Espera pelo Fed mantém incertezas e dólar tem nova rodada global de queda
O dólar devolveu ontem parte de seus ganhos recentes e os títulos do Tesouro
dos Estados Unidos registraram um rali. Isso aconteceu os movimentos do mercado
continuaram sendo dominados pelas incertezas quanto ao provável alcance das
novas medidas de estímulo que deverão ser anunciadas pelo Federal Reserve (Fed).
A moeda americana caiu 1,1% ponderada pelo comércio exterior e recuou 1% em
relação ao euro, enquanto o rendimento do bônus do governo americano de 10 anos
caiu 5 pontos-base para 2,67%.
Na quarta-feira, o dólar e os rendimentos dos Treasuries haviam subido
bastante, depois que o mercado reduziu suas expectativas em relação a um novo
afrouxamento quantitativo, na reunião de política monetária que o Fed realizará
na semana que vem.
No entanto, analistas disseram ontem que o Fed desencadeou especulações de que
poderá anunciar aquisições consideráveis de ativos, após ter questionado
negociadores primários de bônus sobre a provável resposta do mercado às suas
ações.
"Esse não é um passo comum e as respostas vão ajudar o comitê de política
monetária a estimar melhor como medir e desenvolver suas atividades", disse
Andrew Wilkinson da Interactive Brokers.
Mas o Commerzbank disse: "Essa postura é no mínimo surpreendente, uma vez que
demonstra que o Fed parece estar querendo que as expectativas do mercado
determinem o tamanho das compras. Segundo essa lógica, se todos esperarem muita
coisa, o Fed terá que se esforçar ainda mais".
O rali dos preços dos Treasuries de 10 anos ocorreu depois de dois dias
seguidos de queda, em que o rendimento aumentou cerca de 14 pontos-base -
levando sua alta desde o patamar de baixa de 2,41% atingido este mês, para 30
pontos-base.
Ed Yardeni, da Yardeni Research, disse que o mercado vem emitindo uma mensagem
confusa para o banco central americano. "Será que o rendimento está subindo
porque a euforia inicial com o afrouxamento quantitativo está cedendo lugar
para temores de que o Fed não vá fazer o suficiente?", perguntou ele. "Ou os
rendimentos estão subindo por causa dos temores de que outra rodada de
afrouxamento venha a estimular a inflação? Estou mais inclinado para o segundo
ponto de vista."
Novas pistas sobre o que o Fed poderá fazer na reunião do comitê de mercado
aberto (FOMC) na semana que vem, poderão vir do número do crescimento do PIB no
terceiro trimestre, que deverá ser anunciado nesta sexta-feira.
Enquanto isso, o Banco do Japão (BoJ) se conteve na reunião de política
monetária de ontem, embora tenha remarcado a próxima reunião para um dia depois
da reunião do Fomc.
Julian Jessop, da Capital Economics, disse que isso levanta a intrigante
possibilidade de que o BoJ pretende responder a qualquer afrouxamento
quantitativo eventual pelos EUA, com um afrouxamento próprio.
"Se o Banco do Japão quer se esforçar mais para conter a valorização do iene,
ele poderá ser esperto e anunciar um aumento significativo em suas próprias
compras de ativos, na esteira de uma decisão do Fed", disse Jessop.
No entanto, Jessop reconhece que alguns funcionários do governo japonês estão
preocupados com a possibilidade do afrouxamento quantitativo alimentar bolhas
nos preços dos ativos, ou que ele represente a monetização da dívida do governo.
Na zona do euro, novas preocupações com o déficit fiscal voltaram a pesar sobre
os preços dos títulos de dívidas dos países periféricos da região - embora as
perdas tenham sido limitadas por rumores de que o Banco Central Europeu (BCE)
poderá retomar as compras de bônus.
Em Portugal, a incapacidade do governo e do principal partido de oposição de
chegarem a um acordo sobre o orçamento de 2011 do país, afetou o mercado,
aumentando o spread do rendimento dos papéis de 10 anos sobre os Bunds alemães
em até 20 pontos-base, para 362 pontos-base.
O spread irlandês-alemão chegou a 462 pontos-base, o maior em um mês, enquanto
os swaps de defaults de crédito irlandeses de cinco anos subiram 21 pontos-base
para 465 pontos-base.
Os mercados de ações globais tiveram dificuldades para progredir ontem, apesar
dos dados animadores sobre os pedidos de auxílio desemprego nos EUA e
relatórios de lucros corporativos bem recebidos na Europa.
Por volta do meio-dia em Nova York, o índice Standard & Poor's 500 (S&P 500)
caía 0,2%, com a ação da 3M recuando bastante depois que a companhia alertou
que os lucros de 2010 ficarão na ponta mais baixa das previsões feitas
anteriormente.
Os preços das commodities subiram moderadamente, em linha com o dólar mais
fraco. Os preços do petróleo bruto no mercado futuro ficaram acima de US$ 82 o
barril, enquanto o cobre subiu 1,2%. O ouro foi cotado em US$ 1.340 a onça no
fim dos negócios em Londres, bem acima do ponto mais baixo registrado no dia,
de US$ 1.323.
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