O caminho escolhido nos últimos anos para promover o crescimento econômico -
crédito - se tornou insustentável e pode levar o Brasil ao desastre. Ao lado de
outros emergentes, o País poderia conduzir a economia global a uma nova crise
financeira. O alerta é do BIS, o banco central dos bancos centrais, que neste fim de
semana reuniu os BCs de todo o mundo na Basileia.
Depois de anos de rasgados elogios à economia brasileira, o informe anual não
deixa dúvidas: o País já vive uma "desaceleração acentuada" e precisará agir com
urgência para mudar de rota. O BIS levanta a hipótese de que o endividamento no
Brasil já estaria em nível perigoso e vê riscos até de um boom imobiliário com
repercussões negativas no futuro. Alexandre Tombini, presidente do BC brasileiro,
esteve na reunião, mas se recusou a falar com a imprensa.
O BIS fez duas duras advertências. A primeira, aos países ricos: a injeção de
trilhões de dólares na economia inunda de forma perigosa os emergentes. "Isso cria
riscos nos emergentes similares aos que foram vistos nas economias avançadas nos
anos que precederam à crise."
O segundo recado chamou ainda mais atenção: ou os emergentes mudam de
modelo de crescimento ou verão a explosão de bolhas, com repercussão global.
Segundo o BIS, essas economias "enfrentam o risco de experimentar sua própria
versão do ciclo de expansão e estouro".
Para Jaime Caruana, diretor-gerente do BIS, os emergentes vivem um "crescimento
desequilibrado". Ele lembrou que esse cenário deixou "fortes danos nos países
avançados". A preocupação com os emergentes não ocorre por acaso.
Nos últimos quatro anos, eles foram responsáveis por 75% do crescimento global e
uma queda agora jogaria a economia mundial numa crise potencialmente pior que
a de 2008/2009. O BIS não disfarça a preocupação com o modelo da expansão
brasileira e aponta que o País registrou em três anos a quinta maior expansão em
créditos do planeta.
O crescimento médio de 13% foi três vezes superior ao aumento do Produto
Interno Bruto (PIB). Para o BIS, qualquer taxa que seja seis pontos porcentuais
acima da expansão do PIB é considerada insustentável. A diferença entre a
expansão de crédito e do PIB nos países emergentes está acima da tendência
histórica e, segundo o BIS, é um "presságio" de crise.
O BIS é claro: quer evitar que mercados como o do Brasil sofram em poucos anos o
mesmo drama da Europa hoje. Para isso, essas economias devem aproveitar que
ainda não entraram em recessão para reformar seus modelos de crescimento,
abandonando o modelo dependente de crédito e encontrar "fontes domésticas" de
expansão. "O modelo em muitos emergentes tem de mudar", disse Stephen
Cecchetti, economista-chefe do BIS. "Essas economias precisam tomar um caminho
sustentável." (Estado S.Paulo)
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