Páginas

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Modos de adubação na zona da mata mineira

Ubiratan V. Barros, Roberto Santinato, José Braz Matiello e outros

Resumo — A cafeicultura da Zona da Mata de Minas Gerais é caracterizada pelo plantio em terrenos declivosos (montanhas), o que oferece dificuldade na operacionalização dos tratos culturais, entre eles a adubação, a qual é realizada manualmente; dessa forma, os produtores procuram adaptar modos diferenciados na sua execução. Assim, é comum observar produtores que enterram os adubos em covetas, ou sulcos, localizando-os, ou não, mais próximos ou longe dos caules das plantas, enquanto outros aplicam os fertilizantes em cobertura, a diferentes distâncias do tronco ou saia do cafeeiro. No intuito de avaliar o melhor modo de adubar o cafeeiro plantado em áreas montanhosas, instalou-se, no Centro Experimental de Café Eloy Carlos Heringer, em Martins Soares - MG, o presente trabalho. O ensaio foi montado em solo LVAh, com declividade de 20%, em lavouras de Catuaí 99, plantadas em fev/95, no espaçamento de 2,5 x 0,7 m, a 740 m de altitude, no delineamento em blocos ao acaso com três repetições, com parcelas de 12 plantas, sendo úteis as oito centrais. Verificou-se ligeira superioridade no modo de adubação em cobertura sobre o enterrado (42,75 contra 40,33 scs/ha); também apresentou superioridade a adubação dos dois lados da planta, em relação apenas ao lado de cima (46,02 contra 40,42 scs/ha), sendo o tratamento que localizou o adubo junto ao tronco o que resultou no pior desempenho, e isto mostra que a maior distribuição do adubo é vantajosa. Quanto ao local, a adubação na projeção da saia foi superior àquela sob a saia (47,71 contra 41,62 scs/ha). Portanto, pode-se concluir que mesmo em regiões montanhosas, como a Zona da Mata de Minas Gerais, o melhor modo de adubar o cafeeiro é a aplicação em cobertura, na projeção da saia em ambos os lados da planta, isto até a declividade de 20%, como no caso do ensaio.
Introdução — As lavouras de café instaladas em terrenos declivosos (montanhas) oferecem dificuldades na operacionalização dos tratos culturais, nutricionais e fitossanitários; dessa forma, os produtores procuram adaptar modos diferenciados na execução das operações, notadamente para as adubações químicas. Assim, é comum observar produtores que enterram adubos em covetas, ou sulcos, localizando-os, ou não, mais próximos ou longe do caule das plantas, enquanto outros aplicam os fertilizantes em cobertura, a diferentes distâncias do tronco ou saia do cafeeiro. Com o objetivo de avaliar o melhor modo de adubar o cafeeiro plantado em áreas montanhosas, instalou-se, no Centro Experimental de Café Eloy Carlos Heringer, em Martins Soares - MG, o presente trabalho.
Material e métodos — O ensaio foi montado em lavoura do cultivar Catuaí Vermelho (linhagem H 2077-2-5-99) no espaçamento de 2,5 x 0,7 m, plantado em fev/95, a 740 m de altitude, em LVA h distróficos, com 20% de declividade. Os tratamentos foram os modos de adubação a lanço, por cima das plantas; enterrado, na projeção da saia do cafeeiro, apenas no lado de cima da planta, e também dos dois lados da planta; a lanço, na projeção da saia do cafeeiro, somente no lado de cima da planta e também dos dois lados desta; a lanço, sob a saia (entre o tronco e a projeção da saia) do cafeeiro, somente no lado de cima da planta e também dos dois lados desta; e localizado, no tronco do cafeeiro. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, com três repetições, em parcelas com plantas, sendo úteis as oito centrais.
O plantio foi efetuado com 200 g da fórmula 00-18-00, mais Zn, B e Cu, e 150 g de calcário dolomítico por cova. As adubações de formação e produção foram realizadas em número de 4 - parcelamento no 1o ano e 3 do 2o ao 6o ano, utilizando a fórmula 20-05-20, nas doses de 625 kg/ha no 1o ano, 1.250 kg/ha no 2o ano e 2.000 kg/ha do 3o ao 6o ano, sendo os modos de aplicação dos adubos descritos nos tratamentos. Os demais tratos foram aqueles usualmente indicados pelo MA/PROCAFÉ para a Zona da Mata de Minas Gerais.
Resultados e discussão — Segundo SIVEIRA et al. (1979), na adubação do cafezal em cobertura (seja à máquina ou manual) apresenta melhor resultado a adubação enterrada. Nas condições do ensaio, a adubação em cobertura apresentou ligeira superioridade sobre a adubação enterrada (Quadro 2), sendo 42,75 scs/ha contra 40,33 scs/ha, respectivamente. Embora possa haver um pouco de perda por volatilização, principalmente do nitrogênio, na adubação em cobertura, em relação à adubação enterrada, o efeito depressivo no desenvolvimento do cafeeiro resultante do corte das raízes da planta para se proceder ao enterro do adubo, é superior ao benefício da menor perda por volatilização.
A adubação na projeção da saia do cafeeiro apresentou produção superior à adubação sob a saia (Quadro 4), sendo 47,71 scs/ha contra 41,62 scs/ha, respectivamente. Provavelmente, na adubação sob a saia do cafeeiro, por estar o adubo mais protegido da incidência dos raios solares (redundando em menor temperatura), a volatilização é menor, e, também por estar mais embaixo da planta, a absorção da amônia volatilizada tende a ser maior; no entanto, mesmo a adubação na projeção da saia apresentando, provavelmente, maior perda por volatilização que a adubação sob a saia, a primeira forma apresentou melhor resultado que a segunda, pelo fato de o sistema radicular do cafeeiro possui, normalmente, mais raízes absorventes (radicelas) na projeção da saia, o que promove melhor aproveitamento do adubo da solução do solo. Portanto, diante dos resultados do trabalho, pode-se afirmar que, provavelmente, o fato de a adubação na projeção da saia produzir mais que a adubação sob a saia é decorrente da maior perda por percolação dos nutrientes na segunda maneira de se adubar a planta, em relação à primeira, a qual é mais significativa que a perda por volatilização.
NEPTUNE et al. (1974), efetuando pesquisa com fósforo radioativo (P 32), concluíram que, em cafeeiros de 3 a 5 anos, a zona de maior absorção está situada até 30 cm lateral e 15 cm de profundidade e 60 cm lateral à profundidade de 30 cm; para cafeeiros de 7 anos, a absorção maior se da até 60 cm lateral à profundidade de 15 cm; já para cafeeiros de 9 anos, vai desde a profundidade de 5 cm até 30 cm e distância lateral de até 60 cm.
SANTINATO et al. (1984), estudando o modo de adubação de potássio, concluíram pela superioridade da adubação em ambos os lados do cafeeiros na projeção dos ramos laterais, em relação à adubação sob a saia em toda a volta da planta, e enterrada a 15 cm na projeção dos ramos.
VIANA et al. (1989) não encontraram diferença estatística em relação aos diferentes locais onde o adubo foi aplicado, notando apenas ligeira superioridade na adubação entre as plantas de café. A explicação do autor para o fato foi a montagem do ensaio em lavouras já adultas, as quais já haviam recebidos várias adubações anteriores.
AMARAL et al. (2000) concluíram que houve tendência de quanto mais localizado o adubo fosfatado na cova de plantio, menor seu efeito benéfico na formação do cafeeiro e, conseqüentemente, menores foram as primeiras produções desses tratamentos.
No ensaio, a adubação com 20-05-20, dos dois lados da planta apresentou melhor resultado que a adubação apenas do lado de cima - 46,02 contra 40,42 scs/ha (Quadro 3). A explicação para o fato está no clássico trabalho de FRANCO (1983), o qual plantou mudas de café com raízes bifurcadas, sendo colocada uma raiz em cada um dos lados dos vasos de 2,0 L dividido ao meio; depois disso, o autor adubou com N, P e K apenas um dos lados dos vasos e analisou o teor destes elementos nas folhas de ambos os lados da planta. Os resultados mostraram que há translocação lateral dos nutrientes N, P e K no cafeeiro, porém esta não é perfeita, e as folhas do lado da planta que não receberam nutrientes apresentaram apenas 45, 52 e 68% de N, P e K, respectivamente, em relação ao lado adubado.Portanto, quanto maior a distribuição do adubo, mais uniforme é o teor dos nutrientes nas folhas da planta e, conseqüentemente, maior será sua produção.
Conclusões
* Todos os modos de adubação em que se colocaram os adubos mais localizados, seja junto ao tronco ou enterrados em sulcos, reduzem a produtividade, em relação à adubação em cobertura com o adubo espalhado.
* Modo de adubação mais eficiente, técnica e economicamente, para a região da Zona da Mata de Minas Gerais, em locais com declividade até 20%, é a aplicação em cobertura, na projeção da saia e em ambos os lados do cafeeiro.
Referências bibliográficas
AMARAL, A.S.; BARROS, U.V.; BARBOSA, C.M. & MATIELLO, J.B. Modo de aplicação e granulometria do superfosfato simples usado na cova de plantio do cafeeiro. In: CBPC, 26, Marília-SP, 2000. p.63-64.
BARROS, U.V.; SANTINATO, R.; MATIELLO, J.B. & BARBOSA, C.M. Comparação de modos de adubação do cafeeiro nas regiões montanhosas da Zona da Mata de Minas Gerais. In: CBPC, 26, Marília-SP, 2000. p.41-43.
FRANCO, C.M. Translocação lateral de N, P e K no cafeeiro. In: CBPC, 10, Poços de Caldas-MG, 1983. p.1-2.
NEPTUNE, A.M.L.; MURAOKA, T. & LOURENÇO, S. Distribuição do sistema radical do cafeeiro utilizando 32 P. In: CBPC, 2, Poços de Caldas-MG, 1974. p.303-304.
SANTINATO, R.; BARROS, U.V.; GUEREIRO, J.P.F.; 7 SILVA, O.A. Modo de adubação e fornecimento de potássio ao cafeeiro em produção. In: CBPC, 11, Londrina-PR, 1984. p.83-85.
SILVEIRA, G.M.; FUJIWARA, M. & FENZ, E. Métodos de aplicação de adubos em cafezal. In: CBPC, 7, Araxá-MG, 1979. p.130-132.
VIANA, A.S.; FLORENCE, M.L.; & GARCIA, W.R. Modo e local de adubação para cafeeiros em solo Led. In: CBPC, 15 Maringá-PR, 1989. p.134-137.
Ubiratan Vasconcelos Barros é pesquisador do Centro Experimental de Café "Eloy Carlos Heringer", Roberto Santinato e José Braz Matiello são pesquisadores do Procafé do Ministério da Agricultura.
Fonte: II Simpósio de Pesquisa dos Cafés do Brasil - Setembro de 2001.
QUADRO 1 — Produção média anual de cinco safras em cafeeiros sob diferentes modos de adubação. Martins Soares-MG. 2001
Tratamentos
(modos de adubação) Média de 5 safras (scs/ha) Rel. %
Projeção da saia dos dois lados da linha 52,58 A * 123
A lanço, por cima da planta 43,57 A B 102
Sob a saia, dos dois lados da linha 43,44 A B 101
Projeção da saia,apenas do lado de cima dalinha 42,84 A B 100
Enterrado em sulco, dos dois lados da linha 42,03 A B 98
Sob a saia, apenas do lado de cima da linha 39,79 A B 93
Enterrado, apenas do lado de cima da linha 38,64 A B 90
Localizado, no tronco 34,29 B 80
* Médias seguidas de mesma letra não se diferenciam entre si pelo teste Tukey a 5% de probabilidade.

QUADRO 2 — Comparação entre os tratamentos enterrados e aqueles em cobertura
Modo de adubação Média de 5 safras (scs/ha) Rel. %
Aplicação em cobertura 42,75 106
Aplicação enterrada 40,33
100
QUADRO 3 — Comparação entre os tratamentos onde o adubo foi aplicado dos dois lados da planta e onde foi apenas do lado de cima
Modo de adubação Média de 5 safras (scs/ha) Rel. %
Aplicação 1 lado 46,02 114
Aplicação 2 lados 40,42 100

QUADRO 4 — Comparação entre o local de aplicação do adubo
Modo de adubação Média de 5 safras (scs/ha) Rel. %
Aplicação na projeção da saia 47,71 115
Aplicação sob a saia 41,62 100




fonte www.cafezinhocomamigos.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário