Tomas Okuda | Agência Estado
A cafeicultura brasileira, em particular de grãos arábica, comemora. O setor venceu o ciclo de baixa nos preços dos últimos sete anos apostando em qualidade e produtividade. \"Nenhum outro país conseguiu isso\", garante o pesquisador Celso Luis Vegro, do Instituto de Economia Agrícola (IEA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo. Desde o fim do Instituto Brasileiro do Café (IBC), no início dos anos 90, a produtividade média dos cafezais tem crescido na proporção de 1 saca de 60 kg a cada três sacas. \"É incomparável no mundo\", diz o pesquisador. Segundo ele, mesmo na crise, aflorou no Brasil um conjunto de cafeicultores altamente empreendedor. O ciclo de baixos preços não impediu que mostrassem dinamismo, investindo em tecnologia das mais avançadas.
Mais: os cafeicultores estão aplicando avançada tecnologia, como a irrigação branca. A ideia é utilizar gesso na terra antes do plantio do cafezal. Com isso, a planta tende a aprofundar as raízes, para cerca de 2 a 3 metros em busca de água, dispensando o uso de irrigação. O custo com gesso é praticamente zero, pois se trata de resíduo nas fábricas de fertilizantes, \"É claro que a tecnologia não é isolada. Deve fazer parte de um pacote e um dos elementos é a aplicação de gesso\", ressalta o pesquisador, ao comentar as técnicas que têm avançado no campo.
Ele ressalta, porém, que o Brasil carece de mecanismos que possam valorizar esse esforço empreendedor. Segundo o especialista, um dos maiores absurdos ainda em prática no País é a classificação dos cafés como \"bebida dura para melhor\". \"Isso não existe. A classificação define grãos bebida dura, mole ou extremamente mole. Classificar um café como bebida dura para melhor é uma forma pouco transparente de se apropriar, inclusive monetariamente, do esforço do cafeicultor em produzir um grão mais fino\", reclama.
Mesmo assim, o pesquisador acredita que o Brasil tem todas as condições para se transformar em uma plataforma mundial para o café. O País é o maior produtor e exportador mundial de café. Em breve, deve superar os Estados Unidos como maior consumidor global. \"Isso atrai a indústria mundial\", comenta.
Produção assegurada – Vegro considera que a safra de 2011, embora seja de ciclo baixo, por causa da bienalidade da cultura, não deve diminuir muito em relação à produção de 2010. Isso porque a amplitude de variação entre os ciclos tem diminuído, em grande parte em virtude dos ganhos em produtividade. Segundo ele, isso é favorável ao Brasil na relação com o comprador internacional, \"que sempre terá a garantia de oferta\".
Com relação aos preços do produto, Vegro estima que as cotações deverão permanecer alavancadas por pelo menos mais duas ou três safras. A questão da baixa oferta mundial não deve ser equacionada no curto prazo. \"O cafeicultor brasileiro deve aproveitar a boa maré para reformar cafezais, investir na produção, sanear dívidas para, nas safras seguintes, acumular capital, pois certamente virá um novo ciclo de baixa\", sugere.
O pesquisador comenta que o cafeicultor precisa ter a questão do endividamento solucionada \"seriamente\". \"O café tem condições de ocupar áreas da cana-de-açúcar, desde que o endividamento seja equacionado e a classificação \'duro para melhor\' seja eliminada\".
Vegro diz que o ciclo de baixos preços prejudicou o setor produtivo da Colômbia e da América Central, fazendo com que alguns cafeicultores abandonassem a atividade. O Vietnã tenta se equilibrar, embora venha enfrentando pelo menos dois anos de baixos preços. \"O Brasil é o único dos países produtores em que o ambiente é diferente, positivo\", conclui.
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