Café reverte mais uma baixa na ICE, mas não volta a testar 150 centavos
Os contratos futuros de café arábica negociados na ICE Futures US tiveram uma quarta-feira de quedas e reversão, com as cotações finalizando o dia com ligeiras altas, mas abaixo do nível psicológico de 150,00 centavos por libra. Ao longo da manhã, a posição março rompeu as mínimas estabelecidas na semana passada e bateu no menor patamar em 30 meses, com liquidações especulativas. No etnanto, essas baixas não tiveram fôlego mais efetivo e, paulatinamente, algumas recompras e aquisições de comerciais começaram a ser observadas, o que permitiu a desaceleração das perdas e a verificação de alguns ganhos, ainda que consideravelmente modestos.
Mais uma vez, o mercado vivenciou uma sessão técnica e com características bastante parecidas com aquelas já notadas ao longo das últimas semanas. Os baixistas continuam a ser mais efetivos, liquidam de maneira constante e conseguiram posicionar o março abaixo de um referencial psicológico dos mais importantes, como é o de 150,00 centavos por libra peso, ainda que o mercado se mostre claramente sobrevendido.
Por sua vez, os altistas continuam a perder força, numa derrocada iniciada ainda no distante maio de 2011 e, passo a passo, não conseguem segurar níveis efetivos de preço e têm de se conformar com preços nitidamente baixos, mesmo diante de um cenário de estoques limitados e de perspectiva de 2013 com uma disponibilidade notadamente baixa do grão.
Tecnicamente, o café se mantém baixista no curto, médio e longo prazos.
No encerramento do dia, o março em Nova Iorque apresentou alta de 75 pontos, com 149,10 centavos, sendo a máxima em 149,75 e a mínima em 146,35 centavos por libra, com o maio tendo valorização de 75 pontos, com a libra a 151,95 centavos, sendo a máxima em 152,40 e a mínima em 146,35 centavos por libra. Na Euronext/Liffe, em Londres, a posição janeiro teve alta de 4 dólares, com 1.881 dólares por tonelada, com o março tendo valorização de 5 dólares, com 1.886 dólares por tonelada.
De acordo com analistas internacionais, o dia foi caracterizado por dois momentos distintos: o primeiro, a marca de uma nova mínima recente em 30 meses; o segundo, com algumas recompras e a ação de comerciais, que consegiram inverter a tendência e garantir um ganho relativo, ainda que a posição março tenha operado, ao longo de todo o pregão, no lado negativo da escala. Enfim, o mercado opera sem novidades, baseado em algumas ações de caráter técnico e com a predominância dos baixistas, sem que uma recuperação efetiva pareça ser possível, dada a falta de fôlego dos compradores. "E diante disso, continuamos a trabalhar dentro de um viés baixista e sem a perspectiva de uma esperada correção. Pelo contrário, o mercado sofre e atinge novas mínimas, ainda mais tendo a pressão exterior para corroborar um quadro pouco animador", disse um trader. Ele se referiu a mais um dia de mercados macro negativos para algumas operações de risco, como as commodities, que recuaram diante de um cenário que teve bolsas de valores sem um direcionamento concreto nos Estados Unidos e dólar em alta em relação a várias moedas internacionais. No entanto, a moeda norte-americana caiu consideravelmente no comparativo com o real brasileiro e isso limitou algumas vendas mais efetivas da maior origem cafeeira.
Tecnicamente, o março na ICE Futures US tem uma resistência em 149,75, 149,90-150,00, 150,50, 151,00, 151,50, 152,00, 152,15, 152,50, 153,00, 153,15, 153,50, 154,00, 154,50, 154,90-155,00, 155,50, 156,00, 156,20-156,25, 156,50, 157,00, 157,15 e 157,50 centavos de dólar por libra peso, com o suporte em 146,35, 146,00, 145,50, 145,10-145,00, 144,50, 144,00, 143,50, 143,00, 142,50, 142,00, 141,50, 141,00, 140,50 e 140,10-140,00 centavos por libra.
Londres tem sessão calma e consegue obter ganhos ligeiros
Os contratos futuros de café robusta negociados na Euronext/Liffe encerraram esta quarta-feira com altas, em uma sessão de poucas novidades, volume apenas razoável de lotes negociados e com os preços se mantendo abaixo do nível psicológico de 1.500 dólares, sem, contudo, se "desgarrar" de próximo dessa marca referencial.
De acordo com analistas internacionais, ao longo da manhã, o janeiro chegou a buscar algumas baixas mais consistentes, mas falhou na tentativa de testar o nível de 1.850 dólares, tocando apenas a mínima de 1.854 dólares. A partir desse nível foram verificadas algumas recompras, o que permitiu a recomposição das cotações e até alguns ganhos ao final do dia, ainda que eles tenham sido apenas modestos. "Tivemos mais uma sessão técnica, sem grandes novidades. Uma tentativa inicial de baixa, uma retomada de compras e o fechamento se dando em alta, sem, contudo, se testar uma resistência mais que básica, como é o caso de 1.900 dólares. O mercado está consideravelmente calma, com o sentimento de fim de ano se aproximando e com muitos operadores muito mais focados em fechar as contas do exercício atual", disse um trader.
O dia na bolsa de Londres teve o contrato de café de janeiro com uma movimentação de 4,54 mil lotes, com o março tendo 2,30 mil lotes negociados. O spread entre as posições janeiro e março ficou em 5 dólares. No encerramento da sessão na Euronext/Liffe, a posição janeiro teve alta de 4 dólares, com 1.881 dólares por tonelada, com o março tendo valorização de 5 dólares, com 1.886 dólares por tonelada.
Medidas devem melhorar fluxo comercial de dólares já neste mês
O Brasil voltou a atrair dólares em termos líquidos no mês de novembro, mais do
que recuperando o saldo negativo de outubro. Novamente, os ingressos foram
sustentados pela conta financeira, enquanto as operações comerciais registraram
déficit.
No entanto, especialistas preveem uma melhora gradual nos fluxos via segmento
comercial, após o Banco Central flexibilizar as regras para antecipação de
recursos das exportações. Influencia ainda a percepção de que a alta do dólar
pode ter chegado ao limite, esfriando expectativas de mais ganhos do setor na
hora de converter moeda americana para reais.
Em todo o mês de novembro, o fluxo cambial foi positivo em US$ 4,876 bilhões,
maior valor desde abril, quando o superávit foi de US$ 6,588 bilhões, e mais do
que compensando o saldo negativo de US$ 3,823 bilhões de outubro. As operações
financeiras - que contabilizam investimentos em títulos, remessas de lucros e
dividendos ao exterior e investimentos estrangeiros diretos, entre outras
operações - tiveram superávit de US$ 7,262 bilhões, o maior desde julho do ano
passado (+ US$ 9,571 bilhões).
A conta comercial, por outro lado, seguiu negativa pelo terceiro mês
consecutivo com déficit de US$ 2,386 bilhões, o maior desde setembro de 2010 (-
US$ 2,989 bilhões).
De acordo com o economista da Tendências Consultoria, Bruno Lavieri, uma
análise mais profunda dos números pode explicar porque o governo decidiu
ampliar para cinco anos o prazo para que exportadores antecipem recursos das
vendas externas.
Os dados do BC mostram que a diferença no período de 12 meses entre o câmbio
contratado para exportação e o câmbio físico ficou negativa em US$ 15,195
bilhões. "Na prática, isso significa que os exportadores preferiram receber os
recursos lá fora em dólares e não internalizá-los, pois julgaram que o dólar
poderia subir ainda mais", explica Lavieri.
A diferença de novembro só perde para a de julho do ano passado, quando ficou
em negativa em US$ 16,278 bilhões. Nesse período, os exportadores também
acreditavam numa alta consistente do dólar, conforme o governo começou a
apertar o cerco contra a valorização do real, que na época operava nas máximas
desde a adoção do regime de câmbio flutuante, em 1999.
Segundo ele, essa percepção agora deve perder força, uma vez que o governo
inverteu a mão e passou a atuar para conter uma valorização excessiva do dólar.
"Com a impressão de que o dólar não deve passar mesmo de R$ 2,10, os
exportadores devem voltar a internalizar os recursos. Como o câmbio contratado
é registrado apenas na internalização, o seu valor deve aumentar, reduzindo o
saldo negativo da diferença com o câmbio físico", completa.
O economista-chefe do Rabobank Brasil, Robério Costa, não acredita que o BC, ao
alterar as regras para Pagamentos Antecipados (PA) no início do ano, previa que
a conta comercial poderia entrar em colapso. Mas concorda que a flexibilização
das antecipações dos recursos por esse instrumento sugere que o governo busca
melhorar a liquidez doméstica por meio da internalização desses fluxos. "Eles
estão fazendo ajustes, apertando os botões de acordo com a necessidade. Com
isso, o fluxo comercial deve melhorar a partir deste mês", estima.
Governo quis dar alívio a caixa de empresas
Com a alegação de dar um alívio no fluxo de caixa "apertado" das empresas e
bancos, o governo começou a desmontar medidas adotadas para conter o ingresso
excessivo de dólares no país e reduziu ontem de dois para um ano o prazo dos
empréstimos externos que estão sujeitos à incidência da alíquota de 6% de
Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Mas a medida também estimula a
entrada de dólares fazendo com que a cotação da moeda norte-americana fique
mais próxima dos R$ 2,10.
A alteração do IOF é complementar à decisão anunciada na terça-feira pelo Banco
Central, que ampliou para cinco anos o prazo entre a contratação de câmbio e o
embarque de mercadoria ou a prestação de serviços, por meio de pagamento
antecipado (PA). Os exportadores se utilizam do pagamento antecipado para
financiar a produção de bens e serviços destinados ao exterior, funcionando
como uma espécie de capital de giro.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, explicou que o objetivo do governo com a
redução do prazo das operações com incidência do IOF é baratear os custos das
captações, permitindo que as companhias brasileiras busquem lá fora recursos
para investimento e capital de giro. Segundo ele, "o câmbio é flutuante, não
tem limite". A avaliação dele é de que taxas de juros mais equilibradas dá
menos volatilidade à taxa de câmbio, reduzindo as intervenções do governo.
"O câmbio se estabiliza numa situação melhor, mais real, e precisa de menos
intervenção do governo", frisou o ministro. No mercado, a medida foi
considerada positiva, assim como as declarações do ministro que sinalizaram que
novos "alívios" no IOF poderão ser promovidos para estimular a entrada de
captação de externo. O ministro disse, porém, que o governo não pensa em
retirar outras "travas" do mercado de câmbio, mas destacou que como o mercado
"está ficando mais normal", em função da redução da taxa de juros, é possível
liberar algumas travas.
Para justificar a alteração do prazo de incidência do IOF, Mantega ressaltou
que, no passado, por conta das altas taxas de juros, o país atraía muito
capital especulativo e de arbitragem (investidores que captam recursos a taxas
mais baixas para aplicar em países com juros elevados). Agora, no entanto, a
situação é outra. "O que é captado lá fora hoje é para capital de giro e para
investimento."
"À medida que você tem uma taxa de juros aqui mais parecida [com exterior],
você diminuiu o apetite da especulação, o apetite da arbitragem. Então, o
recurso vem para a atividade produtiva. Então, você pode liberar mais porque o
mercado se equilibra melhor", emendou Mantega. Ele explicou ainda que a medida
do IOF "não tem nada a ver" com inflação, apesar dela ser sempre uma
preocupação do governo.
Seguindo o mesmo discurso, o secretário executivo adjunto do Ministério da
Fazenda, Dyogo Oliveira, disse que a mudança no IOF pode aumentar "um pouco" o
fluxo de capitais para o país, "o que não é ruim". Porém, repetiu que a
preocupação é com a capacidade das empresas de se financiarem adequadamente,
utilizando as captações externas para adequar seus fluxos de caixa. "As
empresas precisam de mais recursos com a atual conjuntura", reforçou.
Segundo Oliveira, "a medida do IOF junto com a das exportações vão contribuir
para reduzir o custo financeiro das empresas brasileiras". Essas ações têm mais
"a ver com o custo financeiro das empresas que com o câmbio".
Neste ano, a área econômica mudou o prazo dos empréstimos com incidência de
alíquota de 6% várias vezes. Em junho, reduziu de cinco para dois anos. Em
março, elevou os prazos, de dois para três anos e, menos de duas semanas
depois, de três para cinco anos.
`Política monetária dos EUA teve efeito bom para Brasil`
O bom desempenho das exportações brasileiras aos Estados Unidos e a ausência de
movimentos expressivos de investimento especulativo dos EUA no mercado
brasileiro são a prova de que a política monetária americana trouxe ao país
mais efeitos positivos do lado comercial que negativos do lado financeiro,
defende o subsecretário do Tesouro americano para Finanças Internacionais,
Charles Collyns.
A política de redução de juros e aumento da oferta de dólares nos EUA é acusada
pelo governo brasileiro de provocar desvalorização artificial da moeda
americana e prejudicar o Brasil com uma "guerra cambial".
"Numa época em que os investidores estão, em geral, com aversão ao risco,
cautelosos, não temos visto fluxos de capital particularmente grandes dos
Estados Unidos aos emergentes", disse. "A atração de capital no Brasil tem sido
feita mais por meio de investidores estrangeiros diretos que por fluxos de
portfólio", argumentou, em entrevista ao Valor, pouco antes de voltar aos EUA
após encontros com autoridades no BNDES, Ministério da Fazenda e Banco Central,
além de economistas do setor privado.
Os encontros com autoridades brasileiras são uma parte pouco visível do bom
relacionamento diplomático bilateral estabelecido há oito anos e mantido desde
o princípio do governo Dilma Rousseff. As trocas de informações não eliminam as
divergências, como as seguidas acusações do governo brasileiro contra a chamada
"guerra cambial", mas reduzem os pontos de atrito. Collyns, que escreveu
artigos contra a mão pesada na política de câmbio por parte de países do Leste
Asiático, chegou a listar argumentos em defesa da política cambial brasileira,
pouco antes de deixar o Brasil, terça-feira.
"O Brasil está claramente preocupado com movimentos excessivamente rápidos na
taxa de câmbio", disse, lembrando os efeitos da valorização do real sobre a
competitividade da indústria brasileira, nos últimos dois anos. "Nessas
circunstâncias, as autoridades tomaram ações para assegurar que os movimentos
de câmbio não fossem exagerados, foram sensíveis para responder a
circunstâncias difíceis". É uma situação diferente da dos países asiáticos, em
que a depreciação artifical do câmbio pode gerar medidas defensivas de outros
países criando uma "armadilha de crescimento baixo."
Collyns deixou o país antes da última medida do governo que removeu parte das
barreiras impostas à entrada de capital no país. Decreto presidencial reduziu
de dois para um ano o prazo dos empréstimos externos sujeitos à cobrança de
Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6%. Na terça-feira, o Banco
Central já tinha ampliado para cinco anos o prazo para antecipação de receitas
de exportações.
Ressalvando não ser especialista em economia brasileira, Collyns rejeitou as
avaliações que apontam uma mudança de rumos na política macroeconômica do país.
"Não houve grande mudança no arcabouço macroeconômico; os fundamentos ainda
estão no lugar." Ele atribuiu boa parte da frustração dos investimentos no país
às incertezas no cenário internacional, mas disse ter ouvido das autoridades
que a falta de definições no marco regulatório para infraestrutura é um dos
motivos que atrasam as decisões de investidores.
Collyns comentou ainda estar otimista em relação a um acordo em "duas etapas"
entre o governo Barack Obama e a oposição republicana para evitar o chamado
"abismo fiscal" - os cortes automáticos de despesa e extinção de benefícios
fiscais, em janeiro, que podem retirar cerca de US$ 600 bilhões de circulação,
ameaçando interromper a recuperação da economia. Os republicanos reconhecem que
a solução deve incluir medidas de aumento da receita, para reduzir o déficit
fiscal, e o governo aceita negociar cortes maiores nos programas de apoio
social, argumentou. Segundo o subsecretário do Tesouro, as negociações serão
"um tanto ruidosas", com aspectos de "teatro", mas confia alcançar um acordo
até 20 de dezembro.
Mercado já admite Selic abaixo de 7,25% em 2013
A possibilidade de o Banco Central voltar a cortar os juros em 2013 entrou no
radar do mercado e começa a ser incorporada às projeções dos economistas. Ainda
não há revisão generalizada de cenários, mas é consenso que a possibilidade de
mais queda da Selic cresceu após os dados recentes da economia.
Mas essa mudança de visão não vem acompanhada de ajustes para baixo nas
expectativas de inflação. A maioria dos especialistas ainda trabalha com o
Indice de Preços ao Consumidor (IPCA) acima de 5,50% em 2013, mesmo
considerando uma lenta recuperação da atividade.
Dos 19 profissionais ouvidos pelo Valor, o ajuste mais intenso foi feito pelo
Santander, que agora vê a Selic cair até 6,25% ao longo de 2013 e permanecer
nesse nível até o fim de 2014. O Nomura mudou a estimativa para o juro de 9%
para 8,5% no fim de 2013. Já Lecca e Icap passaram a trabalhar com estabilidade
da taxa no próximo ano, ante projeções anteriores de 8% e 8,25%,
respectivamente. Mesmo caso do J.Safra, que agora enxerga estabilidade da Selic
em 7,25% até o fim de 2014; antes o economista-chefe Carlos Kawall projetava
aumento de um ponto percentual da Selic após o fim de 2013.
Segundo o economista do Santander, Cristiano Souza, os dados da indústria ainda
fracos mostram que o Banco Central precisaria fazer mais cortes de juros. "Deve
haver uma recuperação, mas em ritmo mais lento do que se esperava". No novo
cenário do banco espanhol, o alívio monetário deve ser retomado em março,
quando já estiverem disponíveis dados do PIB referentes ao quarto trimestre de
2012 e os números da indústria do início de 2013.
O que ainda não está claro para o especialista é se esse quadro de atividade
mais lenta permitirá um alívio na inflação. Assim, as estimativas para o IPCA
estão em processo de revisão: para 2013, a projeção atual está em 6% e, para
2014, em 6,5% - teto da meta de inflação. "Estamos discutindo o que deve
acontecer, porque a inflação sentirá o efeito da atividade mais fraca, mas
também do câmbio desvalorizado", disse, lembrando que há ainda dúvidas sobre o
tamanho da redução da tarifa de energia elétrica esperada para o próximo ano.
Os demais analistas que mantiveram as previsões admitem que a política
monetária passou a ter um "viés de baixa", depois que os últimos dados de
atividade foram revelados, por meio do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro
trimestre e da produção industrial de outubro. "Parece que a preferência do
Banco Central é por manter o juro estável mais tempo, mas claro que o risco de
novos cortes dos juros aumentará à medida que outros dados de atividade ruins
forem divulgados", afirma David Becker, do BofA Merrill Lynch.
Ele diz que, mesmo com a possibilidade de um PIB mais baixo, o mais provável é
a Selic não ser alterada no ano que vem, mas voltar a subir em 2014, até
atingir o patamar de 8,75%. O economista cortou de 1,7% para 1,1% a previsão do
PIB em 2013 e de 4,2% para 3,6% no ano seguinte.
Para a economista da Icap Brasil, Inês Filipa, dados fracos da atividade têm
efeito negativo sobre a confiança de empresários e consumidores, o que afasta a
perspectiva de juro mais alto. Já o economista do Standard Chartered, Italo
Lombardi, mantém a previsão de Selic a 7,25% até o fim do ano que vem, mas
admite que a chance de um corte aumentou.
O que pode afetar o cenário é o risco de inflação, que pode ganhar contornos
mais preocupantes nos próximos meses. Becker, do BofA, lembra que há pontos de
atenção: piora na margem dos preços dos alimentos, possibilidade de a redução
da energia elétrica não vir na magnitude esperada e risco de reajuste dos
combustíveis em 2013, ainda não contemplado no cenário do BC.
A evolução do câmbio, nesse contexto, amplia as incertezas. Inês Filipa, do
Icap Brasil, estima que a desvalorização de cerca de 10% do real tem um impacto
sobre o IPCA de 0,35 a 0,45 ponto percentual em um prazo de 12 meses. "A
desvalorização este ano está ao redor de 15%, portanto o câmbio tem impacto
relevante sobre o IPCA de 2012". E Italo Lombardi avalia que o câmbio mais
desvalorizado pode influenciar esse cenário, mas marginalmente. "Podemos dizer
que o BC estaria menos disposto a cortar os juros se o câmbio desvaloriza muito
mais", acredita.
Na contramão da maioria, o sócio da Troster & Associados, Roberto Troster, que
comandou a equipe econômica da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) por
vários anos, avalia que os agentes de mercado vão rever os cenários de juros
baixos por causa da inflação nos próximos meses. Para ele, os índices de preços
não vão ceder, as pressões vão aumentar, e o governo terá que elevar juros ano
que vem. "Todo mundo errou nas projeções de atividade por causa do problema da
defasagem, que é difícil calcular", diz sobre o ritmo da reação da economia aos
estímulos monetários, tributários e fiscais já lançados pelo governo.
Troster diz que o problema da retomada de crescimento econômico não é a falta
de estímulos. "A cada rodada, eles perdem força", aponta. O gargalo, diz o
economista, está na política focada no curto prazo e intervencionista que tem
gerado incertezas e, assim, afetado a decisão de investimentos dos empresários
e executivos. "Não está vindo dinheiro para projetos novos".
Segundo os dados divulgados ontem pelo IBGE, a produção de bens de capital -
termômetro do investimento agregado na economia - recuou 0,6% entre setembro e
outubro, já com ajustes sazonais, a terceira queda mensal consecutiva. Em
relação a outubro de 2011, a produção de bens de capital caiu 5,8%.
Bovespa respira no final e fecha com alta de 0,2%
Pelo terceiro dia seguido, a bolsa brasileira teve um pregão de grande
volatilidade em função de indicadores econômicos - atividade do setor de
serviços (PMI) na Europa e criação de empregos (ADP) nos Estados Unidos -, além
das notícias sobre o "abismo fiscal".
No cenário interno, o setor elétrico voltou a sofrer por causa do início da
guerra de liminares entre empresas e governo, que carrega nos bastidores a
rivalidade entre o PSDB - partido que governa os Estados cujas empresas não
aceitaram renovar concessões - e o PT, da presidente Dilma Rousseff.
As medidas cambiais anunciadas pelo governo, o resultado da oferta de ações do
frigorífico Marfrig e as previsões pessimistas para a Usiminas feitas pelo
presidente da siderúrgica completaram o quadro local. O Ibovespa fechou em leve
alta de 0,20%, aos 57.678 pontos. O volume financeiro alcançou R$ 6,673 bilhões.
Em Nova York, o índice Dow Jones subiu 0,64%, para 13.034 pontos; o S&P 500
ganhou 0,16%, aos 1.409 pontos; enquanto o Nasdaq recuou 0,77%, para 2.973
pontos, sentindo a forte queda das ações da Apple (-6,4%). A Nokia, concorrente
da Apple no segmento de celulares, anunciou o lançamento de seu novo smartphone
O "abismo fiscal" não sai da cabeça dos investidores. A melhora do clima em
Wall Street a partir do meio da tarde, segundo operadores, ocorreu após as
agências de notícias informarem que cerca de 40 deputados republicanos se
juntaram a um grupo bipartidário para tentar destravar as negociações.
O presidente Barack Obama declarou que não é sensato tentar reduzir o déficit
do país por meio da limitação de deduções e da eliminação de brechas fiscais,
ao explicar por que rejeitou a proposta republicana. "É possível fazer,
teoricamente, mas não é possível ou sensato fazer como uma questão prática",
afirmou Obama a um grupo de executivos-chefes e líderes empresariais. Ele
também disse que um acordo pode ser alcançado em uma semana se os republicanos
aceitarem a ideia de impostos mais elevados para os mais ricos.
Voltando à Bovespa, a lista de maiores baixas trouxe JBS ON (-6,73%), Usiminas
PNA (-5,54%) e Eletrobras ON (-5,47%). Segundo operadores, as ações do
frigorífico sofreram correção por causa do resultado da oferta de ações do
concorrente Marfrig (-2,76%, a R$ 8,80). A empresa fechou na terça-feira sua
operação primária, ao preço de R$ 8,00 por ação, o que representou um desconto
de 25% sobre o fechamento de segunda-feira. Na abertura de ontem, Marfrig ON
chegou a liderar as baixas, com queda de 10,5%.
Já Usiminas caiu forte após seu presidente fazer previsões pessimistas. Julián
Eguren avisou aos investidores para não esperarem uma melhora significativa nas
margens da empresa nos próximos meses. A declaração colocou em xeque a
recomendação de compra feita em 12 de novembro pelo Goldman Sachs, que esperava
uma "virada operacional" da siderúrgica mineira. Investidores deixaram o papel
e compraram CSN ON, que subiu 1,83%.
Produtores seguram vendas à espera de reação no preço do café em MG
Com a chegada da entressafra do café, os produtores esperavam que o preço se mantivesse estável ou até com tendência de alta. Mas esse ano o mercado se mostra atípico. No sul de Minas Gerais, maior região produtora do país, os agricultores seguram as vendas à espera de uma reação do mercado. O agricultor Artur Queiróz de Souza produziu nesta safra quatro mil hectares de café em cem hectares de área plantada na propriedade em Cambuquira, no sul de Minas Gerais. O produtor negociou a maior parte dos grãos, mas mil sacas ainda estão armazenadas. A cautela do produtor para a comercialização do café está relacionada à desvalorização do preço da saca no mercado. De um ano para cá, o valor da saca do café tipo 6, bebida dura, caiu 33%. No ano passado, nessa mesma época do ano, havia 660 mil sacas armazenadas na cooperativa de Varginha, em Minas Gerais, onde está estocada a produção de cinco mil associados. Agora, estão guardadas 820 mil sacas, com um aumento de quase 20%. O gerente de vendas da cooperativa Marco Bíscaro diz que o volume de negócios está semelhante ao do ano passado, mas os produtores estão dosando a comercialização. “O produtor está vendendo na medida do necessário para cobrir as despesas e aguardando uma possível melhora nos preços nos próximos meses”, diz. “Primeiro, a crise da economia do Hemisfério Norte, que são os principais consumidores de café. A crise na zona do euro, a crise nos Estados Unidos e mesmo a economia que desenvolveu-se pouco no Japão devido a problemas climáticos. Isso faz com que os compradores hajam com cautela. Nós tivemos também uma falsa imagem no mundo de que existe excesso de café no Brasil, o que não é verdade. A nossa produção é a produção necessária para cumprir nossos compromissos de exportação e consumo interno. Também houve esse fato de que o produtor brasileiro está financiado, acredita no mercado. Ele vende só o café necessário para cumprir os compromisso”, diz o analista de mercado Eduardo Carvalhaes.
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