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sábado, 8 de outubro de 2011

O mercado de açúcar DANÇANDO CONFORME A MÚSICA

DANÇANDO CONFORME A MÚSICA
Arnaldo Luiz Corrêa


 O mercado de açúcar em NY fechou basicamente inalterado na semana. As variações foram pequenas: de uma alta de quase 2 dólares por tonelada no vencimento de 2014 e queda de 6 dólares por tonelada no vencimento outubro/2012. O mercado finge acreditar que a situação de aperto de oferta, que vai se aprofundar no começo do ano que vem e não vai encontrar solução adequada para os próximos 18 meses, de alguma maneira vai se arranjar ao longo do tempo. Bobagem. Os especialistas do setor (sem rabo preso com quem quer que seja) acreditam que o mercado só vai voltar ao custo e carrego em 2015. Ou seja, preços mais baixos nos vencimentos mais curtos e mais altos nos vencimentos mais longos – que só ocorrem com mercados em equilíbrio de oferta e demanda – não devem ocorrer no açúcar até 2014/2015. Façam suas apostas, senhoras e senhores.A entrega da semana passada trouxe algumas discussões interessantes: como disse um executivo do setor: “os baixistas falam que [o sumiço do Brasil] é porque não tem demanda! Os altistas apontam uma fila de navios no porto em quase 50% do ano passado e um prêmio no VHP de 120-135 uma falta desesperadora de produto, pois quem - com um prêmio de branco de 100 dólares por tonelada faz dinheiro no refino se realmente Índia, Tailândia e Rússia estariam exportando?”.  O real se recupera em relação ao dólar e isso deve elevar as cotações das commodities. As commodities metálicas tiveram uma boa semana. Das agrícolas, suco de laranja, algodão e milho, apenas, subiram.Quando falta notícia no mercado físico, o cenário macro faz a festa e o açúcar dança conforme a música. A discussão gira em torno do volume que o Brasil terá de cana para o próximo ano. A receita é simples: tenta-se criar um consenso em torno de um número e depois que ele tiver bem sedimentado, variações sobre o volume de cana a ser colhida trarão gemidos e ranger de dentes e lá vamos nós de novo.O ponto é que o mundo é tão dependente do número brasileiro que qualquer resfriado por aqui acaba provocando pneumonia no mercado. As oscilações vão ficar mais vibrantes. E a volatilidade vai ficar mais volátil.A posição de contratos em aberto em NY é extremamente inquietante. O volume atingido no final do mês passado foi de apenas 465.556 contratos, o mais baixo desde outubro de 2006. O volume de negócios também apresenta queda. Dificilmente vamos fechar o ano de 2011 acima de 2010 em contratos negociados. O ano passado a bolsa negociou 29,1 milhões de contratos de futuros no açúcar. Este ano, a projeção da Archer Consulting é de 26,4 milhões de contratos (uma queda de mais de 9% no ano). Menor volume nos futuros, significa menor volume também nas opções, menor volatilidade e menos participantes, que acabam causando menor volume, e por aí vai.Pela queda de volume, pode-se jogar a culpa de desempenho tão pífio à saída dos HFT (high-frequency traders), à diminuição do crédito para operações de futuros ou mesmo a atitude por parte dos participantes do mercado de trabalharem mais concentrados no curto prazo. E isso apesar de muito volume ter sido direcionado para NY de mercados que normalmente não tinham a bolsa como parâmetro de fixação de preços como, por exemplo, o mercado interno no Brasil, cuja grande parte do volume é fixada contra a bolsa de NY e algumas operações de etanol usando a curva do açúcar. Mas, pode-se apontar o dedo também para a crescente intervenção dos governos contra a participação dos fundos no mercado. Sem o especulador (que toma o risco que o produtor e o consumidor final não estão dispostos a tomar) os mercados minguam. A França, por exemplo, quer limitar a participação do especulador nos mercados de commodities agrícolas, levando proposta em reunião do G-20 para “combater a especulação”. Santa ignorância e ser paga pelo produtor, que é quem sempre paga a conta.No Brasil, a taxação de operações de derivativos imposta pelo governo brasileiro fez a participação dos investidores estrangeiros derreter para 4% do volume total comparativamente aos 25% que eles detinham. Essa é mais uma inestimável intervenção dos burocratas de Brasília para o desenvolvimento do incipiente mercado de derivativos agrícolas nacional. No dia que instituírem um prêmio Nobel para medidas idiotas, o Brasil será um fortíssimo candidato.Alguns traders comentam que a fixação para a próxima safra – 2012/2013 – estaria em torno de 35-40%. Vamos rodar o modelo da Archer Consulting – que tem estado bem próximo da realidade do mercado – dentro de mais duas semanas para ver se esse número faz sentido.  Uma provocação: se o quadro de oferta e demanda não parece ter condições de mudar, será que o spread outubro/2012-março/2013 não está barato demais? Gostaria de saber sua opinião.Tenham um bom final de semana
Arnaldo Luiz Corrêa

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