internacionais do café arábica, de melhor qualidade e normalmente mais caro, e os do robusta já voltou a subir depois de atingir neste mês o menor patamar desde 2008 - 28,70 centavos de dólar por libra-peso na comparação entre os contratos para entrega em março e janeiro de 2014 nas bolsas de Nova York (arábica) e Londres (robusta), respectivamente. Esse "spread" é um importante termômetro para a arbitragem entre os papéis negociados nas duas bolsas e indica e para os quadros de oferta e demanda de cada espécie da commodity.

"Especuladores respondem mais rapidamente à abertura [aumento] e ao fechamento [redução] desse diferencial", afirma Moris Mermelstein, consultor da MM Commodities. Segundo ele, com um diferencial em torno de 30 centavos de dólar por libra-peso, considerado "muito estreito", a expectativa é que as torrefadoras alterem os blends [do café torrado e moído] e passem novamente a demandar mais café arábica e menos robusta. "Essa substituição vai alterar a oferta e demanda de cada variedade, o que fará com que o diferencial tenda a voltar ao normal", prevê.

Ele estima que o diferencial vai se situar em torno de 35 a 40 centavos de dólar por libra-peso. Trata-se de uma reversão da tendência ocorrida em 2011, quando os preços do arábica subiram demasiadamente e provocaram uma substituição do café mais nobre pelo robusta. Embora as perspectivas apontem para um maior uso do arábica, cuja substituição não é tão rápida, a demanda por café robusta continuará forte no curto prazo, conforme o consultor.

Uma indicação é que os estoques certificados na bolsa de Londres recuaram recentemente em cerca de 500 mil sacas (um terço do total) em um intervalo de 15 dias. A demanda é motivada pelo atraso na safra do Vietnã, que é o maior produtor e exportador mundial de café robusta, por questões climáticas e pela ocorrência de um tufão, além da retenção por parte dos produtores que recebem preços mais baixos pelos grãos ante o mesmo período de 2012. Um problema fiscal também agravou a situação. As exportações vietnamitas recuaram cerca de 30% em outubro e novembro em relação ao mesmo período do ano passado.

Entretanto, no médio e no longo prazos não deverá faltar café robusta diante das estimativas de mais uma safra volumosa no país asiático (2013/14). Tradings estimam entre 27 milhões e 30 milhões de sacas, e o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), 28,5 milhões de sacas. De acordo com Mermelstein, na indústria nacional a substituição de robusta por arábicas mais baratos (como os de bebida rio), vem ocorrendo mais rapidamente desde o mês de agosto deste ano. No mercado internacional, a troca é mais lenta, pondera, pois as torrefadoras têm mais dificuldade para mudar radicalmente os blends.

Para ele, outra indicação de que a substituição está acontecendo é a menor exportação global de robusta registrada pela Organização Internacional do Café (OIC) - 864.092 sacas a menos em outubro do que no mesmo mês de 2012, a queda mais significativa entre grupos de café como os naturais brasileiros e os suaves colombianos, conforme a entidade. Já Rodrigo Costa, diretor da Caturra Coffee, comercializadora de café com base em Nova York, não crê que vá ocorrer uma substituição significativa de robusta por arábicas de menor qualidade diante de um diferencial menor, a não ser em mercados não tradicionais importadores, como o Leste Europeu.

Segundo ele, Europa, Japão e Estados Unidos, tradicionais consumidores do grão, não fazem essa troca diante de uma situação pontual, por causa do risco de que isso afete a demanda. "É cultural". Ele afirma que o arábica mais barato não tem tanta absorção no mercado internacional. A indústria internacional de café, observa Costa, não tem tanta flexibilidade para mudar suas compras de matéria-prima como tem um trader, até porque as empresas costumam antecipar as aquisições da matéria-prima em quatro a cinco meses.

Para o diretor da Caturra, o diferencial "estreito" entre as duas espécies de café não vai perdurar. "Não é sustentável". Costa diz que, utilizando como parâmetro um arábica de pior qualidade, cuja diferença acaba sendo ainda menor que em relação ao robusta - o café entregue em Nova York é de boa qualidade (semilavado) -, acaba havendo uma distorção no mercado, que já foi "percebida". Daí o "spread" já ter diminuído. Costa prevê que o robusta continuará a ser muito demandado.

Mas o produto não terá força para subir, já que o Vietnã - que também tem "segurado" as vendas - terá de voltar ao mercado. Segundo ele, o arábica vai "sofrer" sem a ajuda do robusta e não vai conseguir subir sozinho. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou na sexta-feira a 4ª estimativa para a produção brasileira de café na safra 2013/14. Serão 49,15 milhões de sacas - 38,29 milhões de arábica e 10,86 milhões de robusta. O volume total é 3,3% inferior ao colhido na temporada 2012/13.

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