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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Aumento do consumo de café não sustenta empregos

Aumento do consumo de café não sustenta empregos


O consumo quase recorde de café em 2009 no Brasil não salvou empregos nas lavouras, mantendo uma sequência elevada de corte de postos de trabalho de anos anteriores. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), no ano passado foram eliminados 5.550 empregos do mercado de trabalho formal, na diferença entre admissões e demissões feitas no período, em empresas dedicadas ao cultivo de café.

Já o emprego nas indústrias de torrefação e moagem de café ficou praticamente estagnado, com só 89 vagas geradas em 2009. Só que, nesse período, a venda de café no mercado brasileiro atingiu um dos maiores patamares da história, com 4,65 kg, ou 78 litros, de café consumidos em média por habitante, segundo relatório da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). O recorde histórico de consumo de café foi atingido em 1965, com 4,72 kg do produto consumidos por pessoa. O volume de vendas aumentou 4,15%, entre novembro de 2008 e outubro de 2009, acima da previsão da entidade: de 3% de crescimento.

O principal motivo para o crescimento da venda de café no mercado brasileiro foi a melhoria da qualidade do café brasileiro que popularizou o consumo de formas mais elaborados do produto, como o expresso e o cappuccino, segundo o relatório. Só a Sara Lee, maior indústria de torrefação em atividade no país, que detém a marca de café "Pilão", cresceu 14% em volume de vendas no varejo, de acordo com Ricardo Souza, diretor de marketing da empresa. Ele credita a impulsão do consumo à fidelidade da classe C.

Porém, essa melhora no consumo interno não se refletiu em preços mais vantajosos nas vendas, o que resultou em um empobrecimento dos produtores, segundo os empresários. "O produtor continua vendendo abaixo do custo de produção. O reflexo disso é desemprego. Aquele produtor que tinha 10 funcionários fixos na fazenda, hoje tem 7", diz Breno Mesquita, presidente da Comissão Nacional de Café da Confederação Nacional da Agricultura (CNA).

"Tem produtores que estão derrubando plantio de café e plantando outras culturas", acrescenta o diretor-executivo da Abic, Nathan Herszkowicz. Empresários da indústria se encontraram com representantes do Ministério da Agricultura para pedir leilões de estoques de café da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) e linhas de crédito do Banco do Brasil.

Em carta de reivindicações, a Abic alega que há uma redução de margens de lucro por conta do crescimento da concentração do setor e da dificuldade crescente de negociar preços com o setor varejista, que também passou por uma intensa consolidação no ano passado.

Diante desse quadro negativo, mesmo com o crescimento da produção de café previsto para 2010, chegando a 46,8 milhões de sacas produzidas (821 toneladas), devem ocorrer mais demissões do que admissões no campo."Se continuar assim, com certeza vai ter demissão", diz Mesquita.

Souza, da Sara Lee, avalia que há uma tendência de consolidação no setor cafeeiro, que deve tirar empresas de menor porte do mercado: "Vão sobrar pequenos que focam em custo ou grandes empresas que oferecem cafés de qualidade".

A reportagem é do jornal Brasil Econômico, resumida e adaptada pela equipe CaféPoint.

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