Preço do café desestimula investimentos
Com os preços do café arábica em curva descendente desde o segundo semestre de 2011, depois de atingirem mais de US$ 3 por libra-peso, a renovação dos cafezais e a ampliação de áreas em algumas regiões produtoras do país deverão ser reduzidas, assim como os tratos culturais. Não há, porém, expectativa de recuo de área para a próxima safra.
Em Minas Gerais, a mais importante região cafeeira do Brasil, a estimativa é que a renovação de cafezais deva cair 20% neste ano em relação a 2012, segundo Julian Silva Carvalho, coordenador técnico estadual da Emater-MG.
O especialista afirma que a produtividade da próxima safra também pode ser afetada pela redução dos tratos culturais, como a adubação dos cafezais. Entretanto, ele avalia que ainda é cedo para estimar o rendimento da próxima colheita, uma vez que as lavouras ainda estão em fase de floração.
Em seu levantamento mais recente, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estimou que as áreas de café em formação (que incluem renovação de cafezais antigos e áreas novas que entrarão em produção a partir de 2014) somam 302,287 mil hectares nesta safra 2013/14, um aumento de 8% em relação à safra passada - em 2001/02, eram 438,6 mil hectares.
Esse aumento ainda capta o efeito dos altos preços que prevaleceram até 2011, já que um cafezal leva de três a quatro anos para começar a dar frutos. Em outras palavras, apesar da crise de rentabilidade, os produtores podem ter "contratado" um aumento de produção para os próximos anos. Na avaliação de Silas Brasileiro, presidente do Conselho Nacional do café (CNC), a renovação dos cafezais está no mesmo ritmo do ano passado.
De acordo com a Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), entre agosto de 2012 e maio deste ano, houve redução de 18,98% nos preços médios de venda em diferentes polos nos Estados produtores de café e um aumento de 4,72% nos custos de produção. Em Guaxupé, no Sul mineiro, os produtores amargam um prejuízo líquido de R$ 178 por saca.
As cotações do arábica na bolsa de Nova York recuaram 20,35% desde o início do ano até o fim de setembro, segundo o Valor Data.
O passado recente mostrou que não houve redução significativa de área cultivada desde o início da última década, mesmo em períodos em que as cotações estavam em baixos patamares. Esse cenário deve se repetir. As erradicações de pés de café e abandono da atividade em Minas Gerais, responsável por mais de 50% da safra nacional, são pontuais, na avaliação de João Ricardo Albanez, superintendente de Política e Economia Agrícola da Secretaria de Agricultura do Estado.
A área mineira em produção tem sido mantida em cerca de 1 milhão de hectares nos últimos anos porque o custo para sair da atividade é muito alto, afirma Albanez.
Outro fator que evita o desmantelamento da produção é que muitos cafeicultores, além de diversificarem os cultivos na propriedade, sempre têm a esperança de que o mercado vai melhorar, como em 2011, quando a saca chegou a valer mais de R$ 500, observa Carvalho.
Mas os preços baixos da commodity afetam a abertura de áreas novas na cafeicultura. Na região de Unaí, no noroeste mineiro -que faz parte do Cerrado Mineiro - deve haver uma redução de 60% na demanda por mudas este ano, ante cerca de 6 milhões comercializadas em 2012 pelo Viveiro Sacoman, afirma Clésio Aparecido Sacoman, proprietário da empresa e também cafeicultor na região.
Os produtores fazem encomendas de mudas para plantá-las entre o fim de um ano e início do ano seguinte. Na região, conforme Sacoman, as mudas são usadas em sua maior parte para ampliação de área. Desde 2009 cerca de um mil hectares eram incorporados anualmente, diz.
Na região de Unaí, a renovação dos cafezais deverá começar a partir do próximo ano nas áreas com as plantas mais antigas -os cafezais ainda são relativamente novos, cultivados a partir de 1998 -, mas a decisão de renovar vai depender do mercado, que hoje está mais rentável para outras culturas como feijão, soja e milho, pondera Sacoman. "Os aventureiros deverão sair [do café]", afirma Sacoman.
O custo de produção, em torno de R$ 250 por saca, empata com o preço recebido, diz ele, que pretende manter sua área de café.
No Cerrado Mineiro, um dos principais polos de crescimento da cafeicultura brasileira, a atividade é altamente tecnificada, com mecanização e irrigação e tem a maior produtividade média de Minas - 29,2 sacas por hectare, ante uma média estadual de 25,2 sacas por hectare.
No oeste da Bahia, cerca de 1,5 mil hectares com café foram abandonados nos últimos dois anos por produtores que migraram para outras culturas, como a soja e algodão, de acordo com João Lopes Araújo, presidente da Associação dos Produtores de café da Bahia (Assocafé).
Mas a área total da região continua em torno de 15 mil hectares, mesmo número de dez anos atrás. "Tem gente plantando [café] e gente saindo. Uma cultura de 300 anos não pode ter julgamento por um ou dois anos de crise", avalia Araújo.
O presidente da Assocafé afirma que produtores capitalizados não estão preocupados com um ou dois anos de crise e continuam investindo na cultura. Mas admite que houve uma redução da expansão da atividade. O Estado da Bahia poderia produzir de cinco a seis milhões de sacas de café, mas continua com cerca de dois milhões, estima.
O plantio em áreas novas também deve ser menor em São Paulo, terceiro maior produtor nacional. A intenção de plantio de áreas novas de café em novembro de 2011 era de 4,363 mil hectares. O número caiu para 3,904 mil em julho deste ano, segundo cálculos de Celso Vegro, pesquisador do Instituto de Economia Agrícola (IEA), vinculado à Secretaria de Agricultura do Estado. Na mesma comparação, a intenção de renovação saiu de 2,896 mil hectares em 2011 para 2,404 mil este ano.
No Paraná, cuja área em produção caiu de 127,7 mil hectares em 2001 para 65,6 mil este ano, a situação foi agravada com as geadas deste inverno que atingiram as regiões produtoras.
Os impactos ainda serão mais bem avaliados neste e no próximo mês, mas a estimativa inicial é que cerca de 20% da área total com o grão no Paraná (em torno de 82 mil hectares) será erradicada, de acordo com o Departamento de Economia Rural. Segundo Paulo Franzini, coordenador do setor de café do Deral, nos últimos anos a renovação também era muito baixa no Estado, no máximo em 5% da área.
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